Uma das primeiras vítimas de uma onda eleitoral como a que vivemos em Santa Catarina em 2018 é o voto regional. Ao escolherem o 17 como catalisador de um sentimento de renovação quase completa no rastro da candidatura presidencial de Jair Bolsonaro (à época no Psl) na última eleição estadual, os catarinenses deixaram de lado conceitos geralmente muito caros e necessários para a composição política.
Um exemplo evidente: Blumenau ignorou completamente os ex-três prefeitos que eram candidatos a governador (Décio Lima, do Pt) e vice-governador (João Paulo Kleinübing, do Democratas, e Napoleão Bernardes, do Psdb) naquela disputa ao descarregar 40% de seus votos no misto de florianopolitano e tubaronense Carlos Moisés, com Daniela Reinehr, de Maravilha, como vice. No segundo turno, esse patamar chegou a 77%.
A mistura de ressaca de onda eleitoral com entressafra de lideranças que Santa Catarina está deixando o cenário da sucessão mais aberto do que de costume, mas é certo que o peso das regiões na definição das chapas voltará a influir na conta das composições e também na postura do eleitor. Aposte nisso.
Por isso é curioso observar quem pode ter o poder de mobilizar uma região em torno de si para viabilizar-se como candidato em 2018. Por enquanto, a única figura que parece ter esse potencial é o prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro (Psdb), que vem alcançando índices de votação acima dos 70% na última década na cidade. Na semana que passou foram nítidos os movimentos no Sul para que o tucano apresente-se para um jogo que tem ignorado. Até agora, ele garante que não renuncia e que apoia Gelson Merisio (Psdb), ex-deputado estadual e candidato derrotado ao governo em 2018.
Clésio foi incentivado pelo presidente da Associação Empresarial de Criciúma (Acic), Moacir Dagostin, e até pelo ex-governador Eduardo Pinho Moreira (Mdb), antigo adversário. Entendem que não é hora de deixar o cavalo passar encilhado. Importante observar que outros postulantes de apelo regional, como os prefeitos Gean Loureiro (Democratas), de Florianópolis, e João Rodrigues (Psd), de Chapecó, não tiveram patamares tão robustos de votação em 2020 e vivem cenários mais complexos nas suas regiões. Antídio Lunelli (Mdb), prefeito de Jaraguá do Sul, deve ter os votos locais, mas precisa de mais impulso regional, especialmente de Joinville, que ainda não provou ter.
O voto regional em Santa Catarina às vezes pode até derrubar um favorito e segurar uma onda eleitoral. Foi o que aconteceu em 2002. Ainda antes de ser confirmado candidato do Pmdb, Luiz Henrique da Silveira garantia que sairia de Joinville, onde renunciara à prefeitura no segundo mandato, com 100 mil votos de vantagem sobre o então governador Esperidião Amin (Ppb). Abertas as urnas, além de força do candidato à reeleição, houve a surpresa da votação de Lula para presidente carregando os candidatos petistas.
Por uma diferença de apenas 84,2 mil votos o petista José Fristch não ultrapassou LHS e ficou com a vaga no segundo turno contra Amin. Número pouco inferior à vantagem do peemedebista sobre o petista em Joinville: 87,5 mil. Sobre Amin foram 108,6 mil, um pouco mais do que prometera na pré-campanha. No segundo turno, ainda assim, o confronto entre LHS e Amin seria acirrado, decidido por apenas 20,7 mil votos. A diferença em Joinville foi mais uma vez fundamental: 126,7 mil contra uma vantagem de 35 mil votos para Amin em Florianópolis.
A força da Onda Lula em 2002 foi tão grande quanto a Onda Bolsonaro em 2018. Elegeu até mais deputados estaduais e federais (nove petistas na Alesc e cinco em Brasília), além de emplacar Ideli Salvatti no Senado. Foi o voto regional e a vinculação explícita e engajada do eleitor joinvilense com a candidatura de seu líder local que impediu Fritsch de ser um Moisés de uniforme petista no governo do Estado. Cada eleição é uma, cada onda é uma, cada liderança tem seu peso e sua época. Santa Catarina não tem hoje quem bata no peito e diga “largo com 100 mil na frente em casa”. Mas certamente o voto regional deverá ser um componente importante na próxima disputa.
Sobre a foto em destaque:
Luiz Henrique dizia, quando ninguém acreditava, que largava com 100 mil votos de vantagem em Joinville. Dos nomes ventilados para 2022, Clésio Salvaro (Psdb) em Criciúma é o que mais assemelha em potencial de voto regional. Foto: Flickr do mandato de Luiz Henrique da Silveira, sem indicação de autoria.