Em 2018, os maiores partidos do Estado pagaram para ver na hora da definição das candidaturas a governador. E se arrependeram. As convenção partidárias, naquele ano, homologaram as candidaturas de Paulo Bauer pelo Psdb, Gelson Merisio pelo Psd, Esperidião Amin pelo Progressistas e Mauro Mariani pelo Mdb. Ainda viciados na lógica que imperou nas duas décadas anteriores de que o vencedor era aquele que fazia a maior composição política, os candidatos olharam para seus comboios e, insatisfeitos, voltaram para a mesa de negociações. Foi assim que, no último dia do prazo das convenções, o Psdb compôs com Mariani e o Progressistas se acertou com Merisio, fazendo os homologados Bauer e Amin tornarem-se, da noite para o dia, candidatos ao Senado.
Quatro anos depois, chegamos ao último dia do prazo legal para as convenções com o cenário ainda mais fragmentado que o de 2018, mas sem a mesma expectativa de um grande rearranjo de última hora nas composição. Um dos motivos está justamente lá na eleição passada: a conquista do desconhecido Comandante Moisés, atual Carlos Moisés, pelo nanico Psl, sem coligação, a bordo da onda eleitoral gerada pela vitória de Jair Bolsonaro na disputa pela presidência, indicou que a era das megacoligações como condição imperativa para vencer as eleições estaduais poderia ter chegado ao fim.
O cenário desenhado pelas convenções deve ser concluído nesta sexta-feira com o encontro do Partido Liberal (Pl), agremiação anabolizada pela filiação de Bolsonaro em 2021 e que conta com o senador e pré-candidato a governador Jorginho Mello como líder estadual. Ele tentará ser uma espécie de Moisés mais conhecido este ano. Não terá uma coligação, conta com pequeno suporte de prefeitos e vereadores, corre em chapa pura com uma policial de vice e um bolsonarista ao Senado. Tem, com ele, o mesmo número de urna de Bolsonaro, importante fator em um Estado em que a aprovação do presidente é umas das maiores do país. Será o 22 tão decisivo quanto foi o 17 quatro anos atrás?
A maior chance de aliança para Jorginho praticamente se esvaziou ontem, quinta-feira, com a confirmação de que a federação Psdb e Cidadania vai apoiar a candidatura de Esperidião Amin ao governo, indicando o ex-senador Dalírio Beber (Psdb) para a vaga de vice-governador. Nesta sexta-feira, a composição deve ser completada com o Ptb do pré-candidato a senador Kennedy Nunes, que deve ajudar a dar cores bolsonaristas à chapa. Amin é, hoje, o maior problema de Jorginho. O Progressistas está na coligação nacional de Bolsonaro e ambos têm boa relação. Com Amin no jogo, é difícil imaginar o presidente engajado no projeto do Pl em Santa Catarina.
Na outra ponta do espectro político catarinense, também existiria alguma margem para rearranjo na frente de esquerda – embora, a esta altura do campeonato, poucos acreditem nisso. Alijado da disputa ao Senado, o Pdt deixou a composição e colocou um bloco inteiro na rua: o ex-deputado federal Jorge Boeira ao governo, o ex-deputado estadual Dalmo Claro de vice e a vereadora itajaiense Hilda Deola como candidata ao Senado. A frente perdeu os brizolistas, mas consolidou o ex-deputado federal Décio Lima (Pt) ao governo e deve ganhar oficialmente nesta sexta, com a convenção do Psb, a candidatura à reeleição do senador Dário Berger e uma mulher vice: Marcilei Vignatti ou Bia Vargas.
Assim, com duas candidaturas no campo bolsonarista e duas nas esquerdas, o cenário ineditamente fragmentado se completa com outros dois nomes que disputam uma espécie de raia central. O governador Carlos Moisés (Republicanos) busca a reeleição desgarrado do bolsonarismo explícito, buscando compensação na envergadura estadual do tradicional Mdb – que lhe custou as duas vagas da majoritária, Udo Döhler vice e Celso Maldaner ao Senado – e na aposta em uma política de distribuição de recursos aos municípios que rende a gratidão de prefeitos de diversos partidos, mesmo os não coligados. Quase siamês em termos de construção, o ex-prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (União), também teve que sacrificar duas vagas majoritárias para garantir um partido tradicional na chapa, o Psd do candidato a vice Eron Giordani e de Raimundo Colombo, que disputará o Senado. Gean e Moisés vão tentar fugir da polarização nacional, estadualizar a eleição, sem deixar de piscar discretamente para o bolsonarismo. O bloco de candidaturas relevantes é completado pelo promotor Odair Tramontin, do Novo, em chapa pura.
Teremos sete candidaturas com peso, tradição e discurso. A partir de amanhã e, especialmente, dia 15, com os registros oficiais, começaremos a descobrir como o eleitor vai arbitrar as disputas das raias bolsonarista, centrista e esquerdista para construir um segundo turno que até agora é imprevisível.
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Foto: Antonio August, Secom/TSE