Entre os destinos possíveis de filiação partidária do governador Carlos Moisés (ex-Psl) um dos mais improváveis seria o Podemos. Há tempos existe uma incompatibilidade entre o Centro Administrativo e o partido estadualmente liderado pelo ex-deputado federal Paulo Bornhausen, o ex-prefeito palhocense Camilo Martins e o prefeito blumenauense Mario Hildebrandt. O ponto alto desse afastamento deu-se quando o deputado estadual Laércio Schuster (formalmente no Psb, mas Podemos na prática) deu o voto que resultou no afastamento de Moisés do cargo para responder ao processo de impeachment no Tribunal Misto.
Esse contexto é o que mais chama atenção diante da informação de que Moisés teve uma conversa com a presidente nacional do Podemos, deputada federal Renata Abreu (de São Paulo), na última terça-feira, em Brasília. Afinal, o Podemos pode ser aquele “partido mais neutro, que possa manter agrupada a base aliada” como Moisés defendeu na entrevista que me concedeu no Cabeça de Político? Pelo perfil que o governador busca em um partido político, faz sentido. Pelo projeto nacional, a possível filiação do ex-juiz Sérgio Moro ao partido para concorrer à presidência da República poderia servir a Moisés como um contraponto à direita ao bolsonarismo que localmente o fustiga. Resta, no entanto, o contexto local. Nesse ponto, ir direto à presidente nacional da legenda é o tipo de afoiteza que apenas serve para as lideranças estaduais sentirem que o partido está sendo tomado por cima.
Foi assim que reagiu Paulo Bornhausen, presidente de honra do Podemos catarinense, que deu diversas entrevistas (destaco a coluna do colega Roberto Azevedo sobre o tema) garantindo que estará na margem oposta àquela que Moisés escolher no rio das eleições 2022. Foi o que ele mesmo disse a Renata Abreu na segunda-feira, quando ela lhe avisou que de teria a conversa com o governador catarinense. Ela entendeu que era um sentimento comum aos podemistas locais, alinhados a um projeto de majoritária que tem o próprio Bornhausen como pré-candidato ao Senado e o prefeito de Balneário Camboriú, Fabrício de Oliveira, ao governo. As reações, no entanto, mostram que há margem aqui no Estado para algum flerte, para algum distensionamento.
Camilo Martins, presidente estadual do Podemos, deu a entender que a conversa com Moisés, se houver, pode ser mais pragmática. Afinal, o Podemos é um partido que quer crescer nas urnas em 2022 e não precisa refutar de antemão as possíveis ofertas do governador pré-candidato à reeleição. Além disso, melhorar a relação do governo com os prefeitos do partido: Mário Hildebrandt (Blumenau), Eduardo Freccia (Palhoça), Fabrício de Oliveira (Balneário Camboriú) e Emerson Maas (Mafra). Afinal, meia-dúzia de sorrisos e uns elogios garantiram R$ 35 milhões para o ex-adversário Antonio Ceron (Psd) em Lages, por que o mesmo não poderia acontecer?
A cúpula estadual do Podemos vai se reunir na segunda-feira e deve discutir com alguma intensidade a questão. Se vai evoluir ou não, é outra história. Moisés no Podemos continua pouco provável. Mas o simples flerte com a legenda e a disposição de conversar em Brasília com a presidente nacional já trazem alguns significados embutidos. Vou listar:
– Nem toda a articulação política de Moisés está terceirizada ao chefe da Casa Civil, Eron Giordani. Na mesma terça-feira em que bateu na porta do Podemos, o governador também tinha conversa com o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire. Podemos, Cidadania… parece que Moisés continua ouvindo o que diz a deputada estadual Paulinha (ex-Pdt).
– Se Moisés vai atrás de alternativas de médios partidos, falta confiança na filiação ao Republicanos. Nos bastidores a conversa é que reduziram as chances de que o governador opte pelo partido ligado à Igreja Universal. Seja pela disputa estadual pelo apoio da legenda com o prefeito de Florianópolis e pré-candidato a governador Gean Loureiro (Democratas, em breve União Brasil), seja pela possibilidade de que algum prato pronto do diretório nacional seja servido na hora decisiva.
Sobre a foto em destaque:
Moisés capricha na selfie para melhorar os flertes políticos. Foto: Ricardo Wolffenbüttel, Secom.