A diferença entre uma solução engenhosa e um problema difícil de contornar às vezes é apenas o momento em que se aplica. Um exemplo prático disso é a prévia do MDB marcada para 15 de agosto deste ano para escolher o candidato a governador do partido nas eleições de 2022. Diante de três caminhos possíveis, a maior legenda do Estado optou por ouvir sua ampla base. Agora, no entanto, parte dos emedebistas veem a escolha por voto direto dos filiados como um bode na sala.

Quando o diretório estadual do MDB aprovou uma inédita prévia com participação de todos os 183 mil filiados em voto universal – o mesmo peso para todos, seja filiado, mandatário ou cacique – pareceu uma solução engenhosa para um partido que precisava mais do que escolher um nome para uma eleição, precisava se reconectar com uma base ainda machucada pelos resultados das eleições de 2018, quando a candidatura de Mauro Mariani amargou o terceiro lugar na disputa pelo governo. 

A disputa interna pela candidatura naquela eleição ficou marcada por um duelo entre caciques em busca de unção, nada dispostos a se submeter ao crivo das bases. Mariani levou porque fincou o pé, disse que se alguém mais quisesse almejar o cargo teria que fazer essa disputa interna. O então governador Eduardo Pinho Moreira e o então prefeito Udo Döhler, de Joinville, não quiseram rachar o partido e desistiram. O MDB marchou supostamente unido para uma disputa marcada por conflitos internos. 

Pós-eleição, o partido evitou lavar a roupa suja junto às bases. A disputa pelo comando estadual da sigla entre o deputado federal Celso Maldaner e o senador Dário Berger foi feita apenas entre os membros do diretório, com pequena vantagem para Maldaner. A eleição municipal mostrou um MDB ainda forte nos pequenos e médios municípios, mas perdendo fôlego nos maiores. Foi nesse contexto que veio a prévia.

Sempre digo que partidos de centro e centro-direita o Brasil tem dezenas, mas o único com torcida é o MDB. A reenergização da legenda em algum momento passará pela reconexão entre uma cúpula que envelheceu e uma base que ficou distante. A eleição e o mandato de Maldaner como presidente da sigla no Estado tem esse mote, aliás. E ele vem trabalhando nisso, diga-se de passagem. No entanto, a pouco mais de dois meses da histórica prévia emedebista há muita gente no partido querendo sua implosão.

O argumento será um dado da realidade que já existia: a pandemia do coronavírus. A verdade é que existem outros dois dados da realidade política que motivam essa tentativa de não fazer agora a disputa interna entre Celso Maldaner, Dário Berger e o prefeito Antídio Lunelli, de Jaraguá do Sul. O primeiro é o interesse da bancada do partido na Assembleia Legislativa, hoje o grupo mais coeso e forte dentro da legenda, de permanecer ocupando postos e secretarias no governo de Carlos Moisés (PSL). Com candidato previamente definido a governador, seria obrigatório o desembarque da sigla sob pena de afetar o discurso do escolhido em 2022. 

Outra leitura importante de bastidores é a constatação de que uma prévia tão antecipada vai criar fissuras talvez irrecuperáveis entre grupos e lideranças. Nos bastidores, fala-se no crescimento da pré-candidatura de Antídio, que quer ser definido como candidato o quanto antes. Teria, na última hora, caso necessário, o apoio de Maldaner contra Dário. Um movimento que poderia fazer o senador deixar a sigla em busca de outro pouso para disputar o governo do Estado em 2022 – o PSB está de olho. Precipitar esse racha seria desnecessário, segundo alguns.

Nesse caldo todo também há o desejo de alguns dos velhos caciques de manter o poder de escolha mais perto de si, mais aos modos antigos, aqueles que levaram o partido ao fracasso em 2018, mas que também fizeram a sigla vencer quatro eleições seguidas como governador ou vice entre 2002 e 2014.


Sobre a foto em destaque: 

Dário Berger, Celso Maldaner e Antídio Lunelli, os três pré-candidatos do MDB ao governo do Estado, no encontro regional do partido realizado em 7 de maio. Foto: Mateus Benhur, MDB-SC.

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