A prévia do MDB catarinense para definir o candidato a governador começou a ganhar cara de disputa interna. Na terça-feira, dois dos três postulantes estavam afiados em suas posições. Pela manhã, o deputado federal Celso Maldaner deu entrevista ao quadro Plenário, da Rádio Som Maior, em que explicitou o quanto fica bravo com as conversas de bastidor sobre adiamento ou cancelamento da disputa interna. À tarde, o senador Dário Berger apresentou requerimento ao diretório estadual questionando aspectos da disputa interna e a própria participação dupla de Maldaner – como pré-candidato e presidente estadual do partido.

Na conversa comigo e com o jornalista Adelor Lessa, Celso Maldaner chegou a ser ríspido ao negar que haja pressão interna contra a prévia e sobre a possibilidade de que haja um acordo antecipado para o MDB concorrer em chapa pura em 2022 para acomodar os interesses do trio de postulantes, com o prefeito Antídio Lunelli, de Jaraguá do Sul, na vaga de governador com Maldaner de vice e Dário disputando a reeleição ao Senado.

– Isso não existe, não é a cúpula que vai determinar. Vamos ouvir os 187 mil filiados. Aquele que for o vencedor entre os três pré-candidatos será o candidato a governador. Depois vamos conversar com outros partidos – garantiu Maldaner. 

Mas a entrevista também trouxe questões interessantes para o tabuleiro político e a relação entre o MDB e o governador Carlos Moisés (PSL). Primeiro, Maldaner reagiu com fidalguia ao questionamento de Adelor Lessa sobre a possibilidade de Moisés ingressar no partido. Com gentileza, apontou ao governador o lugar na fila emedebista:

– Se o governador Moisés quiser se filiar ao MDB será muito bem-vindo, assim como outras lideranças de outros partidos. Há muita especulação de que o Moisés vai para o PP, de que vem para o MDB. Mas o MDB já vai decidir seu candidato a governador no dia 15 de agosto. E para tanto os filiados devem se inscrever até o fim de junho no diretório estadual – disse Maldaner.

Correção: Por erro meu na transcrição da fala do deputado, a frase originalmente dizia que o fim da data para inscrição na prévia era 15 de junho. A data correta é 30 de junho.

O deputado federal foi objetivo ao responder à pergunta que fiz sobre o MDB desembarcar dos cargos no governo Moisés após definir o candidato ao governo na prévia de 15 de agosto. Disse não ver “motivo nenhum para que os deputados estaduais deixem na estrada o governador Moisés”, que a bancada está ajudando a governabilidade “a favor de Santa Catarina”.

O dirigente emedebista creditou à imprensa as informações sobre setores descontentes com a prévia do MDB. Pareceu uma senha para o forte gesto que o adversário interno Dário Berger tomaria à tarde. O senador protocolou requerimento ao diretório estadual pedindo a regulamentação das prévias – modalidade de voto (eletrônico ou manual), fiscalização, quórum, identificação dos eleitores, entre outras questões ainda não formalizadas. Pediu, ainda, o que deve ajudar a incendiar a disputa interna, que Maldaner “se licencie da presidência estadual do partido, dedicando-se exclusivamente à candidatura, garantindo, assim, o princípio da igualdade entre os postulantes”.

Mas é o terceiro item do requerimento de Dário que mais dialoga com as conversas de bastidor do MDB. Pede que as três candidaturas se mantenham efetivamente até o fim da disputa – uma referência quase explícita de um suposto arranjo entre Maldaner e Lunelli na reta final. Esse trecho era sucinto assim na versão original do documento, mas ganhou no texto final uma regra: caso algum pré-candidato desista, a prévia é adiada em 60 dias.

Terceiro nome na disputa e ganhando terreno, Lunelli não entrou nessa bola dividida. Certamente será questionado internamente por nomes históricos do partido sobre as declarações que deu ao jornalista Marcelo Lula com elogios ao regime militar. Ainda há quem lembre que o Movimento Democrático Brasileiro, conhecido como MDB, foi criado para combater a ditadura – não para fumar maconha sob coqueiros, como disse de forma infeliz o prefeito de Jaraguá do Sul sobre a oposição ao regime de exceção. Os próximos rounds devem ser presenciais, nos encontros regionais do partido em São José e Criciúma.


Sobre a foto em destaque:

Antídio Lunelli, Celso Maldaner e Dário Berger tem protagonizado uma disputa interna pela candidatura do MDB ao governo do Estado até agora marcada por cordialidade. Mas questionamentos do senador devem esquentar a disputa. Foto: Facebook de Dário Berger, sem indicação de autoria.

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