Sempre gostei de comparar a análise política com a previsão do tempo. Não porque ambos estão sujeitos a erros, é claro, mas porque as previsões se baseiam em cenários que podem mudar por conta de diversos fatores. A pesquisa eleitoral é um importante instrumento de análise e a nova rodada do Ipec em Santa Catarina ajuda a fazer esse paralelo entre comentaristas e meteorologistas.

Os números da pesquisa ganham mais destaque na divulgação e mais atenção do eleitor, mas neste momento da campanha eleitoral, a 11 dias da urna, mais importantes que eles são as linhas que cada candidato traça com suas intenções de voto. É como se os percentuais alcançados por cada candidato fossem as nuvens e a linha no gráfico fosse o vento.

Assim, a nova rodada de pesquisas contratada pela Nsc Comunicação que mostra um inacreditável empate quádruplo na margem de erro de três pontos percentuais, também aponta para onde o vento está soprando. Numericamente – a posição das nuvens – o governador Carlos Moisés (Republicanos) continua líder, mas agora empatado com Jorginho Mello (Partido Liberal) com 20% das intenções de voto. O governador perdeu três pontos, o senador subiu quatro. É o vento soprando para o candidato do Partido Liberal do presidente Jair Bolsonaro, líder absoluto entre os catarinenses com 49% das intenções de voto.

Logo atrás, mas dentro da margem de erro, Esperidião Amin (Progressistas) manteve os 15% que tinha no levantamento anterior, mas agora tem a companhia de Gean Loureiro (União), que passou de 8% para 14%, a maior evolução numérica da segunda rodada do Ipec. É o vento soprando para o ex-prefeito de Florianópolis, o candidato que tem o maior tempo de exposição no rádio e na televisão.

Fora da liderança, mas empatado tecnicamente com Amin e Gean, começa a chegar para a briga Décio Lima (Pt), que também avançou além da margem de erro, passado de 6% para 10%. É o vento soprando para o único candidato a governador ligado à candidatura presidencial de Lula (Pt), que segundo a mesma pesquisa Ipec passou de 25% para 27%.

A pesquisa confirma aquela impressão de que Moisés iniciou o jogo com uma liderança que apresentava pouca gordura para queimar. A campanha eleitoral não conseguiu, até agora, servir para o governador apresentar ao eleitor os pontos que considera positivos em sua gestão. É atrapalhado, claro, pela nacionalização da disputa – mas esse problema deveria afetar Gean também.

Quem conhece o antigo Ibope, hoje Ipec, sabe que ele costuma não apresentar movimentos bruscos de uma pesquisa para outra. Os indícios da Onda Bolsonaro em 2018, por exemplo, só apareceram na última rodada do instituto, também contratado à época pela Nsc Comunicação. Somente naquela última pesquisa, o Ibope captou que Moisés ao governo e que Lucas Esmeraldino (então) Psl) e Jorginho Mello eram os únicos candidatos que cresciam acima da margem de erro, mas colocando-os ainda distantes dos líderes. O vento estava soprando numa velocidade maior do que o instituto captou.

O vento sopra agora. É sempre bom olhar para onde o vento sopra.


Sobre a foto em destaque:

Casa d’Agronômica, o endereço mais disputado de Santa Catarina. Foto: Divulgação.

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