Quem acompanhou até o fim, já na madrugada de quarta-feira, o último debate entre os candidatos ao governo de Santa Catarina merece algum tipo de restituição – algum desconto de imposto, um dia de folga do trabalho, um bombom de boa qualidade. Os oito postulantes ao governo que cumprem as regras para participação no debate promovido pela Nsc Tv transformaram o momento decisivo para definição do voto do eleitor em um longo momento de troca de acusações e provocações em que surgiram poucas ideias sobre o que esperar do futuro do Estado nas mãos de Carlos Moisés (Republicanos), Décio Lima (Pt), Esperidião Amin (Progressistas), Gean Loureiro (União Brasil), Jorge Boeira (Pdt), Jorginho Mello (Partido Liberal), Odair Tramontin (Novo) e Ralf Zimmer (Pros).
O site do jornal O Globo resumiu este último embate entre nossos candidatos a governador com o título “Debate em Santa Catarina tem acusações de sexo em gabinete e espancamento de mulher“. E isso foi só no primeiro bloco. Com uma disputa que embola cinco nomes com chances reais de ir ao segundo turno e três outsiders, o último debate acabou sendo um tudo ou nada – e o nada, acabou ficando com Santa Catarina.
O ponto alto do debate, que deve ter desdobramentos, foi a acusação feita pelo governador licenciado Carlos Moisés de que foi procurado pelo senador Jorginho Mello no início do mandato para que preservasse um contrato na estatal Casan. Segundo Moisés, um contrato cuja revisão resultou na redução de valores de R$ 100 milhões para R$ 50 milhões. Jorginho rebateu na hora, batendo no púlpito e dizendo que o governador licenciado mentia. O tema parecia que ia ficar nisso quando em outro momento, o senador Esperidião Amin voltou ao assunto dizendo o óbvio: se era verdade o relato de Moisés, ele devia detalhes e também explicações. Usar um cargo público para interceder por agente privado junto à máquina é crime e tem nome: advocacia administrativa.
Logo após o debate, Jorginho prometeu processar Moisés por calúnia. Vamos aguardar, porque ele também prometeu processar o delegado Alexandre Saraiva, da Polícia Federal, e ainda não conta que tenha levado o caso adiante. Amin também entrou com pedido para que o Ministério Público de Santa Catarina apure se houve o que é verdade nas falas de Moisés e Jorginho. Deve ser tema da reta final da campanha.
Tirando esse momento, o debate fica marcado pelas metralhadoras giratórias de Jorge Boeira e Ralf Zimmer. Ambos, cada um a seu modo, pareciam comentaristas do debate dentro do debate. Boeira foi o primeiro a perguntar, chamou Moisés e botou na mesa o tema dos respiradores fantasmas. Diante das respostas costumeiras, enfileirou críticas aos adversários e os temas delicados de alguns deles – os R$ 33 milhões de Moisés, a prisão relâmpago de Gean Loureiro na Operação Chabu, o salário de elite do funcionalismo do promotor Odair Tramontin.
Ralf Zimmer mais uma vez usou seu jeito tresloucado para tomar para si as atenções do debate. Desta vez, além dos costumeiros alvos Moisés e Gean, ele fez de tudo para colar em Boeira a candidatura presidencial de Ciro Gomes (Pdt), que vem derretendo nacionalmente, mas que nunca foi de fato relevante em Santa Catarina. O pedetista defendeu seu partido e seu candidato e talvez deva agradecer a Ralf por ter lhe tirado do rumo dos tresloucados.
Gean Loureiro se defendeu quando citado e partiu para o ataque em relação ao governo Moisés, estratégia da reta final. O governador, por sua vez, chamou Ralf de “linha auxiliar de Jorginho” e defendeu os números de sua gestão. Décio Lima e Odair Tramontin quase bateram boca para defender seus ídolos – o ex-presidente e novamente candidato Lula para um, os lavajatistas Sérgio Moro e Deltan Dallagnol para o outro. Amin martelou quase monotonamente a importância da experiência.
A eleição deste ano mostra a inviabilidade do modelo de debates entre candidatos quando há multiplicação de candidaturas. Esse modelo torna-se ainda mais inviável quando candidaturas fictícias de um arruaceiro como Ralf Zimmer tem participação obrigatória porque o irrelevante Pros dispõe de oito deputados federais em Brasília. Algo precisa mudar ou continuaremos debatendo o sexo dos anjos e dos nem tão anjos em horário nobre.
Ao eleitor ainda em dúvida, sugiro as sabatinas que conduzi para a Fecomércio. Os oito tiveram 40 minutos para falar de Santa Catarina. Alguns aproveitaram melhor que outros, alguns sequer sabiam o que dizer. É um bom filtro.
Sobre a foto em destaque:
Reprodução, Nsc Tv.