Mais por sorte do que por juízo, a bancada estadual do Mdb sobreviveu incólume à Onda Bolsonaro em 2018. Mesmo com estrago causado pelos votos dados aos candidatos do 17, os emedebistas sobreviveram a redução imposta aos partidos tradicionais para acomodação da nova força política. O partido manteve as mesmas nove cadeiras que tinha na legislatura anterior, continuando como a maior bancada do parlamento estadual, graças à canibalização do Psdb, que estava coligado e ficou com três suplentes de 30 mil votos – votação que em outro arranjo garantiria mais dos que as duas cadeiras que os tucanos fizeram.

Mais por juízo do que por sorte, a bancada estadual do Mdb soube fazer dessa vantagem numérica uma força política de fato nesta legislatura. Os nove emedebistas apararam as arestas e encerraram as disputas em praça pública que caracterizaram outras épocas. As divergências foram mantidas dentro da bancada, onde os grandes temas – especialmente as votações das aberturas dos processos de impeachment do governador Carlos Moisés – contaram com o peso dos nove votos, sem dissidências. Assim, a bancada decidiu aderir ao governo, afastar-se dele, derrubá-lo e depois salvá-lo, para, enfim, integrá-lo – tudo isso sem seguir o palpite de qualquer emedebista externo.

Em todos esses movimentos, o deputado estadual Luiz Fernando Vampiro – hoje secretário de Educação – foi uma espécie de termômetro a indicar a temperatura da relação entre a bancada e o governo Moisés. Hoje é o maior aliado do governador na bancada emedebista, junto com o presidente da Assembleia Legislativa, Mauro de Nadal. Na noite de segunda-feira, Vampiro participou do programa Parlatório, produção conjunta da Rádio Som Maior e da PostTv, do qual participo com os jornalistas Adelor Lessa e Everaldo Silveira. À vontade na conversa descontraída que relembrou vários momentos de sua carreira – desde a gênese como jovem integrante da gestão do prefeito Anderlei Antonelli em Criciúma, passando pela condição de secretário de Estado dos governos Luiz Henrique (SDR-Criciúma), Raimundo Colombo (Infraestrutura) e Moisés – o emedebista deu pistas importantes para entender a relação dos deputados estaduais do Mdb com o governador e as chances de que isso possa ter efeito nas eleições de 2022.

Vampiro fez dois comentários interessantes quando perguntado sobre a decisão de Moisés de se desfiliar do Psl e ficar sem partido até o ano que vem. No primeiro, fez uma relação com sua própria situação, pré-candidato a uma vaga de deputado federal.

A opção que ele faz pela gestão pública é mais ou menos a opção que eu faço pela educação. Não adianta, neste momento, colocar a política antes da educação. São as entregas que eu fizer que vão me cacifar para uma candidatura maior, que é deputado federal. Tenho consciência disso. Se o barco naufragar, eu também tenho consciência de que tenho que tirar o time de campo.

O segundo comentário era sobre o projeto do Mdb de ter candidatura própria ao governo, representada na prévia suspensa que um dia há de fazer os emedebistas escolherem entre Antídio Lunelli, Celso Maldaner e Dário Berger quem terá a missão de levar adiante a emblemática legenda 15. Vampiro disse que Moisés sabe que o Mdb tem esse projeto. No entanto, abriu uma inédita fresta para uma composição mais adiante.

Nós colocamos a ele que teremos candidato a governador em 2022. Essa opção dele por não filiar em outro partido faz com que nós e todos os partidos possamos tê-lo como uma alternativa nesse sentido, mas ele não se coloca de maneira nenhuma. O que ele tem colocado é que vai pensar e focar na gestão pública, no relacionamento com a Assembleia Legislativa e no momento oportuno vai fazer a opção que lhe couber.

A bancada está mais próxima do que nunca de Moisés, satisfeita com a relação e com as obras que vêm sendo anunciadas em parceria com os prefeitos nas bases. É um bom extrato da conversa com Vampiro. Mas há outra fala importante, que se não representa a totalidade dos nove deputados emedebistas, pode significar parte importante do grupo. O prefeito de Jaraguá do Sul, Antídio Lunelli, está em alta. Instado a falar sobre os concorrentes da prévia, após alguma insistência, Vampiro falou sem medir as palavras.

O Antídio é o político que a sociedade quer, um político que tenha sucesso profissional independentemente da vida pública. Tem muito político milionário que sabe ganhar dinheiro, mas não sabe fazer gestão pública. Ele fez o teste da gestão pública. Eu acredito que dos três candidatos ele é o mais forte – sentenciou.

Entre Moisés e Antídio, a bancada estadual vai fazendo valer seu peso político – hoje é o grupo mais forte e coeso do Mdb-SC – sua capilaridade e suas emendas impositivas. Vampiro disse que mesmo a proximidade e eventuais goles de vinho ou cerveja não fazem o governador abrir o jogo para falar o que pensa sobre 2022. Mas há muitos pensamentos paralelos e possivelmente convergentes até março do ano que vem. Dependerá do cenário, das pesquisas, do peso do bolsonarismo sobre o eleitor catarinense, de outras alianças se robustecendo.

Alguns anos atrás, aquilo falo eu, não Vampiro, um prefeito renunciou ao mandato para concorrer a governador. Na última semana, entrou na chapa do governador candidato a reeleição e viabilizou uma aliança que governaria Santa Catarina por 12 anos. O prefeito era Colombo, o governador era Luiz Henrique. Antídio não é Colombo e muito menos Moisés é LHS, mas seguir o mapa é sempre muito mais simples do que desenhá-lo.


Sobre a foto em destaque:

Luiz Fernando Vampiro brinca com Valdir Colbalchini, líder da bancada do Mdb, hoje o grupo mais forte dentro do partido e muito alinhado ao governo Moisés. Foto: Rodolfo Espíndola, Agência AL.

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