Exatos quatro anos atrás, a Federação das Indústrias (Fiesc) encerrava o Seminário Catarinense de Marketing Político com um painel sobre os cenários pré-eleitorais que o Brasil e Santa Catarina viviam naqueles momentos em que antecediam a surpreendente eleição de 2018. Participei daquela conversa com outros três comentaristas políticos – Adelor Lessa, Cláudio Prisco e Roberto Azevedo – mediados por Paulo Alceu. Resgato aquele momento porque me impressionou, olhando de agora, a similaridade de algumas questões, embora sejam tão diferentes os cenários.

O Brasil e a Santa Catarina do final de abril de 2018 tinham governos tampão. No Planalto, Michel Temer (Mdb), ungido pelo impeachment da ex-colega de chapa Dilma Rousseff (Pt) pouco menos de dois anos antes. Na Casa d’Agronômica, Eduardo Pinho Moreira (Mdb), beneficiado pela renúncia de Raimundo Colombo (Psd) para concorrer a senador. Naquele momento, ambos eram possíveis nomes para a sucessão presidencial e de governador – mais o catarinense que o paulista -, mas não despertavam entusiasmo. Eram cenários abertos.

O Brasil e a Santa Catarina do final de abril de 2022 estão sob comando de nomes eleitos na urna (eletrônica, aliás) e candidatos claros à reeleição. São diferentes, claro. O presidente Jair Bolsonaro mobilizou o país quatro anos atrás e carregou com ele, sob o número 17, um bando de novatos na política da qual o governador Carlos Moisés fez parte. Quando falamos no evento da Fiesc, Moisés nem existia como figura política – era tesoureiro do Psl catarinense,  recém adquirido pelo amigo Lucas Esmeraldino, talvez a pessoa que mais acreditou que Bolsonaro geraria uma uma onda entre os eleitores catarinenses.

Na mesa de debate, nenhum dos jornalistas tinha a convicção de Esmeraldino. Bolsonaro era uma incógnita. Liderava pesquisas em que não constava o nome do ex-presidente Lula, à época preso em Curitiba e inelegível. Parecia mais um daqueles nomes que despontam no período pré-eleitoral antes que as composições políticas encaixassem e os exércitos de cabos eleitorais somados ao espaço generoso no horário eleitoral fizessem o jogo começar para valer. Todos pontuamos que o sentimento de antipolítica e a Operação Lava-Jato poderia trazer surpresas, mas até onde poderia ir a surpresa, ninguém cravou.

Em Santa Catarina, era claro que o fim da Era Luiz Henrique deixava o cenário menos previsível. A primeira eleição estadual sem o ex-governador e ex-senador levava a uma ruptura entre Mdb e Psd, sócios em três mandatos consecutivos. Apontamos ali que o Estado viveriam uma eleição sem favorito claro, mas nada indicava que os catarinenses estavam dispostos a encerrar aquele ciclo político com uma aposta no desconhecido – algo que se revelaria literal nas urnas.

Passados quatro anos, Bolsonaro não é mais um outsider da antipolítica, é o presidente da Republica apoiado por uma consistente base de apoio político – a consistência que se pode esperar do Centrão, claro. Mantém apoiadores fanáticos, mas enfrenta forte resistência também. Na pesquisa, como em abril de 2018, aparece atrás de Lula. Com a diferença de que dessa vez o petista pode e deve concorrer. Até onde vai Bolsonaro? Qual o tamanho eleitoral do barulho que vem das redes sociais? O contexto mudou, as perguntas são as mesmas. Se as questões me forem feita, a resposta continuará cautelosa.

Em Santa Catarina, o cenário é mais imprevisível que o de quatro anos atrás. A eleição de Moisés e seu descolamento de Bolsonaro produziram o efeito de espichar o fim de ciclo político que vivíamos em 2018. Mas também fizeram alguns personagens e partidos entrarem para um jogo em que antes eram aceitos apenas como meros coadjuvantes. Até 2018, eleger o governador de Santa Catarina parecia uma conversa reservada a Mdb, Psd e Progressistas, aceitando palpites do Psdb e do Pt.

Hoje, o governador está no Republicanos, o senador Jorginho Mello terá a mola propulsora do Partido Liberal, agora a legenda de Bolsonaro. Com um partido quase criado do zero, apesar dos escombros do Democratas e do Psl, Gean Loureiro (União) tenta dobrar os grandes para ser o candidato da tradição política. Essa tradição ensaia os retornos de Raimundo Colombo (Psd) e Esperidião Amin (Progressistas) e tem um novato com tintas bolsonaristas para oferecer pelo Mdb, Antídio Lunelli. A esquerda aposta na fragmentação dos adversários e na adesão de nomes como Dário Berger (ex-Mdb, hoje Psb) e Gelson Merisio (ex-Psd, hoje Solidariedade) para beliscar uma inédita vaga no segundo turno.

O ex-treinador César Luis Menotti, campeão mundial com a seleção Argentina na Copa de 1978, ironizava os comentaristas esportivos chamando-os de “os invictos”. Podiam dizer o que quisessem, porque no dia seguinte a vitória, a derrota ou o empate não era deles. O comentário político guarda alguma semelhança. Quem opina e analisa cenários eleitorais na imprensa, não perde eleições. Sempre brinco que o analista político faz uma espécie de previsão do tempo com menos instrumentos. E, pelo que vejo, vem tempestade.


Sobre a foto em destaque:

Em 25 de abril de 2018, Fiesc reuniu comentaristas políticos para falar do cenário pré-eleitoral. Foto: Júlio Cancellier, Divulgação.

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