Dois dos três maiores partidos do Estado, o Mdb e o Psd vivem situações distintas e semelhantes quando se olha para a disputa pelo governo do Estado em 2022. Ambos têm uma profusão de pré-candidatos a governador e mantêm uma relação ambígua com o governador Carlos Moisés (sem partido), provável candidato à reeleição. Há uma diferença básica: os emedebistas não têm Gilberto Kassab.
O presidente nacional do Psd hoje não tem cargo fora do partido, mas circula pelos bastidores da política como se tivesse. Na sexta-feira, Kassab esteve em Florianópolis para dar um norte ao partido e encaminhar a equalização de uma perigosa disputa interna entre o ex-governador Raimundo Colombo e o prefeito chapecoense João Rodrigues pela vaga de candidato da sigla ao governo. Eles têm a companhia dos ex-prefeitos Napoleão Bernardes (Blumenau) e Adeliana Dal Pont (São José) na pretensão, mas concentram até o momento os olhares da disputa interna.
É dali que pode surgir um racha – e isso Kassab não quer para o diretório estadual que, nas palavras dele sexta-feira “foi o berço do nascimento do Psd”. Não é exagero. Em 2011, quando anunciou a pretensão de deixar o Democratas e criar um novo partido desligado do antipetismo, Kassab teve a mais entusiasmada adesão em Santa Catarina. Liderados por Colombo e Gelson Merisio (Psdb), o Psd catarinense nasceu de uma diáspora impressionante. Do dia para a noite, o Democratas – terceiro partido do Estado até então – acabou em Santa Catarina. Em nenhum outro lugar houve tamanha adesão ao projeto – Colombo queria um partido mais leve para se aproximar do governo federal, à época comandado pela recém- eleita Dilma Rousseff (Pt).
Kassab sempre deu o norte da postura partidária e sempre foi acionado como um possível interventor nas questões pontuais. Ouve muito, determina pouco. Por estilo, Colombo nunca usou a proximidade com o dirigente para impor suas posições no Estado – especialmente quando divergia da condução de Merisio em 2018, cuja estratégia era afastar o partido do Mdb. Sem Merisio, os adversários internos do ex-governador são João Rodrigues e o deputado estadual Júlio Garcia. O estilo de Colombo, no entanto, é o mesmo. Ninguém aposta que ele peça a Kassab a garantia de sua nova candidatura ao governo.
Abri o texto com as diferenças e semelhantes do Mdb para pontuar a relevância da presença de Kassab por aqui no final da semana passada. Se o presidente nacional dos emedebistas, deputado federal Baleia Rossi (Mdb de São Paulo), baixasse no Estado para um almoço com discursos, como aconteceu sexta-feira, teria peso político, mas não o condão de dar rumo às disputas internas do partido. Psd e Mdb são os dois maiores partidos de centro do Brasil e são imensos em Santa Catarina, mas são muito diferentes. A disputa interna entre o prefeito Antídio Lunelli (Jaraguá do Sul), o deputado federal Celso Maldaner e o senador Dário Berger será decidida aqui no Estado – seja pela prévia atualmente suspensa, seja por um arranjo de caciques.
O Psd é um partido de gabinetes, por isso a importância da presença de Kassab no Estado no momento de tensão interna. Os pessedistas não vão para a disputa aberta. Em Florianópolis, Kassab deixou claro que o partido estará longe do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e das narrativas bolsonaristas em 2022. É uma senha para o posicionamento do partido no Estado – postura que facilita a pretensão de Colombo e de Napoleão. Em seu discurso, João Rodrigues disse em alto e bom som para Kassab que é eleitor de Bolsonaro e que só será candidato se não for “problema”. Esses dados iniciais, mais a dificuldade de renunciar ao cargo de prefeito antes da metade do primeiro mandato, ajudam a criar a narrativa da desistência do prefeito chapecoense da disputa. Ao seu estilo, Kassab não apresenta imposições, não bate na mesa, não intervém ostensivamente, mas deixa claro o projeto.
Colombo se fortaleceu no Psd com as pesquisas – as publicadas e as internas – que o colocam em boa posição para as disputas pelo governo e pelo Senado. Ficou difícil ignorá-lo. Na sexta-feira, já se ouvia nos bastidores quem falasse em chapa pura dos pessedistas em 2022, com o ex-governador na cabeça, Adeliana de vice e Napoleão ao Senado. O blumenauense deve ganhar fôlego na disputa interna como nome oficial de Júlio Garcia. Com a hipótese de composição com o Democratas, antiga casa, com o prefeito florianopolitano Gean Loureiro na majoritária.
Vai, assim, se desenhando um dos vagões da disputa de 2022. Falta muito, o cenário nacional vai afetar muitas decisões, quem parecer mais forte vai atrair os que se mostrarem frágeis, os nomes vão afunilar. Mas a linha está dada.
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Ao seu estilo, Kassab não veio a Santa Catarina intervir no Psd. Mas a narrativa apresentada aos pessedistas indica candidatura ao estilo Colombo. Foto: Caio Marcelo, Divulgação.