O cartunista Galvão, que você conhece das charges de sexta-feira aqui no Upiara Online, iniciou 2022 com uma série de tiras que retrata bem a expectativa que existe para as eleições presidenciais. Reproduzo a primeira, do dia primeiro de janeiro – elas vão continuar, com o mesmo texto nos balões dos personagens até dia 2 de outubro, data do primeiro turno. O Brasil vive a expectativa de uma disputa entre duas figuras que mexem com paixões e ódios e que vão polarizar a disputa como poucas vezes se viu no país.
Quem costuma me ler sabe que venho dizendo desde 2021 que já estávamos vivendo um segundo turno antecipado entre o presidente Jair Bolsonaro (Pl) e o ex-presidente Lula (Pt) – e que a única esperança de uma terceira via se consolidar seria justamente o desgaste causado por esse confronto antecipado. Pois o ano terminou sem sinais desse desgaste. Pelo contrário, mas pesquisas todas indicam consolidação do quadro e muita dificuldade para quem quer substituir um ou outro no segundo turno de alcancar o décimo dígito percentual.
Nesta segunda-feira, reportagem da Folha de S. Paulo mostra que setores do PIB nacional – indústria, agronegócio, mercado – começaram a desistir da chamada terceira via e fazer sua projeções de futuro baseados nos cenários que hoje parecem inescapáveis: a volta de Lula ao Planalto, a reeleição de Bolsonaro. Vale uma leitura desapaixonada.
Um componente a consolidar a polarização é justamente a liderança que o petista apresenta nas pesquisas. Quando quem tem a máquina do poder nas mãos (mesmo que compartilhada com o Centrão) está na frente, pode ignorar o opositor – e é até melhor que o faça. Atrás, precisa antecipar o debate, mostrar força, torcida. Por isso, assistimos a esse confronto precoce dos exércitos bolsonarista e lulista nas redes sociais. Até porque, à parte as diferenças fundamentais que os separam, eles precisam um do outro. Lula quer Bolsonaro no segundo turno e vice-versa.
Outra coisa que eles têm em comum – e acho que posso falar isso sem ofender nenhum dos lados – é o diálogo direto com a maioria do eleitorado. Cada um a seu estilo, é claro, eles sabem parecer autênticos em meio a um mar de políticos moldados pelo marketing ou excessivamente enfadonhos no seu tecnicismo, burocratismo e economês (João Santana deve estar tendo trabalho com Ciro Gomes).
Com mais de 70% do eleitorado hoje capturado por Lula e Bolsonaro, há pouca margem até para encaixar um discurso alternativo. Ciro e o governador paulista João Dória apostam em um perigoso caminho do “anti anti”. Ou seja, um discurso fortemente crítico a ambos os polos (digo polos, não extremos, repare bem). Quando o tucano esteve em Florianópolis com discurso pesado contra o presidente e o ex-presidente, na mesma medida, ouvi um político catarinense comentar: “batendo desse jeito nos dois, ele vai pegar voto onde?”.
E por falar em Santa Catarina, a consolidação da polarização nacional entre Lula e Bolsonaro tem e terá ainda mais efeitos por aqui. Há poucos meses, o cenário era de disputa por qualquer pedacinho de apoio do presidente – considerando ainda os efeitos da votação estrondosa que ele teve por aqui em 2018. O crescimento do petista fez a raia da centro-esquerda ficar mais atrativa como uma pista livre para o segundo turno em caso de ampla pulverização de candidaturas. Tem muita gente de olho, inclusive fora da centro-esquerda.
Aqui no Estado, a primeira expectativa não é 2 de outubro, é 2 de abril – a data final para renúncia dos prefeitos que querem ser candidatos em 2022. Se Gean Loureiro (Democratas, futuro União Brasil) e Antídio Lunelli (Mdb) deixarem os cargos em Florianópolis e Jaraguá do Sul, a perpectiva múltiplas candidaturas pode se consolidar. Se desistirem, abrem caminho para um confronto entre o governador Carlos Moisés (ex-Psl) e o ex-governador Raimundo Colombo (Psd). Um cenário de quatro ou cinco candidaturas – incluindo aí o bloco de centro-esquerda liderado pelo Pt de Décio Lima ou pelo Psb de (ainda não filiados) Dário Berger/Jorge Boeira, a frente bolsonarista com Jorginho Mello (Pl) e a sempre possível candidatura de Esperidião Amin (Progressistas).
Difícil, no entanto, será chamar atenção para a eleição estadual em meio à disputa entre Bolsonaro e Lula. Pelo que vivemos neste momento de segundo turno antecipado, quando a campanha começar para valer vai ser um tsunami.