Todos sabem que o prefeito Gean Loureiro, de Florianópolis, quer ser candidato a governador em 2022. Até agora, vive dificuldades práticas e pragmáticas para a construção desse projeto e o maior deles é a fragilidade do próprio partido, o Democratas, que perdeu expressão eleitoral no Estado quando por cima dele foi criado o Psd, em 2011. A ausência de estrutura partidária enraizada no interior dificulta a estadualização do projeto e faz possíveis aliados de outras legendas olharem com desconfiança para as chances do florianopolitano de chegar com força aos eleitores dos demais 294 municípios. No entanto, Gean encontrou um remédio interessante para essa pré-largada eleitoral. Remédio, não. Vacina. 

O prefeito de Florianópolis identificou logo de cara que a vacinação em massa contra o coronavírus é um tema marcante para a sociedade em meio à pandemia. Atuou desde o princípio para associar seu nome à boa gestão das aplicações das doses na população da Capital. O trabalho – e a forma como ele tem sido exposto – tem ganhado repercussão no interior do Estado. A vacina é, hoje, um importante cartão de visitas para Gean Loureiro, mesmo que não seja ele o comprador (é o governo federal) e nem quem define quantas doses vão para Florianópolis (é o governo estadual, pelas regras do Ministério da Saúde). 

Qual o segredo? Marketing e boas decisões técnico-políticas. Quando eu digo marketing, não é de forma pejorativa. Um dos principais aspectos de um bom líder político é conseguir animar, engajar sua população para as causas relevantes para sua comunidade – e não há tema mais relevante hoje do que a vacinação. Gean tornou-se garoto-propaganda da vacinação em Florianópolis e um animador do processo através de suas redes sociais.

Existem municípios que apresentam números de vacinação tão bons quanto os da Capital, assim como outros prefeitos também estão engajados no processo – Clésio Salvaro (Psdb), de Criciúma, é outro bom exemplo. Mas Gean consegue mostrar seu estilo em detalhes e falas de uma forma que parece que em nenhum lugar se vacina tanto quanto em Florianópolis. Na terça-feira, a Capital bateu seu recorde de 18,6 mil doses aplicadas em um único dia. Dessas, 12.899 eram vacina da Janssen, que garantem imunização com uma única dose. 

A próxima rodada de vacinação, sexta-feira e sábado, chegará à população com menos de 40 anos. Na faixa entre 40 e 44, a Capital conseguiu chegar ao importante percentual de 86,6% da população atendida com pelo menos uma dose de vacina. Em todas as idades, a cobertura passa de 75% na primeira dose. Apenas 2.359 pessoas faltaram à segunda vacinação. Isso é engajamento e há mérito na comunicação da prefeitura e do prefeito nesse engajar. 

Quando falei acima em boas decisões técnico-políticas, quis ressaltar os resultados que a aliança entre técnico e político pode representar quando ambos se respeitam. Perguntei ao secretário-adjunto da Saúde e coordenador da campanha de vacinação, Luciano Formighieri, qual o segredo de Florianópolis – pergunta que vejo frequentemente nas redes sociais, postadas por moradores de outras cidades. 

– Um ponto em que vejo que outras cidades erram e a gente tomou uma decisão aqui que considero acertada é não fazer agendamento. A pessoa perde tempo para agendar, depois muitos cancelam, tem que reagendar. Nós abrimos vários pontos de vacinação, drive-thru, pontos fixos, pagamos hora-extra, montamos uma grande infraestrutura, porque as pessoas querem é vacinar, ser protegidos logo, não ficar uma semana esperando para agendar. Nós estamos até recebendo menos vacinas do que deveríamos, estamos cobrando o Estado. Tem cidades vacinando 38 anos e nós estamos em 40, mas temos 86% de cobertura, o que nenhuma cidade tem. Vacinamos na terça 4,5% da população. Se tivéssemos vacina, em 23 dias a gente vacinava todo mundo – disse Formighieri.

As filas de pessoas esperando a vacinação na terça-feira foram alegremente registradas nas redes sociais, assim como a vacinação em si – alcançando repercussão estadual. É a fila da esperança da volta à vida normal, à vida sem máscaras e se restrições. Gean entendeu como poucos o quanto isso representa e usa isso como passaporte para voos maiores – e é legítimo que use. Seu voo estadual ainda depende de maior consistência partidária, de uma boa aliança. Ser percebido pelos catarinenses como bom gestor em um tema de impacto ajuda nesse sentido. 

Semana passada, quando entrevistei Milton Hobus, deputado estadual e presidente do Psd-SC, ele defendeu a candidatura própria do partido ao governo, mas não rejeitou a possibilidade de apoio a Gean. Lembrou que quase todo pessedista já foi democrata ou pefelista, que os partidos são primos. Curiosamente, na época que em que o Democratas foi esvaziado do dia para a noite para a construção do Psd em Santa Catarina, Gean era do Mdb. Tivesse lá permanecido, dificilmente não seria hoje o pré-candidato único e oficial do maior partido do Estado.


Sobre a foto em destaque:

O prefeito Gean Loureiro (Democratras) enfrenta os desafios de construir uma candidatura em um pequeno partido. Na imagem, está ao lado o secretário-adjunto da Saúde, Luciano Formighieri. Foto: Facebook de Gean Loureiro, sem indicação de autoria.

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