Ex-vereador, ex-deputado estadual por quatro mandatos, ex-presidente da Assembleia Legislativa, casa em que foi líder de governo e de oposição, Joares Ponticelli (Progressistas) agora também é ex-prefeito de Tubarão. A renúncia ao cargo para qual foi reeleito em 2020 com 67,2% dos votos foi oficializada em uma breve carta, menos de duas páginas, em que resumiu essa trajetória de quase 27 anos na política catarinense, enviada para o presidente interino da Câmara de Vereadores de Tubarão, Jairo Cascaes. O movimento, somado à renúncia do vice-prefeito Caio Tokarski (União Brasil) vai possibilitar a realização de nova eleição para prefeito e vice da cidade que vem sendo governada desde 14 de fevereiro pelo presidente da Câmara, Gelson Bento (Progressistas) – data em que Ponticelli e Tokarski foram presos preventivamente no âmbito da Operação Mensageiro.
O agora ex-prefeito teve a prisão revogada dia 29 de junho em decisão da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça (TJ-SC) – que, no entanto, estendeu o afastamento de Ponticelli da prefeitura por mais seis meses, ao mesmo tempo em que rejeitava a libertação de Tokarski. Foi nesse contexto, que a renúncia foi definida. “Sei que muitos, assim como eu, gostariam de me ver reassumindo o mandato, mas não tenho o direito de pedir que me esperem por mais esse longo período, para não prejudicar o desenvolvimento da nossa cidade, pela qual tanto trabalhamos e nos doamos, que não resiste a tão longa interinidade”, disse Ponticelli na carta de renúncia.
Ponticelli é réu da Operação Mensageiro desde 27 de abril, quando foi a aceita a denúncia do Ministério Público (MP-SC), que o acusa de receber propina para favorecer empresa Serrana na prestação de serviços de saneamento na cidade. Em sua carta, o ex-prefeito diz esperar “ao final desse doloroso processo, provar minha inocência e que não desonrei a confiança que me foi depositada ao longo desses 27 anos de vida pública”. Ponticelli também diz que escreveu um diário ao longo dos “135 dias de cárcere”, que ele espera ver publicado e debatido, “especialmente nas faculdades de direito e afins, quando esse processo terminar”.
O movimento de Ponticelli e Tokarski busca distensionar a política local e abrir novas possibilidades para a defesa no campo jurídico. Com a renúncia dupla, foi deflagrado um processo eleitoral indireto – ou seja, os vereadores vão eleger o próximo prefeito, como determina a Lei Orgânica do Município. É a chance de fazer a sucessão dentro do grupo político que comanda a cidade desde 2017, quando Ponticelli assumiu a prefeitura. Além disso, se a renúncia viesse depois da abertura de um processo de cassação pelo Legislativo, ele estaria automaticamente enquadrado na Lei Ficha Limpa mesmo que futuramente seja absolvido na Justiça. É no Judiciário, no entanto, que reside a principal aposta da renúncia de Ponticelli: sem o foro privilegiado como prefeito, o caso deixaria o Tribunal de Justiça e seria analisado em primeira instância.
Ponticelli sabe que a carreira política que construiu nos últimos 27 anos provavelmente terá seu ponto final na carta de renúncia entregue na noite de domingo à Câmara de Vereadores, justamente onde tudo começou. Nesse longo período na política catarinense, manejou como poucos as palavras e a capacidade de articulação. É neles que o ex-prefeito e ex-deputado estadual parece confiar para lutar por sua biografia.
Leia a íntegra da carta:
Sobre a foto em destaque:
Joares Ponticelli. Foto: Rodolfo Espínola, Agência AL.