A última vez que houve uma espécie de aliança de partidos de esquerda para a disputa do governo catarinense foi em 2010. Na época, a então senadora Ideli Salvatti (Pt) conseguiu reunir em sua coligação o Pc do B e o Psb, embora a cobiçada vaga de vice tenha ficado com o Pr (atual Pl) e fizessem parte da composição siglas à direita como o Prb (atual Republicanos) e o Prtb (hoje partido do vice-presidente Hamilton Mourão). Era o auge do lulismo no poder, quando esse tipo de mistura estava em voga. Naquela disputa, Pdt indicou Manoel Dias como vice de Angela Amin (Pp) e o Psol lançou sua primeira candidatura ao governo, com Valmir Martins.
Nas duas eleições seguintes, Pt e Psol lançaram candidaturas isoladas enquanto os demais parceiros da esquerda catarinense preferiram compor com o governista Psd em nome das chances de eleger deputados estaduais e federais. Não faltaram farpas, alfinetadas, indiretas e mágoas nessa década de desencontros. Por isso, é tão representativa do momento que a esquerda e que o país vivem a foto que os sete principais partidos do campo conseguiram produzir na noite de segunda-feira, no plenarinho da Assembleia Legislativa, quando realizaram um ato público de construção de uma frente para a disputa estadual de 2022. Há muita conversa e muita negociação para que dê certo, mas existe disposição – algo que muitas vezes faltou nos últimos tempos.
Estavam na mesa do Auditório Antonieta de Barros os presidentes estaduais Décio Lima (Pt), Guaraci Fagundes (Pv), Mário Dutra (Psol), Douglas Matos (Pc do B), Manoel Dias (Pdt e Cláudio Vignatti (Psb). A eles, se somaram lideranças com mandato como o deputado federal Pedro Uczai (Pt) e os deputados estaduais Fabiano da Luz (Pt) e Rodrigo Minotto (Pdt). Logo alguém percebeu que faltavam mulheres na composição e foram chamadas à mesa as vereadoras Giovana Mondardo (Pc do B), de Criciúma) e Cíntia Mendonça (Psol), integrante da coletiva Bem Viver em Florianópolis.
Evitou-se, assim, a crítica feita na primeira reunião dos partidos de esquerda, em um restaurante de Florianópolis, quando a imagem de uma esquerda sem renovação e sem diversidade assustou parte da militância. Naquela imagem não estava Vignatti, ex-deputado federal petista que lidera a reconstrução do Psb catarinense após os seis anos em que o partido esteve sob a batuta liberal do ex-deputado federal Paulo Bornhausen, hoje no Podemos. É a novidade nas composições, especialmente pelo projeto de construir junto a lideranças nacionais uma candidatura de centro-esquerda que possa liderar o bloco. Uma construção que pode ter o apoio do ex-ministro José Dirceu (Pt), que esteve muito próximo de Vignatti em sua passagem recente por Florianópolis.
O nome mais citado e comentado para essa candidatura do Psb, no entanto, continua invisível. Que o ex-deputado federal Jorge Boeira (ainda no Progressistas) está próximo do partido para ser o nome na disputa pelo comando do Estado, todos sabem. Mas, até agora, é uma pré-candidatura fantasma, invisível. Boeira não estava em Florianópolis na segunda-feira. Ainda tem arestas a aparar em sua região e no Progressistas. A cada vez que adia a entrada no jogo, a cada evento de que não participa e a cada declaração que não dá, Boeira lança dúvida sobre a pretensão de estar no jogo e atiça os setores mais à esquerda que torcem o nariz para a possibilidade de que ele lidere o bloco. O outro nome que o Psb mira, especialmente em Brasília, também está ausente e tem melhores motivos para isso. O senador Dário Berger é um dos pré-candidatos ao governo pelo Mdb e não pretende dar margem aos rumores de que deixa a sigla se perder a vaga para o prefeito jaraguense Antídio Lunelli. Mas tem laços e conversas com o Psb.
Enquanto isso, Décio Lima – ex-deputado federal e candidato petista ao governo em 2018 – ocupava o centro da mesa na segunda-feira. A composição passa por ele, especialmente por ser o presidente estadual do Pt e por ter melhor largada nas pesquisas que os demais nomes da esquerda. Fruto óbvio do recall de ter disputado a eleição de 2018, quando fez 11% dos votos no pior cenário eleitoral que a esquerda viveu em Santa Catarina. Com o ex-presidente Lula candidato a presidente, a expectativa de Décio – e de todos os outros, é que a esquerda aumente a performance no Estado. É ele – e a disputa nacional com o presidente Jair Bolsonaro (ex-Psl, quase Pl) que dão a liga para o reencontro da esquerda catarinense. Na próxima segunda-feira, dia 29, eles se encontram mais uma vez para organizar um calendário de reuniões estaduais. Enquanto isso, espera-se que os invisíveis apareçam para as fotos e os palanques.
Ouça a entrevista do presidente estadual do Pc do B, Douglas Mattos, aos jornalistas Adelor Lessa e Upiara Boschi e na Rádio Som Maior:
Sobre a foto em destaque:
Lideranças catarinenses de sete partidos à esquerda se reuniram na segunda-feira para debater uma frente única estadual em 2022. Foto: Lucimara Cardoso, Divulgação.