Diz uma regra não escrita que quem não tem candidato a governador um ano antes das eleições está fora do jogo do majoritária. Essa lógica produz um efeito inédito em Santa Catarina, resultado da pulverização das forças partidárias e da falta de favoritos claros para a disputa de 2022, que é uma quantidade quase incontável de pré-candidaturas a governador. No fim de semana, o prefeito Fabrício de Oliveira (Podemos), de Balneário Camboriú, somou-se a esse time.

O Podemos reuniu a executiva estadual e outras lideranças em Balneário Camboriú no sábado para formalizar essa condição, que Fabrício já era pleiteava. Anunciou também que o ex-deputado federal Paulinho Bornhausen, que é presidente de honra do partido no Estado, é o pré-candidato ao Senado. A ideia é que a dupla percorra o Estado junto com o presidente estadual Camilo Martins, ex-prefeito de Palhoça, para consolidar o projeto do partido.

2022 vai representar para o Podemos maior desafio de uma ousada migração promovida a partir de 2019, quando o grupo político ligado a Paulinho Bornhausen abandonou o Psb catarinense em fuga das posições mais à esquerda adotadas pela cúpula nacional da sigla após a morte do ex-governador pernambucano Eduardo Campos – responsável pelo ingresso do grupo catarinense. Foi um processo penoso, com ações judiciais e ameaça de perda de mandato para o deputado federal Rodrigo Coelho e os deputados estaduais Laércio Schuster, Nazareno Martins e Bruno Souza. Os três primeiros continuam formalmente filiados ao Psb, mas estão no projeto do Podemos. Bruno Souza optou pelo Novo.

Assim, o Podemos vai disputar sua primeira eleição estadual, mas não começa do zero. O ex-Psb elegeu dois estaduais em 2014 e esteve perto de fazer Paulinho senador, no embate contra Dário Berger (Mdb). Em 2018, foram eleitos os três parlamentares citados no parágrafo anterior, sem participação na majoritária. Naquela disputa, formalmente o Podemos estava no jogo, mas como coadjuvante dos coadjuvantes na chapa que apoiava Gelson Merisio (então Psd) ao governo do Estado. Esta é a primeira para valer.

Já na fase dos ex-socialistas, o Podemos conquistou as prefeituras de Blumenau, com Mário Hildebrandt, e Balneário Camboriú, com Fabrício. Postos mantidos, já que ambos estavam no Psb quando assumiram os cargos. Eleito com impressionantes 71% dos votos em Blumenau, Hildebrandt não é candidato porque ainda não viveu um mandato cheio como prefeito – era vice de Napoleão Bernardes (hoje no Psd) até 2018. Filiou, ainda, o prefeito Eduardo Freccia (Psd), de Palhoça, quando Camilo Martins assumiu a sigla este ano.

Até sábado, o Podemos estava focado na construção de chapas para deputado estadual e federal e na polêmica interna sobre a filiação da deputada estadual Paulinha (ex-Pdt), que não avançou. Agora, tenta um lugar na mesa das composições de 2022, com pré-candidatos a governador e senador. Hoje tem peso para pleitear pelo menos uma vaga em uma composição maior, mas ainda não desistiu de filiar figuras que encorpem o projeto.

É nesse contexto que Fabrício tem condições de repetir Leonel Pavan (Psdb), que em 2002 renunciou à prefeitura da mesma Balneário Camboriú para entrar no jogo da majoritária. Acabou senador na chapa de Luiz Henrique da Silveira – derrubando um rol de favoritos que incluía o próprio Paulinho Bornhausen, filiado na época ao Pfl – célula base dos atuais Democratas, Psd e Podemos. Sem mandato desde 2014, Bornhausen chegou a cogitar disputar uma vaga de deputado federal, mas aparentemente desistiu do projeto para não melindrar outros possíveis candidatos.

No evento em Balneário Camboriú, Fabrício disse que o Podemos precisa “ter coragem para caminhar o Estado de Santa Catarina de cabeça erguida, para trilharmos um caminho de um diálogo fraterno, colocando Santa Catarina onde ela merece estar, como o Estado mais próspero deste país”. Bornhausen, por sua vez, afirmou querer “ter uma grande bancada federal, estadual e também pretendemos ter um nome ao governo do Estado, que é o do jovem Fabrício Oliveira, prefeito de Balneário Camboriú, para que possamos fazer de maneira honesta, o que o povo catarinense merece”.

Os discursos estão alinhados. Agora só falta o Centro Administrativo parar de acreditar que o verdadeiro nome do Podemos é Merisio.


Sobre a foto em destaque:

Fabrício de Oliveira, discursa no evento do Podemos em Balneário Camboriú, com Mário Hildebrant (ao centro) e Paulinho Bornhausen. Foto: Ivan Rupp, Divulgação.

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