Ao final do encontro entre os dirigentes nacionais e estaduais do Partido Liberal (Pl), coube justamente ao senador catarinense Jorginho Mello dar a informação à imprensa de que o presidente nacional Valdemar da Costa Neto havia recebido carta branca para conduzir a filiação do presidente Jair Bolsonaro (ex-Psl) à legenda. Mas o que significa uma carta branca do partido para seu principal cacique? Logo ficaria claro: Valdemar queria respaldo interno para desfazer arranjos internos anteriores, inclusive os dele próprio, para destravar aquele gigante 1% chamado São Paulo que faltava para Bolsonaro e seu clã oficializarem a entrada na legenda.

Na entrevista que nos concedeu na manhã desta quinta-feira na Rádio Som Maior, Jorginho Mello deixou claro que faz parte da carta branca o desfazimento do arranjo paulista que ligava o Pl à pré-candidatura ao governo do vice-governador Rodrigo Garcia (Psdb), ligado ao governador João Dória (Psdb) – desafeto e possível adversário de Bolsonaro ano que vem. O presidente quer a candidatura do ministro Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, no maior e mais rico colégio eleitoral do país.

Bolsonaro jogou bem. Suspendeu a filiação marcada pelo partido para o dia 22 e tornou público e explícito o impasse. Correu o risco de ver frustrada mais uma negociação para ingressar em um novo partido, as acabou sendo recompensado. Valdemar cedeu e organizou um teatro com os dirigentes estaduais do Pl para justificar a quebra de compromisso com Dória – amenizando um pouco o desgaste da fama de político que mantém a palavra. À parte alguns contratempos locais no Nordeste, a entrada de Bolsonaro e seu séquito são é o doping que o partido precisa para anabolizar sua bancada federal – o que significará maiores fatias nos fundos partidário e eleitoral a partir de 2023.

Partido tradicional e sócio-fundador do Centrão, o Pl só teve candidato à presidente em 1989, quando Guilherme Afif Domingues tentou cativar o Brasil com um discurso liberal e anti-esquerdista. Recebeu pouco menos de 5% dos votos em um primeiro turno que consagrou Fernando Collor na raia à direita da polarização, enquanto Lula e Leonel Brizola disputaram voto a voto qual cara a esquerda brasileira teria naquela disputa e dali pra frente. De lá para cá, o Pl se conformou à posição de coadjuvante. Teve relevância no jogo mesmo, para valer, quando aceitou indicar o empresário e senador José Alencar para ser vice na chapa com que Lula conquistou sua primeira eleição presidencial, em 2002. O papel do Pl foi sinalizar que o Pt chegaria abrandado ao poder.

A adesão de Bolsonaro traz o Pl para o protagonismo de ter o presidente da República em seus quadros e um candidato viável como nunca teve. Mesmo que seja uma passagem temporária, pragmática, muda o partido de patamar e o coloca dentro da polarização com o ex-aliado Lula.

O efeito que isso terá no Brasil, além do aumento provável das bancadas federais e estaduais, ainda é incerto. Em Santa Catarina, epicentro nacional do bolsonarismo, é definidor. Era nítido o alívio de Jorginho Mello com a iminente solução do impasse. Com Bolsonaro no número 22, a candidatura do senador ao governo catarinense encorpa – quase um passaporte para o segundo turno. A simbiose dos números de urna deve afastar concorrentes da raia bolsonarista como o senador Esperidião Amin (Progressistas) e o prefeito chapecoense João Rodrigues (Psd). Mas é sempre prudente, em se tratando de Bolsonaro, esperar a assinatura de ficha de filiação.

 


Sobre a foto em destaque:

Senador Jorginho Mello (Pl) em sessão da CPI da Chapecoense. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

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