Esses dias um deputado estadual do Mdb me perguntou, em tom de brincadeira, por que eu não falava mais com ele. Respondi que nem com ele e nem com outro, porque a novela emedebista já tinha cansado a audiência e eu estava dando um tempo. Era brincadeira também, é claro, não tenho condição de escolher quais novelas acompanhar. Mas não deixa de ter um fundo de verdade essa sensação de que nem as lideranças do Mdb catarinense aguentam mais as idas e vindas da definição do futuro da sigla.

Na segunda-feira, em reunião no Hotel Castelmar, em Florianópolis, o clima de enfado estava nítido no ar. A bancada estadual do partido chegou a votar internamente se deveria comparecer. A presença venceu – até porque poupa o trabalho de descobrir depois o que foi conversado. Na mesa disposta em U, ficou clara também a divisão do partido, com a bancada toda alinhada no mesmo lado, exceção do presidente da Assembleia Legislativa, Moacir Sopelsa, que dividiu a cabeceira com o presidente estadual e deputado federal Celso Maldaner e o pré-candidato a governador Antídio Lunelli, prefeito de Jaraguá do Sul.

A bancada estadual vive uma ressaca. A operação complicada que foi traçada para levar o governador Carlos Moisés (ex-Psl) fracassou por falta de ímpeto do próprio beneficiário da articulação. A última tentativa, talvez a derradeira, foi feita na semana passada, antes de Moisés definir-se em direção ao Republicanos. Até o deputado estadual Júlio Garcia (Psd) voltou para a mesa de conversa. A proposta era Moisés no Mdb, com Podemos, Psdb e Republicanos completando a chapa. Uma composição que caberia como uma luva para quem torcia para que a vaga de vice-governador na chapa ficasse com o secretário da Casa Civil, Eron Giordani.

Moisés fez cara de paisagem mais uma vez. Há meses ele vem dizendo internamente que para partido grande não iria. Seguiu o instinto e acelerou as conversas com o Republicanos. Na reunião de ontem, já tinha gente da bancada estadual dizendo que a questão Moisés é um assunto superado. O que não significa, muito pelo contrário, engajamento no projeto de Antídio Lunelli. O prefeito jaraguense foi cobrado sobre viabilidade eleitoral, sobre alianças, sobre pesquisas. Sopelsa deixou dito o que todos sabem: se não se mostrar viável até agosto, a convenção estadual do Mdb pode decidir outro rumo.

Entre os deputados estaduais, ninguém acredita que Antídio seja a verdadeira face do projeto Jaraguá do Sul. Eles olham para outro movimento: o que aproxima Moisés do deputado federal Carlos Chiodini (Mdb). Eles tiveram uma longa e proveitosa conversa recentemente. Terão outra, provavelmente esta noite, em Brasília. O jornalista Marcelo Lula disse que o presidente nacional do Mdb, Baleia Rossi (deputado federal pelo Mdb de São Paulo) estará presente – não confirmei, mas não duvido.

Em entrevista no quadro Plenário, na Rádio Som Maior, na manhã desta segunda-feira, Chiodini desdenhou das especulações de que poderia ser vice de Moisés. Essa chapa tem sido defendida internamente por uma das principais aliadas do governador, a deputada estadual Paulinha (ex-Pdt). Ela também estará em Brasília nestes três dias em que Moisés estará por lá – assim como o presidente estadual do Republicanos, o deputado estadual Sérgio Motta.

É interessante ver, neste momento da novela emedebista, que a opção à sonolenta pré-candidatura de Antídio Lunelli continua sendo apoiar a reeleição de Moisés. Esfriou a articulação em que a bancada estadual era protagonista, cresce aquela que passa por Jaraguá do Sul e pela bancada federal. Como observador político, digo que já vi o Mdb dividido, o Mdb rachado, o Mdb brigando em praça pública. Só não tinha visto o Mdb perdido e entediado. É o espírito da época.

Ouça a entrevista com Carlos Chiodini no Plenário da Rádio Som Maior:


Sobre a foto em destaque:

A mesa que junta e afasta o Mdb catarinense. Foto: Divulgação.

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