Um momento eloquentemente “como assim?” aconteceu na segunda-feira em Criciúma. Empolgado no palanque do Plano 1000, o governador Carlos Moisés (ex-Psl) discursou que o dinheiro que hoje sobra no Estado para obras é produto do “fim da roubalheira”. Palanque, tudo certo. Comparar gestões é natural em período eleitoral com candidato à reeleição, como Moisés será. Ainda mais se um dos adversários for o ex-governador Raimundo Colombo (Psd), comandante do Estado entre 2011 e 2017.
O que chamou atenção – “como assim?” – foi o exemplo dado pelo governador. Ele falava sobre a pavimentação da estrada de acesso à Penitenciária Regional Sul, em Criciúma, obra prometida à comunidade como compensação à instalação do equipamento na década passada. Aí Moisés apontou para o secretário de Administração Prisional, Leandro Lima, presente no palco, e disse:
“O Leandro Lima está aqui do meu lado. Só em um dos contratos do sistema prisional se economizam mais de R$ 100 milhões por ano. Só revisando um contrato. Para vocês verem o desmando. Por isso 10 anos para o asfalto chegar”.
Como assim?
O Leandro Lima ao lado, dez anos atrás era secretário-adjunto da Secretaria de Justiça e Cidadania, com tamanha liberdade de operação que tinha autorização para assinar despachos em nome da secretária Ada de Luca no Diário Oficial. Ocupou o posto nos sete anos de governo Colombo e no 2018 de Eduardo Pinho Moreira, foi promovido a secretário quando a emedebista deixou o cargo para disputar a reeleição como deputada estadual. Aliás, Ada de Luca é da bancada do Mdb na Assembleia Legislativa, esteio da governabilidade da gestão Moisés pós-impeachments. Eles não têm nada a dizer sobre a tal roubalheira? Se o governador sabe mais, precisa compartilhar a informação – a sociedade exige e a lei determina.
No início do ano, escrevi sobre o grande dilema do senador Jorginho Mello (Pl), também pré-candidato a governador. Ele precisa construir seu projeto equilibrando a necessidade de ser e parecer bolsonarista à forma tradicional de fazer política que guiou sua longa carreira política. A fala de Moisés em Criciúma explicita uma contradição semelhante para o governador candidato à reeleição. Discursar sobre ter acabado com a suposta roubalheira de governos passados no mesmo palco em que recebe os aliados desses mesmos governos é um movimento que será cobrado – pelos adversários e pelo eleitor.
Hoje e pelo menos até abril, Moisés governa com a mesma base partidária de Raimundo Colombo, que é a mesma de Luiz Henrique da Silveira e que é, de certa forma e com exceção de alguns progressistas fiéis, a mesma que apoiou Esperidião Amin. É o centrão catarinense. Vai apoiar também o próximo governador de Santa Catarina: chame-se Moisés, Raimundo, Jorginho, Gean, Antídio, Dário, etc. O resto, é discurso de palanque.
Ouça a fala de Moisés sobre roubalheira:
Sobre a foto em destaque:
Moisés no palanque de Criciúma. Foto: Maurício Vieira, Secom.