Negue-se tudo a Adilson Barroso, o principal dirigente do Patriota, menos a sua obstinação em eleger um presidente da República com a legenda que criou. Em outubro de 2013 pegou o então Partido Ecológico Nacional (PEN) e o entregou de bandeja a Marina Silva, que não conseguira criar o Rede Sustentabilidade a tempo de disputar as eleições do ano seguinte – quando despontava como favorita. Ela não quis conversa. Quatro anos e meio depois, em 2018, Barroso fez uma cirurgia plástica no partido para oferecê-lo a Jair Bolsonaro. O verde virou verde-amarelo, o PEN virou Patriota e por muito pouco a legenda não foi a guarida do então presidenciável, que acabou optando pelo PSL – e o resto é história. 

A um ano e quatro meses de disputar a reeleição, os caminhos de Bolsonaro e Barroso se cruzam novamente. Mais uma vez o presidente busca uma legenda e lá está o ex-ecológico e atual patriota dirigente partidário a sua disposição. Na segunda-feira, o senador Flávio Bolsonaro anunciou que deixa o Republicanos rumo ao Patriota, o que tem sido lido como um indicativo de que o destino do pai presidente será o mesmo. Se for confirmado, é um indicativo de que Jair Bolsonaro vai apostar que o raio pode cair duas vezes no mesmo lugar.

Em 2018, ele aceitou uma espécie de arrendamento de legenda. Luciano Bivar – o Adilson Barroso do PSL – ofereceu-lhe a chave do partido até o final das eleições. Bolsonaro teria carta branca para tocar a sigla nacionalmente e nos Estados até a urna fechar. A expectativa de crescimento expressivo no número de eleitos (e do fundo eleitoral) se confirmou e Bivar retomou a chave do partido. Você deve lembrar, leitor, do chamado racha do PSL, ainda em 2019, quando os bolsonaristas fiéis ao presidente tentaram tomar a legenda, sem sucesso.

Fora do PSL, Bolsonaro anunciou que faria uma legenda à sua imagem e semelhança, o Aliança pelo Brasil, projeto pelo qual sua militância tentou reunir assinaturas para tirar do papel. Também não deu certo e a ideia foi deixada de lado. Desde então, existe uma bolsa de apostas sobre o destino partidário do presidente da República para disputar a reeleição.

Convites não faltam. Desde legendas pelas quais ele já passou, como Progressistas e PTB, passando pelo tradicional PL, pelo emergente Republicanos, pelo caricato PRTB e pelo disponível Patriota – aquele que Adilson Barroso criou para abrigar um presidente, seja qual for. 

Se optar pelo Patriota, Bolsonaro repetirá a fórmula de preencher um partido semi-vazio com dirigente inexpressivo. O risco é o mesmo que teve com Bivar, embora Barroso tenha se comprometido com mudanças estatutárias na filiação de Flávio Bolsonaro. Deve parecer ao presidente um preço mais em conta do que entrar em um partido cheio de caciques nacionais e locais e possíveis choques entre os aliados que deve filiar à sua nova legenda e os que lá estão. Seria assim, certamente, se voltasse ao Progressistas ou embarcasse no PL. 

A definição deve permitir que Bolsonaro filie os seus e preencha o vazio que o Patriota ostenta na maioria dos Estados. Em Santa Catarina, por exemplo, a legenda elegeu apenas um prefeito em 2020: Adilson Lisczkovski, em Major Vieira, cidade de 8,1 mil habitantes no Planalto Norte. Vereadores foram nove em toda Santa Catarina – mais do que legendas midiáticas como Novo e PSOL, mas muito aquém da representatividade de um partido com porte para disputar a presidência da República. O porte é Bolsonaro e quem ele trouxer, como era em 2018.

Com um partido praticamente vazio, não haverá maiores dificuldades para acomodação de lideranças com mandato – como os deputados federais Coronel Armando, Caroline de Toni, Daniel Freitas e os deputados estaduais Ana Campagnolo e Jessé Lopes. Outros nomes do bolsonarismo catarinense vão se espalhando por PL e PTB, formando assim a trinca que deve estar reunida em torno das candidaturas de Bolsonaro a presidente e de Jorginho Mello (PL) a governador.

Na construção desse palanque, o senador do PL recebeu na segunda-feira o deputado estadual Kennedy Nunes, que embora formalmente filiado ao PSD já fala como comandante estadual do PTB. Ele tenta ser o candidato de Bolsonaro ao Senado e tem viabilizado esse projeto junto ao presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson. Vai se desenhando uma chapa que poderia ser completada com um nome do Patriota (ou o partido que Bolsonaro estiver) como candidato a vice.

No fundo, Bolsonaro e Jorginho Mello têm muito em comum em seus projetos para 2022. Na falta de alianças tradicionais, constroem palanques com discursos e bandeiras. A maior diferença, no entanto, é que o presidente da República não encara a aliança com legendas de peso e tradição porque não confia nelas. Jorginho aparentemente está desistindo de construir uma coligação com os partidos tradicionais do Estado porque não conseguiu conquistá-los. Sorte deles que existem Barrosos e assemelhados com partidos vazios à espera de preenchimento.


Sobre a foto em destaque:

Filiação de Flávio Bolsonaro ao Patriota indica rumo de Jair Bolsonaro em 2022: longe dos partidos tradicionais. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom, Agência Brasil.

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