O deputado estadual Ivan Naatz (PL) é um dos políticos catarinenses mais organicamente ativos nas redes sociais. Não só aquelas contas tocadas por assessorias competentes, mas uma participação como usuário comum – que fala de futebol, desabafa, manda recados. Na tarde de segunda-feira, ele recorreu ao X – antigo Twitter – para defender que o filho do governador Jorginho Mello (PL), o advogado Filipe Mello (PL), “já deveria estar no secretariado“. Segundo Naatz, “sua experiência de gestão pública e seu conhecimento jurídico seriam fundamentais para o sucesso do governo” do pai.
Não se trata de mera opinião fortuita. Ivan Naatz vocalizou uma articulação que já existe no parlamento estadual e que tem na mira uma possível mudança de comando na Secretaria da Casa Civil, hoje comandada por Estener Soratto – deputado estadual licenciado. A narrativa que se constrói para justificar a troca de comando passa pelo foco que Soratto tem dado à sucessão em Tubarão, onde deve ser candidato a prefeito em 2024, e pela maior proximidade de Filipe Mello de Jorginho para avalizar os acordos políticos. Na prática, Filipe já atua como um articulador sem cargo e é presença constante nos corredores da Assembleia Legislativa.
Sua nomeação para o secretariado de Jorginho esteve na pauta antes da posse do governador. Na época, prevaleceu o entendimento de que poderia causar desgaste junto à opinião pública, na largada do novo governo, a nomeação do filho do governador. Assim, Filipe tornou-se uma espécie de secretário sem pasta.
Experiência, como disse Naatz, o filho do governador tem. No governo Raimundo Colombo (PSD), entre 2011 e 2016, ocupou três secretarias: Planejamento, Articulação Internacional e Turismo, Cultura e Esporte. Depois, teve uma breve passagem pela Casa Civil da prefeitura de Florianópolis, no início do primeiro mandato de Gean Loureiro, em 2017. Impedimento legal também não há. Desde 2008, o Supremo Tribunal Federal (STF) entende que as regras contra nepotismo não se enquadram no caso de agentes políticos – e secretários de Estado são considerados assim.
Até o momento, as dificuldades de articulação política do governo Jorginho foram percebidas apenas por antenas muito aguçadas – especialmente levando em conta que o governo aprovou sem dificuldades sua reforma administrativa e a maior promessa do governador na campanha eleitoral: a compra de vagas do sistema Acafe dentro do programa Universidade Gratuita. Mas a escalação de dois deputados de primeiro mandato para a articulação direta com a Alesc – Soratto na Casa Civil e Edilson Massocco na liderança do governo -, sempre foi questionada ou ironizada nas demais bancadas. As vitórias de Jorginho passaram pela composição e ou aval de outros líderes políticos, notadamente o presidente da Alesc, Mauro de Nadal (MDB), e o deputado estadual Júlio Garcia (PSD), fiador da atual composição da mesa diretora e da presidências de comissão no parlamento estadual.
Por enquanto, Filipe Mello tem deixado que o nome circule. Soratto já desmentiu, inclusive em nota oficial ao colega Marcelo Lula, que vá deixar o governo antes de abril do ano que vem – prazo final para poder concorrer a prefeito de Tubarão. O clima para a substituição já esteve mais forte e é nítida a preocupação no Centro Administrativo para evitar o desgaste político ao secretário/deputado que é favorito para a disputa da prefeitura em 2024. Uma possível determinação de Jorginho para que os secretários que serão candidatos deixem os cargos na virada do ano não está descartada.
Resta saber se o post de Naatz é a retomada mais evidente de uma articulação que andava morna ou se foi uma fala solta sem propósito. Quem tem Twitter (agora X), entende, não é mesmo?
Sobre a imagem em destaque:
O post (antiga tuitada) de Naatz na madrugada. Imagem: Reprodução.