Pré-candidato ao Senado, o ex-deputado federal Paulo Bornhausen (Podemos) avalia que Santa Catarina tem dificuldade de fazer valer suas prioridades em Brasília por falta de força política da atual safra de políticos eleitos pelo Estado. Entrevistado por mim e pelo jornalista Adelor Lessa na Rádio Som Maior nesta sexta-feira, ele disse que nunca viu uma negligência tão grande de governo federal em relação a obras no Estado – falou das duplicações das BRs 470 e 280 e da falta de apoio para construção de uma pista de carga no Aeroporto de Navegantes. A causa, segundo ele, está nas escolhas do eleitor.

Santa Catarina tem que voltar a sentar na mesa redonda do poder, a mesa que não tem cabeceira, a mesa onde o líder senta e fala de igual para igual com o presidente da República. Não é pegando carona e tirando foto selfie que vai resolver. O que vai resolver é como fazia Luiz Henrique, Jorge Bornhausen, que quando chegava um presidente da República com as coisas de Santa Catarina, era um senador à altura. Eram senadores que eram ouvidos, que lá dentro do parlamento faziam as leis que mudavam o Brasil, faziam os grandes movimentos políticos. Santa Catarina sempre fez esse papel e hoje é um papel muito apagado, nós somos o zero da BR-101 em representatividade. Tem muita espuma e pouco chope, como diz no bar. Tem que conhecer os caminhos de Brasília. E o caminho de Brasília não é o caminho de puxar o saco, mas conhecer onde mora o poder real no Legislativo, no Judiciário, e ser respeitado. Santa Catarina já teve e tem políticos que podem fazer essa representação. A gente tem safras e entressafras. E a gente está em entressafra. Ou porque aqueles que nos representaram no passado de forma mais altiva hoje estão meio fora da batida, ou porque fazem opções mais ligadas ao poder de plantão. Isso não resolve. O que resolve é participar do debate nacional, fazer a história. 

Nas críticas, sobrou uma farpa para o senador Dário Berger (Mdb), adversário de Paulo Bornhausen na eleição de 2014 para o Senado. O emedebista foi presidente da Comissão de Orçamento do Senado.

Nunca vi uma negligência tão grande como hoje. Nós vivemos o drama com a BR-101 Sul, que atrasou muito. Agora estamos vivendo BR-280, BR-470, que são um drama. Santa Catarina teve senadores dessa safra que foram presidentes de comissão de Orçamento e não tem dinheiro para essas obras. Isso eu não entendo, o que esse cara foi fazer lá?

Paulo Bornhausen também fez críticas ao governo de Carlos Moisés (sem partido), chegando a dizer que o Estado hoje “não tem governo, tem gente ocupando cargos”. Ele acredita que o cenário eleitoral para a sucessão em 2022 será definido de acordo com as questões nacionais – se houver concentração de partidos em torno de uma candidatura alternativa ao presidente Jair Bolsonaro  (sem partido) e ao ex-presidente Lula (Pt), Santa Catarina terá agrupamento de projetos; se pulverizarem os nomes de presidenciáveis, acontecerá o mesmo como os candidatos a governador.

Presidente de honra do Podemos, ele admite que o partido ainda não perdeu a esperança de filiar o prefeito de Jaraguá do Sul, Antídio Lunelli, para concorrer ao governo ano que vem. No entanto, diz que é preciso respeitar a intenção de Antídio de disputar a prévia do Mdb contra Dário Berger e o deputado federal Celso Maldaner. Bornhausen está de olho nas brigas internas dos emedebistas e espera voltar a conversar com o prefeito ano que vem.

Eu estou chegando à conclusão de que lá no Mdb todos têm razão (risos). Melhor olhar de longe e ver o que vai acontecer. O Mdb é um partido que sempre, tirando a época do Luiz Henrique da Silveira e algumas outras, é um partido que sempre teve muito músculo e pouca cabeça. Ele fica meio disforme, faz muitas movimentações de força, de briga, mas é um partido importante, histórico. Tem que aguardar. O Antídio é uma figura fantástica, gosto muito dele, é um nome novo que vem surgindo, que tem essa cara da nova política de verdade, o resgate da boa política. Mas tem essa insistência de fazer essa disputa dentro do Mdb e a gente tem que respeitar. Eu acho que ele vai ter pouco a ganhar desse prisma que estou olhando. O Mdb é um partido complexo, como a sociedade brasileira é. As portas estão abertas. Fizemos o convite, conversamos com ele e com o Carlos Chiodini (deputado federal, Mdb), que são lideranças com quem convivo muito bem. Mas estamos tocando a vida, eles estão tocando a vida, quem sabe lá na frente, depois das águas de março.

Em roteiro pelo Sul do Estado, Bornhausen convidou o ex-deputado federal Jorge Boeira (Progressistas) para ingressar no Podemos. A conversa teria sido positiva. Boeira foi muito elogiado.

– Ele é uma pessoa que tem propósito, um político que acrescenta no mundo político por ser uma pessoa exatamente como ele é. Simples. Não é homem de ficar pegando em garupa para tirar foto, é um homem que faz as coisas acontecerem e até meio envergonhado. É um cara que fez tanto pela educação do Sul de Santa Catarina que até hoje é lembrado. Ele está decidido a voltar. Ele tem essa coisa do espírito público, que eu tenho e muitos têm, que mesmo afastados desejam fazer alguma coisa pela sua região, seu Estado, sua cidade. Ele é novo ainda e o Sul do Estado, assim como Santa Catarina, carece de lideranças como o Jorge Boeira. Lideranças capazes de produzir a verdadeira política, a política com P maiúsculo.

A disposição de Boeira, no entanto, é apresentar-se para disputar a eleição majoritária. Hoje, o Podemos tem Bornhausen como pré-candidato ao Senado e o prefeito Fabrício Oliveira, da Balneário Camboriú, como pré-candidato a governador – além de sonhar com Antídio Lunelli. Bornhausen diz que isso não é empecilho para a filiação, porque Boeira terá o direito de buscar seu espaço se optar pelo partido.

Eu disse que não posso garantir ao Jorge, assim como não posso garantir a mim e ao Fabrício que a gente vá ser candidato na majoritária. Quando as convenções chegarem, o partido vai decidir o melhor caminho para Santa Catarina, o melhor caminho para o próprio partido. A gente não sabe nem a regra do jogo ainda. Mas ter a pretensão de ser (candidato na majoritária), ele pode estar no nosso partido. Diferente de onde ele está hoje, que nem lhe dá essa pretensão. Todo mundo sabe que não vão deixar. Aqui, não. Quando dizemos que ele pode vir, correr o Estado e ser uma opção, estamos falando a verdade. Boeira tem a cara do Podemos, está convidado e engrandecerá qualquer partido que ele for. Deveria ser mais reconhecido no partido em que ele está.

Ouça a íntegra da entrevista:

 


Sobre a foto em destaque:

O ex-deputado federal Paulo Bornhausen, presidente de honra do Podemos em Santa Catarina, foi entrevistado no estúdio da Rádio Som Maior nesta sexta-feira. Foto: Vitor Netto, Som Maior.

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