A pista já havia sido dada pelos emedebistas catarinenses Celso Maldaner e Dário Berger nas entrevistas que concederam a mim e ao Adelor Lessa na Rádio Som Maior e vem ganhando forço nos bastidores: a senadora Simone Tebet (Mdb-MS) é o nome do Mdb para a vaga de terceira via na disputa precocemente polarizada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pelo ex-presidente Lula (Pt) para a Presidência da República em 2022. Claro que é mais um balão de ensaio, mas é importante que um partido do porte e da história do Mdb apresente uma alternativa a alternativa neste momento que o país atravessa.

Simone Tebet tem ganhado destaque por suas manifestações na CPI da Covid, mesmo sem ser integrante da comissão. Um dos principais momentos foi quando conseguiu convencer o deputado federal Luiz Miranda (Democratas-DF) a dizer que era o colega Ricardo Barros (Progressistas-PR), líder do governo na Câmara dos Deputados, o nome que teria sido citado pelo presidente Bolsonaro sobre um suposto “rolo” na tentativa de aquisição da vacina indiana Covaxin.

A senadora é uma estrela em ascensão no Mdb, embora não tenha conquistado velhos caciques. Teve o nome cotado para concorrer à presidência do Senado em 2019, quando não conseguiu suplantar Renan Calheiros (Mdb-AL) dentro da própria bancada, e em 2021, quando concorreu de forma independente e foi derrotada sem maiores dificuldades por Rodrigo Pacheco (Democratas-MG). Se alcançasse o cargo, igualaria a trajetória do pai, Ramez Tebet, que presidiu o Senado no final dos anos 1990.

Simone Tebet é um nome que se enquadra no perfil político dos que buscam uma via pacificadora da política nacional, a tal candidatura de centro – palavra que vem sendo deixada de lado nas narrativas porque a sociedade vincula o termo à expressão Centrão, o grupo fisiologista do Congresso Nacional que integra as bases de todos os governos. Essa alternativa moderada atende por nomes que vão desde o governador gaúcho Eduardo Leite (Psdb) até o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Democratas-MT), passando pelo governador paulista João Dória (Psdb) e o próprio Rodrigo Pacheco que derrotou Simone na disputa pela presidência do Senado. Ninguém empolgou a sociedade ou a política – tanto que as pesquisas tem mostrado Ciro Gomes (Pdt) consolidado na terceira colocação até agora.

Mas a possível candidatura de Simone Tebet depende de uma equação mais complicada que a dos demais postulantes a terceira via – ou “nova via”, como prefere o ex-senador Jorge Bornhausen. Não é nada fácil colocar o 15 do Mdb em uma disputa presidencial. O partido historicamente abre mão da disputa direta pelo Planalto em nome de composições que privilegiem a manutenção de sua capilaridade nos Estados e municípios. Candidaturas orgânicas do partido à presidência, até agora apenas Ulysses Guimarães em 1989 e Orestes Quércia em 1994, ambos abandonados pelo pragmatismo das bases emedebistas. Entre 1994 e 2018, o partido não lançou candidato – indicou vice de José Serra (Psdb) em 2002 e de Dilma Rouseff (Pt) em 2010 e 2014. Nas eleições de 1998 e 2006, marcadas pelas reeleições de Fernando Henrique Cardoso (Psdb) e Lula (Pt), preferiu nem integrar as composições por causa das divisões internas entre as alas governistas e oposicionistas de então.

E assim chegamos a 2018 e às eleições bancadas pelo fundo eleitoral. Escrevi aqui no final de semana que um dos efeitos nocivos do fundão é separar os partidos entre os que disputam presidência e governos e os que disputam vagas em legislativos – por mais bilionário que seja o fundo, não há dinheiro para as duas opções. Uma candidatura presidencial draga os recursos que poderiam viabilizar a eleição de boas bancadas. Na última eleição presidencial, o Mdb só disputou a presidência – se é que alguém lembra disso – porque o ex-ministro Henrique Meirelles se comprometeu a custear toda a campanha com recursos próprios – e isso constou no documento que definia a distribuição do fundo eleitoral do partido naquela eleição.

Então, a possível candidatura de Simone Tebet já nasce sobre essa desconfiança de que o Mdb possa e queira bancar o projeto. Um bom argumento pode estar no próprio desempenho eleitoral do Mdb pós-fundão. Mesmo tendo direito à maior cota de recursos em 2018 e não colocando um centavo sequer na aventura de chamar o Meirelles, o Mdb o perdeu o posto de maior bancada da Câmara dos Deputados para ser alojado em um incômodo sexto lugar, com 34 deputados, quase metade do que elegera quatro anos antes, espremido entre Psd e Republicanos (35 e 33 deputados, respectivamente). O número de governadores eleitos, naquela disputa, também caiu fortemente – de sete para apenas três (Alagoas, Distrito Federal e Pará).

O reflexo disso veio nas eleições municipais ano passado. O Mdb tinha um patamar histórico de vencer as eleições em mais de 1 mil prefeituras e de aplicar uma distância de algumas centenas para o segundo partido mais bem-sucedido. Isso mudou. Os emedebistas foram eleitos em 775 cidades, contra 1.044 em 2016. Viram, assim, a aproximação de partidos com o mesmo perfil de centro pragmático, mas com histórias distintas, como Progressistas (681 municípios) e o Psd (650).

Talvez a forma de estancar essa sangria seja justamente a aposta em um projeto nacional, em um rosto de renovação, algo que acenda a base emedebista enquanto ela ainda tem alguma força e volume para dar largada a um projeto presidencial – se é que os emedebistas ainda sabem como se faz. Esse rosto hoje é o de Simone Tebet, o partido não criou outras alternativas no Congresso ou nos Estados. Mas não espantaria ninguém se ela ocupar a vaga de vice-presidente nessa chapa antipolarização que se tenta desenhar em Brasília.


Sobre a foto em destaque:

A senadora Simone Tebet, do Mdb do Mato Grosso do Sul, em uma das reuniões da CPI da Covid. Foto: Leopoldo Silva, Agência Senado.

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