Não era apenas pelo jeito calmo de falar e pela proximidade geográfica que o ex-governador gaúcho Eduardo Leite (Psdb) era o preferido dos tucanos catarinenses na atrapalhada prévia presidencial que o partido realizou em 2021. A vitória do ex-governador paulista João Dória (Psdb), confirmada por pequena margem, significava um peso extra a ser carregado nas eleições deste ano – especialmente pela ampla rejeição que o presidenciável sofre no eleitorado bolsonarista. A confirmação de que Dória está fora do jogo, na segunda-feira, embora previsível no contexto de uma candidatura torpedeada interna e externamente, traz um alívio para o Psdb de Santa Catarina.

A vitória de João Dória encolheu os planos do tucanos locais. Então pré-candidato a governador, Gelson Merisio bateu em retirada rumo à esquerda quase que imediatamente. Clésio Salvaro pregou-se de vez à cadeira de prefeito de Criciúma. Os convites ao governador Carlos Moisés para que optasse pela filiação ao Psdb foram rejeitados justamente pelo argumento de que carregar Dória junto na hora de pedir votos seria complicado. Assim, o Psdb resignou-se ao papel de focar nas chapas de deputado estadual e federal e em ouvir os muitos convites para ser coadjuvante para algum projeto majoritário de outro partido. Sem destaque, para não contaminar a chapa com a impopularidade do ex-governador paulista.

Aliás, pode-se debater se é justa ou injusta essa impopularidade. O governo tucano em São Paulo teve méritos nos gestos e erros de comunicação, especialmente durante a pandemia. Mas a resistência a Dória, mesmo a interna, parece vir de um jeito de construir seus projetos sempre na base do confronto. Surgiu para a política eleitoral com um discurso forte contra as gestões do Pt, acima do tom usual dos tucanos. Com ele, venceu Fernando Haddad (Pt) na disputa pela prefeitura de São Paulo em 2016 e foi eleito governador de São Paulo chamando o adversário Márcio França, do Psb, de “Márcio Cuba”. Deixou na estrada ainda em primeiro turno o padrinho de sua primeira eleição, Geraldo Alckmin (ex-Psdb, hoje no Psb), para colar na onda de Jair Bolsonaro – e sem ela não venceria o governo de São Paulo.

Ao desgarrar-se de Bolsonaro, logo no primeiro ano de governo, passou a ter um discurso no mesmo tom que usava para enfrentar a esquerda contra a liderança que ocupara, no voto, a cadeira da direita. O que restou a Dória além de colocar-se ao centro de uma arena em que era detestado por ambos os lados da polarização política nacional? Vencer uma prévia que isolou dentro do próprio partido – uma versão emplumada e de bico grande da Vitória de Pirro. E que acabou na segunda-feira após ter essa pré-candidatura implodida pelo próprio partido em nome de uma possível aliança com a senadora Simone Tebet (Mdb do Mato Grosso do Sul), que ostenta índices de intenção de voto tão pífios quanto os do tucano, mas que pelo menos não carrega a alta rejeição e nem atrapalha a vida do Psdb nos Estados.

Estados como Santa Catarina, que passa a ter uma vida mais leve sem a candidatura presidencial. Nos últimos tempos, ouvi até mesmo pré-candidatos a deputado federal falarem que poderiam desistir da disputa por causa do fator Dória. Um problema a menos, considerando que o Psdb precisa turbinar sua chapa para garantir a manutenção da cadeira que hoje pertence à deputada federal Geovânia de Sá (Psdb). Para a composição majoritária, o Psdb é cortejado por Carlos Moisés (Republicanos), Esperidião Amin (Progressistas), Antídio Lunelli (Mdb) e Gean Loureiro (União) – elencados pela ordem de afeto. Para todos eles, o Psdb representaria encorpar a candidatura ao governo. Em alguns casos, Amin e Antídio, viabilizaria a entrada na disputa. Sem Dória, o passe dos tucanos deve valorizar um pouco mais.


Sobre a foto em destaque:

João Dória no evento que promoveu em Florianópolis ano passado, quando disputava a prévia com Eduardo Leite. Foto: Mafalda Press, Divulgação.  

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