O ex-governador Carlos Moisés (Republicanos) vestiu, sem ressalvas, o uniforme de líder da oposição ao governo de Jorginho Mello (PL). Ele aproveitou o estilo descontraído do Parlatório, na Rádio Som Maior, para não apenas alfinetar o sucessor, mas também fazer críticas políticas para além do discurso costumeiro. Um dos principais pontos da conversa comigo, Adelor Lessa e Maga Stopassoli, na noite de segunda-feira, foi quando além de dizer que Jorginho paralisou as obras e os repasses a prefeituras previstos em sua gestão para “fazer caixa”, deu um número robusto e impressionante para o suposto gesto:
– O governo atual está guardando dinheiro, deve ter uns R$ 6 bilhões em caixa. Eram R$ 5,7 bilhões que a gente tinha de informação. Era muito dinheiro. O governo não inova, não faz nada de novo, troca de nome as coisas, como fizeram agora com o pix e, por não inovar, não tem o que avaliar. Não avança. Faz as cirurgias que nós pactuamos. São oito meses e a gente não vê novidades e tem obra parada – disse o ex-governador.
Moisés também ironizou o programa de revitalização das rodovias estaduais – o Estrada Boa – dizendo que as obras são as mesmas que o atual governo mandou parar quando assumiu em janeiro. Negou que 90% dos contratos de obras de seu governo herdadas por Jorginho tivessem problemas – fala do secretário-adjunto de Infraestrutura, Ricardo Grando (PL). Rebateu, dizendo que a atual gestão está diminuindo a qualidade das obras.
– Vai lá, faz asfaltinho fino, tira ciclofaixa, e já começa a ter problema no ano seguinte. É um governo de narrativas, mas que elas muitas vezes iludem as pessoas – disse Moisés.
É curioso Moisés nem precisar se esforçar muito para assumir as roupas e as armas de líder da oposição ao governo Jorginho Mello. Não há desafiantes. As esquerdas, adversárias naturais de um governo eleito pelo PL e a bordo da popularidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) entre os catarinenses, elas parecem tímidas em assumir esse papel. Uma ou outra fala do presidente nacional do Sebrae, Décio Lima (PT), adversário do governador no segundo turno de 2022, críticas pontuais (bem pontuais) no parlamento (que não impedem a presença de deputados esquerdistas em eventos do governo) e alguns tuiteiros franco atiradores.
Nos bastidores, no jogo político das articulações, o adversário mais claro do PL é o PSD de Júlio Garcia e Eron Giordani. O partido vai filiando nomes que potencializem o papel da legenda nos maiores centros eleitorais do Estado, mostrando uma estratégia de crescer em 2024 para chegar forte em 2026. É um jogo de morde e assopra, especialmente na Assembleia Legislativa, não de crítica contundente. Que Jorginho não se anime com isso, foi o que os pessedistas fizeram com Moisés no primeiro ano de governo, antes das crises.
Assim, sobra Moisés e seu ímpeto de não deixar o tabuleiro político. Fora do segundo turno nas eleições do ano passado, sem eleger uma bancada de ferrenhos aliados na Alesc, ele parecia completamente fora do jogo. Não existe vácuo na política – e o ex-governador, de forma bem humorada, exaltando um suposto sentimento de “saudade do ex”, vai encontrando seu lugar de fala. Por incrível que pareça, é Jorginho que mais ajuda, sempre mantendo Moisés no retrovisor.
Talvez ambos estejam gostando da dança.
Veja a íntegra da live Parlatório:
Sobre a imagem em destaque:
Carlos Moisés no estúdio da Rádio Som Maior durante a live Parlatório. Foto: Maga Stopassoli.