Antes de mais nada, anuncio aqui que publicarei no Upiara Online análises das pesquisas estaduais que forem contratadas pela NSC Comunicação e pelo Grupo ND. Tradicionalmente, as duas empresas de comunicação patrocinam esse tipo de pesquisa em nível estadual. Durante 12 anos, entre as eleições de 2008 e 2020, eu relatei e analisei pesquisas no Grupo RBS e na NSC nas disputas pelo poder em Santa Catarina. Agora, pela primeira vez escrevo sobre um levantamento de sua concorrente. Ao estabelecer um critério sobre análise de pesquisas eleitorais não contratadas pelo Upiara Online, decidi por essa regra. Segue a análise da pesquisa Lupi Associados contratada pelo Grupo ND:

Pesquisa do Grupo ND mostra cenário indefinido e faz a alegria de Colombo, Moisés e João Rodrigues

Um quadro pré-eleitoral tão incerto e sem favoritos que foram necessários dez cenários e 14 nomes para extrair algumas impressões iniciais da disputa pelo governo de Santa Catarina em 2022. Essa é a principal constatação que traz a pesquisa da Lupi Associados, contratada pelo Grupo ND e divulgada no final da noite de terça-feira. Entre tantos nomes, um trio se destaca no pelotão de frente: o ex-governador Raimundo Colombo (Psd), o governador Carlos Moisés (sem partido) e o prefeito chapecoense João Rodrigues (Psd).

A trinca domina os dez cenários apresentados pelo instituto aos 1 mil eleitores entrevistados nas sete mesorregiões do Estado. Eles ocupam uma faixa que vai de 15% a 20% das intenções de voto, com margem de erro de 3,1 pontos percentuais. Os cenários completos foram publicados no portal ND+, vou me ater aos destaques. 

Os resultados devem ter feito o ex-governador Raimundo Colombo (Psd) sorrir em Lages. Numericamente, ele lidera os quatro cenários em que foi testado – mesmo empatado na margem de erro com o governador Carlos Moisés (sem partido). Na disputa direta com João Rodrigues – adversário nada cordial na disputa no Psd pela candidatura ao governo – ele fica à frente com vantagem de oito pontos percentuais.

Moisés também não tem motivos para se queixar da largada apontada pelo levantamento contratado pelo Grupo ND. Em dez cenários, lidera numericamente em seis. Só fica em segundo lugar contra Colombo, dentro da margem de erro. O governador empata tecnicamente na liderança com João Rodrigues em três cenários – em dois na liderança e na segunda colocação no quadro em aparece o ex-governador lageano. É o cenário mais interessante, esse em que o trio se enfrenta: Colombo empata com Moisés, que empata com João Rodrigues 

Embora apareça em ligeira desvantagem em relação a Colombo e Moisés, a pesquisa da Lupi traz números interessantes para João Rodrigues na disputa pela condição de candidato bolsonarista ao governo. Isso porque ele sempre aparece melhor colocado que o senador Jorginho Mello (Pl). Aliás, as melhores performances do senador, na faixa dos 10%, surgem quando os dois nomes do Psd não estão no cenário. Mesmo assim, esses são os cenários em que Moisés consegue liderar sem empate técnico.

Na mesma faixa de intenção de votos de Jorginho está o petista Décio Lima, que disputou o governo em 2018. É percentual semelhante ao que ele conquistou naquela eleição, indicando a identificação imediata do eleitorado petista e de esquerda com o nome dele. 

Abaixo deles, os demais nomes não superam os 6% nos cenários apresentados. É o caso do prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (Democratas), e dos três nomes que pretendem disputar a prévia do Mdb – o prefeito jaraguense Antídio Lunelli, o deputado estadual Celso Maldaner e o senador Dário Berger. No tradicional Progressistas, chamou atenção a ausência do senador Esperidião Amin nos dez cenários pesquisados. É uma falha da pesquisa, considerando o histórico potencial de largada do líder progressista e a declaração que deu de que está à disposição do partido para a disputa. Em todos os cenários do levantamento constava o prefeito tubaronense Joares Ponticelli, sempre na faixa dos 2%. O mesmo raciocínio vale para a inclusão de Gelson Merisio em todos os cenários como nome do Psdb, com resultados entre 3% e 5%, sem testar o prefeito criciumense Clésio Salvaro como alternativa tucana.

Como já disse, os detalhes de cada um dos dez cenários pesquisados pela Lupi Associados estão na íntegra no portal ND+. Como pesquisa, é importante entender que os números a mais de um ano das eleições indicam conhecimento, desconhecimento e potencial de voto e favoritismo. Não há favoritos em uma disputa em que nenhum nome alcança 25% das intenções de voto. É até natural um cenário tão fragmentado, pelo volume de pré-candidatos que constam no levantamento – 14! É uma número que não se reproduzirá na urna em 2022 e que assim disposto afeta as avaliações sobre a composição de blocos políticos possíveis – tanto que a pesquisa inclui nomes de mesmo partido em confronto. É natural, a hora é dos balões de ensaio.

Politicamente, é importante constatar que – de acordo com a pesquisa contratada pelo Grupo ND – Carlos Moisés não é um cadáver eleitoral, longe disso. Mesmo sua rejeição, na casa dos 18%, é administrável, embora seja a maior entre os 14 nomes. Outro geralmente considerado fora do jogo e que se apresenta viável é Raimundo Colombo. Ao mesmo tempo, os dois eventos que João Rodrigues promoveu para o presidente Jair Bolsonaro em Chapecó e a propaganda enfática e nacionalizada do suposto tratamento precoce parecem ter tido mais efeito junto ao eleitor bolsonarista que a defesa ferrenha que Jorginho Mello faz das ações do presidente na CPI da Covid.

O resultado da pesquisa espontânea, aquela em que não são apresentados os nomes dos candidatos aos eleitores pesquisados, também favorece João Rodrigues e deve ser muito utilizado por seus apoiadores. No entanto, é estranho que a pesquisa Lupi lhe aponte um índice alto na espontânea – na casa de 13% contra 6% de Moisés e 2,4% de Colombo – e que isso não se reflita na pesquisa estimulada. A observar os futuros levantamentos.

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