Luiz Henrique da Silveira dizia que o político é o único animal que ressuscita. É difícil não lembrar da frase do líder emedebista morto em 2015 quando o Udo Döhler, ex-prefeito de Joinville, entra em campo como a solução da bancada estadual e dos prefeitos do partido para compor como vice-governador na aliança pela reeleição de Carlos Moisés (Republicanos). É esse o jogo que será deflagrado explicitamente nesta terça-feira, com o almoço do joinvilense com os deputados estaduais do partido – linha de frente do contraponto à pré-candidatura de Antídio Lunelli (Mdb) ao governo.
A própria transformação do sisudo empresário Udo Döhler em um político de urna, eleito prefeito de Joinville em 2012 e reeleito em 2016, foi uma articulação de Luiz Henrique. Talvez a última articulação bem sucedida do ex-governador e ex-senador. Ele anteviu que o desgaste da classe política abria espaço para a entrada de um empresário bem sucedido e com fortes trânsito nos bastidores do Pib e da política. Deu certo, outros viriam depois, como Antídio Lunelli quatro anos depois em Jaraguá do Sul.
Reeleito em 2016 já sem a presença do padrinho, Udo mirou o governo estadual em 2018. Emparedado por caciques emedebistas, acabou preferindo continuar na prefeitura. Terminou o segundo mandato de forma melancólica e com baixa aprovação. Seu candidato à sucessão em 2020, Fernando Krelling (Mdb), na dúvida entre defender o legado e prometer ser diferente do antecessor, acabou em terceiro lugar. Aos 77 anos, Udo parecia fora do cenário político-eleitoral – estadual e municipal.
O político é o único animal que ressuscita, dizia Luiz Henrique. A improvável primeira vitória do emedebista ao governo, em 2002, começou com o retorno ao campo de jogo de um político que parecia aposentado. Eduardo Pinho Moreira, ex-prefeito de Criciúma, tentara um voo estadual ao enfrentar o então governador Paulo Afonso Vieira na prévia do Pmdb em 1998. Foi derrotado, Paulo Afonso concorreu à reeleição e foi derrotado em primeiro turno. Dois anos depois, Pinho Moreira perdeu para o petista Décio Goes quando tentou retomar a carreira política como prefeito de Criciúma. Parecia fora do jogo quando foi resgatado por LHS para ser vice de uma chapa em que ninguém queria entrar e que acabou vitoriosa.
Vice-governador, de volta ao jogo, Pinho Moreira comandou o (P)Mdb por uma década. Seria vice-governador, na aliança com Raimundo Colombo (primeiro Democratas, depois Psd). Desta vez, não há Luiz Henrique para encontrar uma solução de composição. Quem faz o papel são os nove deputados estaduais. Emparedada depois do segundo “não” que Moisés disse ao partido – o primeiro foi ao negar a própria filiação ao Mdb, o segundo foi ao rejeitar Antídio como vice -, a bancada resolveu apadrinhar a solução Udo Döhler, que já vinha dialogando com o governador.
Hoje a operação será deflagrada. Udo entra em campo. Mas traz um recado importante para a mesa: os nove deputados estaduais e os mais de 80 prefeitos emedebistas que declaram apoio a Moisés vão ter que ir para o campo também para ganhar a convenção. Antídio trabalhou por um ano, mobilizou os sem-mandato, aqueles que na base enfrentam políticos beneficiados pelos recursos repassados pelo governo estadual. O outro lado da moeda. Não vai ser fácil. A sorte está lançada.
Sobre a foto em destaque:
Carlos Moisés e Udo Döhler, lado a lado, em evento da Fecam em 2019. Na época, era inimaginável que poderiam perfilar como pré-candidatos a governador e vice três anos depois. Foto: MafaldaPress, Divulgação.