A vitória com boa margem de votos do prefeito interino André Vechi (Democracia Cristã) na eleição suplementar pela prefeitura de Brusque traz constatações e indicativos que devem ser observados com atenção por toda a política catarinense. A primeira eleição direta em Santa Catarina depois da nova onda bolsonarista em plano estadual, em 2022, é o primeiro termômetro sobre o possível impacto eleitoral das lideranças ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a força que o PL do governador Jorginho Mello deve ter nas 295 disputas eleitorais pelas prefeituras catarinenses ano que vem.

Por mais que Brusque tenha suas particularidades, como toda cidade, é inegável que o cenário eleitoral apresentado nesta disputa suplementar é mais que reconhecível: três candidaturas disputavam o eleitor bolsonarista e antipetista, enquanto o PT tentou usar a fragmentação dos adversários para prevalecer. Na eleição estadual, essa divisão de candidaturas de centro-direita e direita ajudou Décio Lima a chegar ao segundo turno com apenas 17% dos voto. O sonho petista em Brusque era vencer q disputa com um quarto dos votos. Paulo Eccel, ex-prefeito e ex-deputado estadual, fez 22% e ficou em terceiro lugar, longe dos 40% do eleito André Vechi.

Ou seja, as esquerdas vão precisar mais do apostar nos nomes de sempre e na fragmentação do outro lado para ter sucesso. O momento continua sendo de reconstrução e formação de novos quadros conquistando vagas em Câmaras de Vereadores. O segundo lugar de Décio em 2022 não pode afetar discernimentos e nem inflar demasiadas a autoestima dos dirigentes.

Por outro lado, o PL pode comemorar. Na prática, André Vechi é o mais novo prefeito do partido no Estado. Eleito vereador pelo nanico Democracia Cristã (aquele do Ey-Ey-Eymael), ele estava na presidência da Câmara de Vereadores quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou o mandato de Ari Vequi (MDB) – que não é seu parente – e determinou a nova eleição. Interino, Vechi aproveitou o período no cargo de prefeito para se apresentar como um político antenado às novas formas de comunicação, especialmente em suas redes sociais, e para construir a aproximação com o PL que lhe garantiria a vitória contra os petistas, mas contra as forças tradicionais da politica da cidade. Esse é o grande embate que teremos em 2024 em Santa Catarina.

O PL de Jorginho Mello abraçou Vechi, oferecendo o candidato a vice-prefeito e com engajamento pleno na campanha. Uma articulação protagonizada pela deputada estadual Ana Campagnolo (PL), importante dizer. Ficou muito claro para o eleitor bolsonarista quem era o candidato deles, mesmo com o Progressistas de Alessandro Simas utilizando até o senador Esperidião Amin para pedir a Bolsonaro que não gravasse vídeo de apoio ao candidato do DC, que deve migrar para o PL nas próximas semanas. Simas fez 26% dos votos, ficando em segundo lugar.

Candidato do cassado Ari Vequi, o ex-secretário Ricardo Molina (MDB), ficou em último lugar com minguados 7% dos votos. A candidatura emedebista apostou que o eleitor poderia aderir a um sentimento de injustiça pela cassação do ex-prefeito pelo apoio ostensivo do empresário Luciano Hang, das Lojas Havan, que foi considerado abuso de poder econômico pelo TSE. Trouxe o ex-secretário para a disputa, rebatizado como “Molina do Ari”, apostou na vinculação com Hang – que ficou prudentemente calado dessa vez – e, através dele, ao bolsonarismo. Fica uma lição que o MDB catarinense deveria tatuar para nunca esquecer: o MDB não ganha nada quando tenta ser bolsonarista, porque bolsonarista não gosta do MDB.


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Um resumo da eleição de Brusque: André Vechi, com apoio de Jorginho Mello, sob olhar de Ana Campagnollo, à direita. Foto: Divulgação.

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