O MDB catarinense precisa definir um caminho próprio que não esteja acoplado ao governo de Jorginho Mello (PL). Essa é a visão do ex-governador Eduardo Pinho Moreira, que entende que a participação do partido na atual gestão contribui para o próprio encolhimento da legenda em Santa Catarina – de forma “lenta e gradual”. No âmbito federal, Pinho Moreira afirma que o partido precisa “sair de cima do muro” e tomar posição em relação ao governo Lula (PT) – muito mais de forma favorável do que desfavorável.

Entrevistado por Adelor Lessa, Maga Stopassoli e Upiara Boschi no programa Parlatório, o ex-governador afirma que uma reunião da executiva estadual do partido com os deputados estaduais em fevereiro apontava para a não participação no governo Jorginho, mas que a posição mudou por um apelo do deputado estadual Jerry Comper, atual secretário estadual da Infraestrutura.

– O Mauro de Nadal pediu para que não entrássemos no governo, pois até a madrugada do dia da eleição na Assembleia, o Jorginho tentou derrota-lo. O Antídio pediu para não entrar. Eu disse: ‘amanhã entrego o cargo de diretor do BRDE. Mas nós não devemos entrar no governo’. Aí o Jerry disse que queria ter a experiência de ser secretário de Estado. Ele está lá, na sala.

Ainda, os deputados estaduais emedebistas, a exemplo de Tiago Zilli, precisariam firmar posição longe da gestão de Jorginho – por se tratar de um projeto paralelo que contribuiria para encolher ainda mais o MDB.

– O jogo político é estar dentro do MDB ou dentro do projeto do Jorginho Mello? O MDB vai ter que optar, e minha opção é um projeto novo para Santa Catarina. Se o MDB seguir lá, eu não estarei junto.

A análise do ex-governador parte do fato que o PL, enquanto partido do ex-presidente Jair Bolsonaro e do governador do Estado, tenda a crescer nas próximas eleições municipais. Para evitar que os liberais cresçam para cima do MDB, Pinho Moreira defende o retorno ao trabalho de base – freando a diminuição de prefeitos e vereadores emedebistas.

– Somos uma força que ainda existe, que tem que ser incensada pela presença dos líderes. Um líder não vai pra casa. É fácil para o Ronaldo [Benedet] ou o [Luiz Fernando] Vampiro irem para casa. Não acredito que o Ronaldo esteja em casa, pois está meio que na coordenação regional, mas tem que participar. Fazer aquilo que nós fizemos. Fazer a construção que fizemos no passado. Esse trabalho tem que ser feito. Com resultados iguais no passado? Não. Mas diminuiríamos mais lentamente.

Outro passo, segundo o ex-governador, é se desvincular da imagem de ser um partido “morno” – isso é, tomar posições contundentes e sair do muro da mesmice.

– Acho que tem que ter posição. Dava graça ser político, pois você estava de um lado naquelas guerras dentro da Assembleia Legislativa, contra o Pedro Ivo, depois contra o Paulo Afonso, o MDB contra o Esperidião Amin, havia posições claras. Imagino que agora estejamos em um processo que vai passar. O Jorginho, em 2018, quando Moisés e Bolsonaro ganharam a eleição, ele disse que é ‘um febrão. Vai passar’. Não passou, tanto que ele continuou na febre.

O “nem lá nem cá” no MDB se repete na Câmara dos Deputados, em que alguns dos parlamentares, mais simpáticos à gestão de Lula (PT), votam em favor das propostas do governo federal; enquanto outros emulam a oposição ferrenha “no grito”. Citando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), Pinho Moreira defende que os deputados de seu partido assumam posição clara e coesa – se distanciando das paixões ideológicas.

– Temos um exemplo, hoje, que é o governador de São Paulo. Ele se elegeu pelo peso do Bolsonaro, indiscutivelmente, mas tem posições claras pois ele raciocina, tem intelecto, é um homem com formação forte. Ele não se submente às histerias coletivas. É isso que o parlamentar tem que fazer. Não adianta ser contra ou ser a favor, temos que ser a favor de Santa Catarina. Se uma ação for boa para nosso Estado, é o que importa ao parlamentar.

Governador em 2018, quando Jorginho alçou vaga ao Senado, Pinho Moreira o avalia como “astuto” – à época, o atual governador fazia visitas frequentes à Casa d’Agronômica para costurar sua candidatura. Segundo Pinho Moreira, dada a fragilidade do então pré-candidato Mauro Mariani, o MDB optou por lançar Ivete da Silveira como suplente de Jorginho. No entanto, essa capacidade de “fazer conta” deve ser posta em prática na gestão estadual.

– Eu escutei uma frase recente, que ‘o Jorginho é um ladino’. Ele usa aquele jeito meio povão dele, meio bronco, mas é extremamente astuto. Não dá para tirar mérito dele. Mas é um governo de muita propaganda, de muito diz que vai fazer. Que a Celesc vai investir R$ 5 bilhões, que vai investir R$ 1 bilhão e tanto de estrada, que está buscando financiamento no BNDES e no Banco Mundial. Qualquer financiamento no Banco Mundial demora três, quatro, cinco anos para sair. Ele pegou o Estado numa situação financeira extremamente positiva, não tinha nenhuma conta atrasada. Essa conversa que tinha não sei quantos milhões, não tinha. Tentaram colocar no Moisés, e o Moisés não soube vender a sua verdade, a realidade do fato.

Moisés, por vez, seria o “anti-ladino”. Pinho Moreira diz que, durante a transição, por vezes alertou o ex-governador sobre “demagogias” eleitorais que não poderiam ser cumpridas – a exemplo de cortar o “cafezinho” dos servidores.

– Ele também não acreditou na imprensa tradicional. Ele achava que as redes sociais dele eram superiores ao trabalho que os jornalistas responsáveis fazem. Quando ele tentou corrigir, já era tarde. Alertei, eu disse ‘Moisés, não se esqueça que você ganhou por causa do 17’. Ele disse que não, que ‘desde o primeiro dia, percebi uma aceitação às minhas ideias’. Mas passou, ele é uma bela pessoa, e espero que ele retorne agora na prefeitura de Tubarão.

Assista na íntegra o Parlatório com Eduardo Pinho Moreira:

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