Em meio a notícias de renúncias e cassações dos prefeitos réus na Operação Mensageiro, chamou atenção a decisão da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça (TJ-SC) que revogou a prisão domiciliar a permitiu o retorno de Antônio Ceron (PSD) à prefeitura de Lages, na quinta-feira. Foram 167 dias de afastamento, período em que o pessedista permaneceu em prisão preventiva e prisão domiciliar. Ceron retomou o cargo ainda na quinta-feira, às 15 horas, quando assinou o termo de posse no gabinete, junto com o vice-prefeito Juliano Polese (Progressistas), que ocupou o cargo como interino nesses quase seis meses.
Ceron mostrou força política local ao resistir aos pedidos de cassação e de abertura de CPI abertos na Câmara de Vereadores. Ainda responde à Justiça como réu na Operação Mensageiro, em que é acusado de ser beneficiário de propinas para manter contratos de coleta de lixo com a empresa Serrana – pivô dessa suposta rede de corrupção que envolveria, até onde apontam as investigações do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), 17 prefeituras catarinenses. Ao devolvê-lo para a prefeitura lageana, os magistrados alegaram que o processo já está instruído, que as testemunhas já foram ouvidas e não há mais necessidade de manter o afastamento.
Dessa forma, Ceron vai responder o processo não apenas em liberdade, mas também no cargo para qual foi reeleito em 2020. Uma condição que chamou atenção de outros prefeitos envolvidos na Mensageiro. Em 10 de julho, Joares Ponticelli (Progressistas) renunciou à prefeitura de Tubarão junto com o vice Caio Tokarski (União Brasil) em um gesto que ao mesmo tempo levou seu caso para a primeira instância e deflagrou uma disputa indireta (eleição pelos vereadores) para o comando da cidade. Na carta de renúncia, Ponticelli justificou a posição pela decisão da 5ª Câmara Criminal que ao conceder a revogação de sua prisão provisória renovou por seis meses seu afastamento da prefeitura. A decisão do mesmo grupo de magistrados sobre Ceron não foi bem recebida em Tubarão.
De qualquer forma, a volta de Ceron ao poder em Lages parecer mudar o ciclo de decisões envolvendo os prefeitos da Mensageiro. Talvez uma reação do Judiciário à onda de renúncias para levar os processos à primeira instância. Não passou despercebido no TJ-SC o movimento de nove juízes da comarca de Tubarão em declararem-se suspeitos para julgar Ponticelli – o que levará o caso a ser julgado em Jaguaruna. Em nota, a instituição disse que a suspeição dos magistrados dispensa justificativa quando decorre de “circunstância de foro íntimo”, mas chamou de “inusitada situação” a atitude tomada em massa em Tubarão, o que levou a presidência e a Corregedoria-Geral da Justiça a instaurar procedimento para apurar o fato.
Se tem uma coisa inegável é o talento de Ponticelli no relacionamento institucional, o que torna praticamente óbvio que tenha uma relação próxima com os magistrados de Tubarão. Mas o TJ-SC manda sinais de que está atento a todos os movimentos. A decisão em relação a Ceron parece parte desse olhar.
Sobre a imagem em destaque:
Antônio Ceron reassume prefeitura de Lages sob o olhar do vice Juliano Polese. Foto: Prefeitura de Lages, Divulgação.