Este não é um site de apostas, mas vou me permitir abrir o texto com uma: o presidente Jair Bolsonaro não vai se filiar ao Progressistas. Ex-colega de partido, o senador Esperidião Amin tem repetido que “ninguém se perde no caminho de volta para casa”, em um misto de incentivo e torcida para que o presidente retorne às fileiras da legenda em que foi filiado entre 2005 e 2018. No entanto, os motivos que levaram Bolsonaro a deixar o Progressistas ajudam a explicar porque é tão difícil que retorne, mesmo com o aprofundamento das relações com o Centrão, simbolizado pela provável nomeação do senador Ciro Nogueira (Progressistas-Piauí) na Casa Civil do governo federal.
O deputado federal Jair Bolsonaro deixou o Progressistas (na época Partido Progressista, Pp) porque queria ser candidato a presidente da República. Mesmo que já apresentasse uma engajada militância nas redes sociais e alguns pontos nas primeiras pesquisas presidenciais, a continuidade na legenda e a candidatura presidencial eram incompatíveis. Não porque Bolsonaro fosse, ainda, considerado um azarão, mas pela própria natureza do partido. Assim como o antípoda histórico Mdb, o Progressistas herdou o gigantismo e a capilaridade do período em que o Brasil viveu o bipartidarismo no regime militar. Em tempos democráticos, ambos os partidos viraram confederações de sublegendas estaduais, cada uma com seus chefetes e projetos. Candidaturas presidenciais gastam energia e atrapalham os palanques locais.
Por isso, a última candidatura presidencial do Progressistas foi no longínquo 1994, quando partido ainda se chamava Ppr (Partido Progressista Reformador) e o candidato foi justamente o catarinense Esperidião Amin, com desempenho modesto. Foi cristianizado, como dizem na política quando as bases do partido deixam seu candidato na estrada. Naquela disputa, a base progressista estava com o tucano Fernando Henrique Cardoso (Psdb), eleito em primeiro turno. Depois a legenda alternou apoios oficiais ou extraoficiais a tucanos e petistas e ficou marcado em escândalos como o Mensalão e o Petrolão. Hoje é a célula-mãe do que conhecemos como Centrão.
Não é por isso que Bolsonaro não vai voltar ao Progressistas, aposta minha que repito e enfatizo. O presidente até andou dizendo que já foi Centrão, por ter sido progressista, e que o termo é só um apelido não-carinhoso dado por um ex-parlamentar. A frase é mera desculpa para um acordo incômodo. Mesmo filiado ao antigo Pp, Bolsonaro nunca foi um deputado do Centrão, porque é característica básica do grupo apoiar qualquer governo que o contemple com cargos, verbas e afagos. Essa crítica Bolsonaro não merece, assim como Amin. Eram outsiders – tanto que passaram incólumes por delações e investigações do quadrilhão progressista. Mas não é por isso que não acredito na volta do presidente ao antigo partido.
A mesma lógica que impediu o Progressistas de ter candidato a presidente nos últimos 27 anos afeta diretamente os planos de Bolsonaro para sua candidatura à reeleição. Todos os movimentos do presidente desde que deixou o Psl em 2019 foram no sentido de buscar uma legenda em que tivesse controle nacional e também nos Estados. Era assim com a tentativa de criar o Aliança pelo Brasil, malsucedida para a disputa de 2022, e nas negociações para adonar-se de uma legenda pouco representativa em que pudesse repetir o que fez no Psl em 2018. A condição de presidente candidato à reeleição e a possibilidade de ocupar ainda mais espaços no governo até poderiam fazer com que o Progressistas deixasse de lado o hábito de não disputar o Planalto, mas jamais faria a legenda entregar o comando dos diretórios estaduais para o bolsonarismo.
Se Bolsonaro encarasse a empreitada, as negociações de chapas nos estaduais ficariam mais complexas. Em Santa Catarina, por exemplo, como imaginar que Amin não fosse candidato a governador se pudesse ostentar a condição de candidato do partido do presidente? Ou quem sabe lideranças bolsonaristas com mandato, como o deputado federal Daniel Freitas, e sem mandato, como a coordenadora regional da Embratur Júlia Zanatta, discutindo chapa proporcional com o sempre secretário-geral Aldo Rosa? Essa lógica se reproduz em maior ou menor grau nos demais Estados. Não, não acredito que Bolsonaro volte para o Progressistas.
A tendência é que o presidente continue postergando a decisão, enquanto conversa com pequenas e médias legendas em busca de uma oferta de ocasião. Envolvido em disputas internas, o Patriota parece momentaneamente fora do jogo – apesar de ter filiado o senador Flávio Bolsonaro. Em entrevista à Rádio Som Maior, o senador catarinense Jorginho Mello (Pl) disse que a bola da vez é o Partido da Mulher Brasileira (Pmb), que passaria por uma cirurgia completa para se tornar o Brasil38, mudando inclusive o número, que hoje é 35. Até o Democracia Cristã, do eterno candidato a presidente José Maria Eymael entrou nas especulações. Nesse, talvez Bolsonaro tivesse que aceitar a vaga de vice-presidente.
Ironias à parte, aproveitei a passagem do deputado federal e filho 03 Eduardo Bolsonaro (Psl-São Paulo) por Florianópolis para gravar uma entrevista – a Conversa em Dia que publico aos domingos aqui no site – fiz a pergunta sobre o futuro partidário do presidente – e dele, por tabela. Fiquei na mesma.
– Esse é um assunto que eu faço questão de não saber, porque já sei que é uma história conturbada, essa questão partidária. E eu não tenho muito o que pensar: eu vou para onde o presidente for. Nem me estresso com isso – disse Eduardo Bolsonaro.
– Nem palpita? – insisti.
– Não, porque é muito incerto. Como você disse, ele já voltou para o Psl, já se ajeitou para ir para o Partido da Mulher (Pmb), estava certo no Patriota e ele mesmo fala “ah, tem o Pp, ali”. Então, eu prefiro nem opinar para não causar alvoroço.
Enfim, façam vocês suas apostas, que eu fiz a minha.
Sobre a foto em destaque:
O senador Esperidião Amin pode até puxar, mas é muito improvável que o presidente Jair Bolsonaro opte pela filiação ao Progressistas. Foto: Alan Santos, Presidência da República.