Sócios na composição do governo estadual entre 2011 e 2017, o Mdb e o Psd vivem momentos decisivos neste conflituoso fevereiro da política catarinense. A diferença é que emedebistas e pessedistas vivem este momento cada um a sua maneira. A disputa no Mdb sobre quem vai ser o candidato do partido ao governo se dá em campo aberto, em notas oficiais, entrevistas, discursos e reuniões com conteúdo logo vazado à imprensa. No Psd, as conversas ríspidas ficam entre quatro paredes, sem fotografias, e a conversa posterior é de que há alinhamento no desalinhamento. Não há crítica a um e elogio a outro, apenas constatações de estilos políticos que são marcantes e não surgiram agora.

O que fevereiro vai encaminhando é que os antigos parceiros eleitorais dificilmente estarão juntos em 2022 – da mesma forma que não estiveram em 2018, quando Gelson Merisio (ex-Psd, hoje Psdb) e Mauro Mariani (Mdb) fizeram de tudo para romper os últimos fios da costura feita por Luiz Henrique da Silveira e Jorge Bornhausen quando os pessedistas ainda estavam em seu habitat natural – o antigo Pfl. Nos últimos dias, enquanto assistimos com um pacote de pipoca na mão o Mdb caminhar para uma prévia para escolher o candidato a governador entre três nomes que a bancada estadual e boa parte dos prefeitos rejeitam porque querem apoiar a reeleição do governador Carlos Moisés (ex-Psl), o Psd vai caminhando para oficializar a candidatura do ex-governador Raimundo Colombo. Para isso, o lageano tem usado seu velho talento de não de mover enquanto espera as coisas lhe caírem perto das mãos.

Na terça-feira, Moisés e Colombo estavam na Assembleia Legislativa para cumprirem seus papeis na trama eleitoral. O primeiro foi cumprir o ritual de abrir o ano legislativo com um discurso ao parlamento. Aproveitou, claro, para mostrar e demonstrar a proximidade com a bancada emedebista – isso ficou claro na entrevista coletiva em dueto com o presidente Moacir Sopelsa (Mdb). Um pouco antes, Colombo estava por lá para participar da reunião ampliada da bancada pessedista – estava lá também o outro pré-candidato do partido ao governo, Napoleão Bernardes, cada vez mais cotado para concorrer a deputado estadual.

Na bancada, Colombo tem um aliado claro: o deputado estadual e presidente do Psd-SC, Milton Hobus. E tem um antagonista cordial no deputado estadual Júlio Garcia, que não demonstra nenhum entusiasmo pela nova candidatura do correligionário eleito em 2010 e 2014. Ele tem sido um dos articuladores da pré-candidatura do prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (União Brasil). Colombo diz que pode apoiar Gean, mas que para isso ele precisa mostrar que tem mais viabilidade eleitoral.

Como sempre acontece nas disputas do Psd catarinense, o presidente nacional Gilberto Kassab foi acionado para intervir. Como sempre acontece nas disputas do Psd catarinense, Kassab não interferiu. Foi nesse contexto que se deu a reunião de terça-feira. O discurso que atravessou a porta ao final do encontro é de que a bancada deu a Colombo e Hobus o brevê para negociar com outros partidos as vagas majoritárias. Júlio Garcia teria saído antes do fim do encontro, como quem joga a toalha, anunciando que tinha outros assuntos para tratar.

Moisés entrou e saiu da Alesc e o Mdb continuou em impasse. A reunião da manhã de quarta-feira entre a bancada e os pré-candidatos Celso Maldaner, presidente do Mdb-SC e formulador das regras da prévia, e Antídio Lunelli também não resolveu o impasse. Outra reunião será realizada no sábado, mas segue valendo o prazo desta quinta-feira, dia 10, como limite para inscrição dos nomes que vão fazer a disputa interna emedebista. Teve deputado estadual jurando que se tiver mesmo prévia, será boicotada por seus prefeitos e lideranças. Qual a legitimidade de uma eleição esvaziada? É a ameaça que ficou no ar.

No início da noite, começou a circular que o líder da bancada Valdir Cobalchini se inscreveria para as prévias. Candidato a governador ou biombo para o real candidato, Carlos Moisés, que se filiaria apenas em março? Será uma longa quinta-feira, mas – à parte isso – fevereiro vai enquadrando o jogo sucessório em dois dos três maiores partidos do Estado – com o Progressistas do senador Esperidião Amin olhando as brigas visíveis e invisíveis para saber com quem andará ou se andará sozinho em outubro.


Sobre a foto em destaque

Na terça-feira, Colombo e Moisés estiveram na Alesc. O lageano escapou das fotos. O governador não escapou de um abraço de Valdir Cobalchini. Foto: Bruno Collaço, Agência Al. 

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