Pela segunda vez em dois anos, o empresário Luciano Hang, das Lojas Havan, teve bloqueada a conta que utiliza para fazer o seu ativismo político – expressão usada por ele – na rede social Twitter. A primeira vez, em 2020, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (Stf) dentro do famoso inquérito das fake news. Agora, aparentemente o próprio Twitter decidiu pelo bloqueio da conta após o empresário compartilhar entrevista do neurocientista José Augusto Nasser com críticas à vacinação de crianças contra a covid – a polêmica do mês na usina de polêmicas da militância digital bolsonarista.
A atitude da rede social veio na esteira de uma mobilização de usuários pedindo punições aos propagadores de conteúdo anti-vacina. Na semana anterior, o Twitter chegou a precisar se manifestar sobre as políticas de retirada de postagens e bloqueio de usuários. Assim, ao mirar em Luciano Hang, de certa forma, foi dada uma resposta a quem pedia maior controle desse tipo de conteúdo. Oficialmente, no entanto, o Twitter alegou apenas que a posição era derivada daquela decisão de Alexandre de Moraes em 2020.
O empresário não demorou a reagir e tratar o caso como censura contra a liberdade de expressão e opinião. Hang, sabemos todos, é um astuto transformador de limões em limonadas. Dono de uma capacidade própria de se comunicar e fazer marketing, tratou o caso como “mais uma tentativa de calar o Luciano Hang”. Na nota que foi distribuída à imprensa, o empresário focou na questão da liberdade de expressão – até utilizando a frase do presidente Jair Bolsonaro (Pl) de que “a liberdade é mais importante do que a vida”. Vou transcrever a frase do empresário.
– Aqueles que estão aplaudindo por me suspenderem das redes sociais têm que lembrar que um dia podem chorar por não terem a liberdade para se manifestar também. Eu não preciso de nada disso, poderia ficar no meu canto trabalhando, fazendo o que todo mundo faz, mas isso não deixaria um legado e mais: não faria tanta diferença para o nosso país. Vou seguir lutando por aquilo que acredito que vale a pena e pelo melhor para o Brasil. Lembrem-se: a liberdade é inegociável e mais importante do que a própria vida.
Existe um debate importante dentro dessa questão que é o poder concentrado nas mãos de empresas como Twitter e Meta (controladora do Facebook) para decidir o que pode ou não ser dito, quais conteúdos devem ou não ser apresentados à audiência. Mas aqui falamos de política, mais especificamente da política catarinense, e é inegável que a postura de Luciano Hang – tanto ao se acoplar às pautas bolsonaristas quanto na construção de um personagem que transformou a indignação pessoal em ativismo político – casam com a possibilidade de que ele seja candidato a senador nas eleições de outubro.
A possibilidade de que Hang encare as urnas eletrônicas mexe bastante com o cenário político local e gera alguns questionamentos em todos os flancos da disputa. A primeira pergunta, mãe de todas as outras, é se o empresário está mesmo disposto a encarar o desafio de exercer um mandato político em que vai ser cobrado mais por ações do que por palavras nas redes sociais, em que terá sua vida empresarial possivelmente exposta e sujeito a confrontos em que ainda não foi testado – a máquina do poder. Essa dúvida é primordial e tem como primeiro prazo de resposta o final de março, quando ele precisará se filiar a um partido político para continuar apto a postular candidatura. Nos bastidores, as opções que surgem são o Republicanos e o Patriota.
Mas existem outras perguntas importantes no ar. Um exemplo: qual o potencial eleitoral de Luciano Hang? A primeira vista, um empresário tão bem sucedido como ele e colado aos temas de Bolsonaro no (provavelmente) mais bolsonarista dos Estados seria o franco favorito na disputa. Quão favorito? As primeiras pesquisas internas feitas pelos partidos não tem apresentado essa exuberância toda. Daí vem outra pergunta: Hang encara uma disputa em que possa perder ou só entra no jogo se tiver uma eleição tranquila?
As perguntas não param aí, não. Candidato ao Senado, Hang abraça a chapa de senador Jorginho Mello (Pl) ao governo ou vai preferir estar solto, flanando por sobre os candidatos a governador, sem entrar em um pacote que lhe dê um teto que não precisa ter? O empresário tem conversado por aí – o governador Carlos Moisés (ex-Psl) e o prefeito chapecoense João Rodrigues (Psd), por exemplo. E se estiver desvinculado dos candidatos a governador, como estes vão tratá-lo? Abrirão caminho ou indicarão seus próprios nomes? Além disso, que tipo de candidatura poderia duelar com o empresário na disputa pela cadeira do Senado? Um político tradicional, um esquerdista confrontador, outro bolsonarista?
Como se vê, a resposta à pergunta sobre se Hang será candidato desencadeia várias outras. As respostas se darão aos poucos, no tempo. O empresário dá sinais de que quer encarar a eleição, ao mesmo tempo que deixa no ar os receios de trocar a vida empresarial pela política. Ou, no mínimo, compartilhá-las. Certo é que se ele for mesmo para a disputa, a eleição para o Senado pode acabar ganhando mais holofotes que a de governador. Onde tem Hang, tem confronto, tem polêmica, tem marketing.
Sobre a foto em destaque:
O empresário Luciano Hang acusa o Twitter de censura após ter sido bloqueado pela rede social. Foto: Divulgação.