Dentro dos vários MDBs que compõem o MDB, não deveria haver espaço – ou ao menos de forma coerente – para o bolsonarismo. A análise parte do ex-governador Paulo Afonso Vieira, que, durante o programa Parlatório, na rádio Som Maior da última segunda-feira, comentou os rumos tomados pelo partido e estratégias para reconquistar o espaço em Santa Catarina. Para ele, a aproximação com as pautas defendidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) contradiz os princípios fundadores do MDB; mas são resultado de uma “crise de identidade” que vem desde a redemocratização.
Aos jornalistas Adelor Lessa, Maga Stopassoli e Upiara Boschi, o ex-governador afirma que o partido surgiu, no contexto da ditadura militar, “no seio dos trabalhadores, dos sindicatos e das classes populares”. Por essa razão, se alinhar ao discurso do ex-presidente, simpático ao regime, seria equivalente a um “cara que se diz católico, mas não acredita em Deus”.
– Estou convencido que isso é absolutamente impossível. São duas situações contraditórias entre si. Qual é o DNA, a origem do MDB? Para combater a ditadura. Quem teve a coragem de entrar no MDB, o fez para combater a ditadura, sob todos os aspectos. Quando hoje o Bolsonaro, que é um defensor da ditadura, que abertamente fala que a ditadura era boa e que a repressão e tortura e perseguição foram até poucas. Quem foi cassado, perseguido e exilado se não os oposicionistas, em grande parte, emedebista? Como um emedebista, que participava de um partido que conceitualmente combate à ditadura e defende a democracia, as eleições, a liberdade, pode ser bolsonarista?
Nessa ótica, segundo Paulo Afonso, quem derrubou a ditadura, teria feito mal para o Brasil. Assim, “heróis” da história emedebista, que participaram do processo de redemocratização, teriam de ser revistos como “vilões” dentro da nova narrativa.
– Não consigo entender. Quando olho para alguns companheiros, eu me pergunto: o que passa na cabeça dessas pessoas que se posicionam a favor dessas questões bolsonaristas e, portanto, contrarias à própria essência do MDB?
De acordo com o ex-governador, a aproximação desses parlamentares com pautas ligadas à extrema-direita acontece como sintoma de uma crise de identidade pela qual passa o MDB. Paulo Afonso afirma que esta teria origem logo na redemocratização – pois era este o alicerce que unia todas as diferentes camadas e nichos que compunham o partido, até então o maior do país.
– O emedebista achar que vai colher voto na seara bolsonarista é de uma estupidez, a última opção do bolsonarista é votar no MDB. Já era a última opção dos conservadores. Isso é uma coisa tão precária, pois o MDB tem, no governo do Lula, três ministérios de peso. Transportes, Cidades e Planejamento. Nós estamos no governo do Lula.
Veja a íntegra do Parlatório com Paulo Afonso: