Um professor de jornalismo sempre dizia para só colocar pergunta no título de um texto se eu soubesse a resposta – e ela estivesse no texto. Hoje vou ter que quebrar a regra, que me desculpe o professor, porque a pergunta é pertinente e a resposta só será conhecida na campanha eleitoral do ano que vem e, especialmente, após apurados os votos. Por enquanto, é possível dizer que beira o cômico a briga de algumas lideranças catarinenses por ser e parecer próximos ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ainda o maior cabo eleitoral do Estado.

O último duelo foi esta semana – ou seria um racha? – para ver quem conseguia trazer o presidente para versões catarinenses das motociatas promovidas no Rio de Janeiro e São Paulo. Chegaram a ser supostamente confirmadas as etapas de Chapecó, Joinville e Florianópolis. Cada uma delas tinha seus patrocinadores na política local. Questionado por um apoiador, Bolsonaro reclamou de quem espalhava as confirmações não confirmadas e disse que estava garantida apenas a de Chapecó. Horas depois, Florianópolis entrou no jogo.

Seria uma bobagem, e quase é, se não fosse uma disputa de pano de fundo que pode se repetir em 2022. A motociata de Chapecó foi anunciada pelo prefeito João Rodrigues (PSD), a de Florianópolis pelo senador Jorginho Mello (PL). Ambos lutam pela condição de candidato de Bolsonaro ao governo. Não é à toa que logo após a negativa do presidente ao evento em Florianópolis, o senador correu para desfritar o ovo – conseguiu um vídeo com Bolsonaro confirmando a segunda motociata. Assim, o ruidoso ato dos apoiadores do presidente acontecerá dia 25 deste mês no Oeste, 14 de agosto na Capital.

A política catarinense ainda vive sob os efeitos da onda Bolsonaro em 2018, o que faz muitas lideranças (e proto-lideranças) continuarem a ver no presidente uma espécie de bilhete premiado. Ninguém sabe quanto do fenômeno da última eleição se repete no Estado e é improvável uma transferência de votos maciça como a que levou o então desconhecido Carlos Moisés (PSL) ao governo do Estado. Mesmo assim, ter o apoio de Bolsonaro, especialmente se for exclusivo, tem tudo para garantir a viabilidade da candidaturas ao governo e uma vaga no segundo turno. João Rodrigues e Jorginho são expoentes dessa tentativa de aproximação por serem candidatos a governador, mas essa busca por fotos, selfies, abraços e suposta intimidade acontece também com diversos postulantes a outros cargos – para o Congresso, principalmente. Se em 2018 foi importante estar atrás do 17, então número do candidato a presidente, desta vez será preciso se mostrar bolsonarista de verdade. Deve ter pré-candidato fazendo carteira de motorista tipo A para garantir um bom lugar nas fotos perto de Bolsonaro nas motociatas catarinenses.


Sobre as fotos em destaque:

Colagem de imagens de Bolsonaro com João Rodrigues (PSD), Jorginho Mello (PL), Coronel Armando (PSL) e Daniel Freitas (PL) que anunciaram motociatas com o presidente em Santa Catarina. Fotos: Instagram

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