A força política de um Estado não se mede pelo número de ministérios ocupados por quem nasceu nele, mas pela capacidade de seus representantes eleitos de serem recebidos, ouvidos e seus pleitos – que são dos Estados – atendidos. Historicamente Santa Catarina tem sofrido nesse quesito, por isso não são poucas as queixas de demandas reprimidas junto aos governos federais – e digo no plural mesmo, porque vai muito além da administração de Jair Bolsonaro (sem partido). 

De qualquer forma, a presença de catarinenses no ministério do presidente sempre mexe com as aspirações dos políticos locais e cria expectativas de que o Estado possa ser melhor atendido em algumas áreas. O tema veio à tona com as especulações de que o senador Jorginho Mello (Pl) poderia ser nomeado para a pasta do Turismo na reforma ministerial que Bolsonaro promove para ampliar a presença dos partidos do Centrão, especialmente do Senado, na Esplanada dos Ministérios. Leia-se, a escolha do senador Ciro Nogueira (Progressistas-Piauí) para o comando da Casa Civil.

O Ministério do Turismo é uma pasta cuja presença de um catarinense tem toda condição de potencializar uma das maiores vocações econômicas de Santa Catarina – algo que inclusive une um Estado tão diverso quanto o nosso, que é a capacidade que cada região tem de, à sua maneira, encantar os visitantes. Nisso, a confirmação de Jorginho Mello no comando da pasta poderia ser um diferencial – inclusive pelo apetite do senador em querer mostrar serviço como pré-candidato a governador. Falta na longa trajetória política de Jorginho uma experiência de primeiro escalão no Poder Executivo estadual ou federal.

Foi justamente na pasta do Turismo que Santa Catarina teve seu último ministro. Era Vinicius Lummertz (Psdb), que hoje ocupa a secretaria da mesma área no governo de João Dória (Psdb) em São Paulo. Embora sempre seja cotado para disputas eleitorais, Lummertz era tido como um quadro técnico de respaldo político – avalizado por Luiz Henrique da Silveira (Pmdb), então senador, chegou à presidência da Embratur no governo de Dilma Rousseff (Pt) e por ali ficou até virar ministro.

Na história recente, não foram muitos e nem muito destacados os ministros catarinenses. Além de Lummertz, Dilma teve o pedetista histórico Manoel Dias no comando do Ministério do Trabalho e a ex-senadora Ideli Salvatti como uma espécie de coringa: comandou Direitos Humanos, Relações Institucionais e Pesca ao longo dos mandato e meio da ex-presidente petista.

A Pesca, aliás, foi criado como um feudo catarinense na Esplanada no primeiro mandato de Lula (PT) em 2003. Primeiro, foi ocupada pelo ex-prefeito chapecoense José Fritsch (PT), que havia ficado em terceiro lugar na disputa pelo governo no ano anterior. A saída da pasta para a segunda tentativa de governar o Estado, em 2006, levou ao cargo o também catarinense Altemir Gregolin, que permaneceu no segundo mandato de Lula.

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) teve apenas um breve ministro catarinense. Caspar Stemmer, histórico ex-reitor da UFSC, não fez história no cerca de um ano em que comandou a pasta de Ciência e Tecnologia no primeiro ano de governo do tucano. Itamar Franco (sem partido quando presidente), menos breve ainda: Dejandir Dalpasquale (PMDB) foi interino na Agricultura por três meses. Fernando Collor teve o ex-senador Jorge Bornhausen em sua Casa Civil quando tentou, sem sucesso, escapar do impeachment – a passagem de JKB pela Esplanada foi mais marcante quando ocupou a Educação no governo José Sarney, nos anos 1980.

Todo esse resgaste mostra que Santa Catarina tem uma participação política nos governos pós-redemocratização aquém de sua força econômica e contribuição para a sociedade brasileira. Até o possível convite a Jorginho, o Estado que deu 71% de seus votos para eleger Bolsonaro contava com dois cargos de segundo escalão – Jorge Seif Junior no comando da Pesca, rebaixada a secretaria, e o ex-deputado federal Valdir Colatto (MDB) no comando do Serviço Florestal Brasileiro. É pouco, mas não é muito diferente do espaço que deram ao Estado seus antecessores.


Sobre a foto em destaque:

O senador Jorginho Mello foi especulado durante a semana para ocupar o Ministério do Turismo do presidente Jair Bolsonaro. Até agora, o convite não veio. Foto: Alan Santos, Palácio do Planalto.

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