O que foi isso que aconteceu ontem, gente?

Hoje é terça-feira, 19 de julho. Amanhã, dia 20, é a largada do prazo de 17 dias em que os 32 partidos políticos brasileiros estão autorizados a realizar convenções para definir os candidatos às vagas de presidente e vice-presidente da República, governadores de 27 Estados e o Distrito Federal, 27 senadores, 513 deputados federais e 1.059 deputados estaduais. Disputas que devem movimentar mais de 30 mil candidatos espalhados pelos Estados, fora uma multidão de cidadãos convocados, diretamente ou indiretamente – como nós, jornalistas – para trabalhar na impressionante e continental eleição brasileira. Dimensão expressa no mais importante desses números: os 156 milhões de eleitores aptos para votar nos cinco cargos em disputa no dia 2 de outubro, data do primeiro turno das eleições.

Esse deveria ser o foco do mundo da política e do eleitorado interessado a 75 dias da disputa. Quem vai concorrer, quem vai apoiar quem, quem chega mais forte, quem pode surpreender. É o que venho tentando responder aqui diariamente porque esse é o meu papel. Na segunda-feira, no entanto, o presidente Jair Bolsonaro (Pl) apresentou a cerca de 70 embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada suas teorias conspiratórias sobre um sistema eleitoral que elegeu todos os donos de mandato no país, inclusive os dele, dos filhos e da ex-mulher, nos últimos 24 anos. É o foco do mundo paralelo em que vivem o presidente da República e seus asseclas.

A pergunta que fica é se apenas a eleição presidencial estaria contaminada pelos rumores paranoicos que ecoam dos palácios do Planalto e da Alvorada ou se as demais disputas da gigantesca eleição brasileira também estão em xeque. Afinal, a partir de quarta-feira, os pré-candidatos começam a virar candidatos, ficam autorizados a pedir votos, abrir contas bancárias, receberem doações eleitorais, em breve estarão invadindo rádios e televisões com programas eleitorais e toda essa roda que gira e envolve todos nós. Para estas eleições, a urna eletrônica está sob suposta suspeita nos demais cargos?

Outra dúvida: os futuros candidatos do Pl, partido do presidente, comungam das teorias conspiratórias? O senador Jorginho Mello, pré-candidato a governador, acredita que a urna eletrônica que atestou sua improvável vitória na disputa pelo Senado em 2018 vai atrapalhar seus planos de comandar o Estado? Jorge Seif, pré-candidato a senador, tem esse temor? Os 17 pré-candidatos a deputados federais e os 41 a deputados federais – dez deles eleitos em 2018 no atual sistema – estão com medo da urna eletrônica? E os partidos aliados? O Progressistas de Esperidião Amin, o Republicanos de Carlos Moisés, endossam esse teatro?

Na eleição americana, em 2020, os partidários de Donald Trump, que também enfrentava uma polarizada disputa para permanecer no cargo, vilanizavam o sistema de voto por correspondência. Aqui, mais uma vez mimetizando narrativas, os bolsonaristas miram as urnas eletrônicas. Talvez, lá e cá, não gostem mesmo é do voto alheio, o voto de quem pensa diferente – a democracia, por si. Até porque o único voto 100% auditável é o voto aberto, não secreto, com nome, rosto e endereço e medo do vizinho que anda armado.

Voltando ao foco, vou continuar acompanhando os momentos decisivos da composição das candidaturas na eleição catarinense. Entre sábado e segunda-feira, devem ser respondidas algumas das principais dúvidas da definição dos palanques para o governo e o Senado em Santa Catarina. Vou trabalhar imaginando que teremos uma eleição e que seus resultados, apontados pela Justiça Eleitoral, valerão para vencedores e vencidos, sejam eles quem forem. Fora disso, nada faz sentido.


Sobre a foto em destaque:

Presidente Jair Bolsonaro, o tradutor de libras e os embaixadores estrangeiros que foram ao Alvorada ouvi-lo. Foto: Clauber Cleber Caetano, Presidente da República.

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