Uma das principais noivas da eleição catarinense é o Republicanos, antigo Prb, partido ligado à Igreja Universal. Não é à toa. Em 2018, em meio à onda conservadora que afetou fortemente as legendas tradicionais, ele conseguiu eleger 30 deputados federais e ficou praticamente equiparado em representação parlamentar a partidos de grande peso político como o Psd (35 deputados), Mdb (34) e Pl (33) e à frente de Psdb e Democratas (ambos com 29 deputados eleitos). Nas moedas da política, deputado federal é o dólar: é pela quantidade de eleitos que são calculados o tempo no horário eleitoral e o volume de recursos destinados aos fundos partidário e eleitoral.

Assim, o pequeno Republicanos virou um aliado de peso para qualquer projeto nas eleições de 2022 e isso fez com que esteja em disputa por três candidatos que devem protagonizar as eleições catarinenses: o governador Carlos Moisés (ex-Psl), o senador Jorginho Mello (Pl) e o prefeito florianopolitano Gean Loureiro (Democratas, futuro União Brasil). Como o interesse do Republicanos é extramente pragmatico – eleger deputados federais para manter o atual patamar e reeleger o deputado estadual Sérgio Motta, presidente estadual da legenda – está em vigor um verdadeiro leilão entre essas três nomes desde a metade do ano passado.

A princípio, leva o Republicanos quem garantir a filiação de nomes que garantam a melhor chapa de deputados estaduais e federais possível para o partido. Quem primeiro avançou sobre a legenda foi Gean Loureiro, pelo trânsito entre as igrejas evangélicas e pela escolha da legenda para a filiação do empresário Topázio Neto, eleito vice-prefeito em sua chapa na eleição de 2020. A conta é simples: Gean eleito governador, o Republicanos teria o prefeito da Capital. Mas prefeito não aumenta fundão. Como lidera um partido com pouca capilaridade no Estado, Gean já enfrenta dificuldades para formar sua própria chapa de deputados estaduais e federais, tendo menor condição de ceder nomes competitivos aos aliados.

A procura de partido, o governador Carlos Moisés também mirou o Republicanos para alicerçar seu bloco governista. Embora sem tradição e capilaridade no Estado, a legenda tem peso nacional suficiente para partidos maiores topem ser coadjuvantes do processo. As conversas travaram após uma ida de Moisés a Brasília para falar com o presidente nacional e deputado federal Marcos Pereira (Republicanos de São Paulo) em que o governador ouviu que a legenda não se importa com eleições locais, quer eleger deputados federais. A diálogo azedou diante do pedido de Moisés para ter o comando do partido, algo impensável para a cúpula nacional.

Por mais que algumas pontes tenham sido recriadas entre o Centro Administrativo e o Republicanos, a partir daí Moisés voltou-se para a opção de filiar-se e levar seu time de pré-candidatos a deputado estadual e federal para o pequeno Avante, que contará com menos de um terço do tempo de horário eleitoral e fundos a que tem direito o partido da Igreja Universal. Foi nesse flanco que entrou Jorginho Mello, especialmente após a filiação do presidente Jair Bolsonaro ao Partido Liberal (Pl). O Republicanos estará na aliança nacional com o Pl e a adesão em massa dos mandatários bolsonaristas fez com que o senador pudesse ter nomes para ceder ao aliado para robustecer suas chapas.

No entanto, nas últimas semanas cresceu uma hipótese que fez o Republicanos salivar e vislumbrar a chance de não precisar escolher entre Gean, Moisés e Jorginho. Avançaram as conversas com o empresário Luciano Hang, das Lojas Havan, pré-candidato ao Senado. Inicialmente, o polêmico empresário pretendia assumir o pequeno Patriota, do mesmo porte do Avante, para uma candidatura avulsa – descolada dos candidatos a governador. O Republicanos se interessou pela ideia de ficar solto na tabuleiro e mesmo assim ter um nome de evidência na majoritária, ligado diretamente ao bolsonarismo.

Hang já conversou com Marcos Pereira e com Sérgio Motta. Os relatos foram de que ambas as conversas foram boas. O Republicanos entraria com força na disputa por uma vaga no Senado e vê no empresário um chamariz para fortalecer suas chapas de deputado federal e estadual. Ao mesmo tempo, Hang vê um partido alinhado com seus interesses e posições políticas, além de ter um número de urna muito bom para o marketing: 10. Candidato ao Senado, Hang poderia ter o número 100.

Na construção da candidatura ao Senado, o empresário está atuando com uma discrição quase oposta à do garoto-propaganda das Lojas Havan que nos acostumamos nos últimos anos. Mas Hang sabe ser discreto quando quer e convém. Tanto que, durante muitos anos, essa discrição chegou a lançar dúvidas e boatos sobre quem seria o dono da Havan – que ele dissipou justamente com a ideia de virar o garoto-propaganda. É esse Hang discreto que havíamos esquecido que tem tudo para ganhar uma das noivas mais cobiçadas da eleição catarinense.


Sobre a foto em destaque:

Luciano Hang no dia em que depôs na Cpi da Covid, no Senado. Foto: Leopoldo Silva, Agência Senado.

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