Resolvida a filiação do presidente Jair Bolsonaro ao Partido Liberal (Pl), o cenário pré-eleitoral catarinense volta-se para a segunda lacuna a ser preenchida: o destino partidário do governador Carlos Moisés (Psl). Seu discurso continua sendo o de optar por uma sigla menos tradicional, em que possa aglutinar a heterogênea base de partidos que apoia seu governo na Assembleia Legislativa. Repetiu esse discurso terça-feira, ao final do evento na Federação das Indústrias (Fiesc) em que foi lançado o abaixo-assinado por investimentos nas rodovias federais. Um desejo que beira o utópico quando imagina que pode ter os rivais históricos Mdb e Progressistas (Pp) na mesma chapa, mas que vai ganhando dificuldades extras a partir das composições que vêm de Brasília a reboque da decisão de Bolsonaro de aglutinar o Centrão para a disputa de 2022.
Quando fala em escolher um partido menor, todos sabem que Moisés se refere ao Republicanos. O governador tem negociado a entrada de seu grupo mais leal – políticos e aspirantes – na legenda há alguns meses, inclusive com uma conversa torta com o presidente nacional do partido, o deputado federal Marcos Pereira (São Paulo) em setembro. A princípio, Moisés tem o que o Republicanos precisa: nomes para compor as chapas de deputado estadual e federal, garantindo as duas coisas que o partido deseja: eleger pelo menos um deputado federal, não importa o nome e o sobrenome dele, e reeleger o deputado estadual Sérgio Motta, presidente estadual. O impasse é que Moisés quer o comando do partido no Estado e isso o Republicanos não está disposto a ceder.
Esse impasse abre a brecha para o avanço do senador Jorginho Mello (Pl), pré-candidato ao governo, tentar aproveitar a ligação nacional do Republicanos com a candidatura presidencial de Bolsonaro para costurar adesão da legenda a seu projeto. Oferece o mesmo que Moisés, nomes para as chapas, sem exigir nada em relação ao comando da legenda. A conversa começou em Santa Catarina, com Motta, e avançou esta semana em Brasília diretamente com Marcos Pereira. Para a chapa federal, Jorginho pode oferecer dois nomes que, por diferentes razões, têm dificuldades de se filiar ao Pl neste momento: Carmen Zanotto (Cidadania) e Daniel Freitas (Psl), ambos deputados federais e candidatos à reeleição. Para a chapa estadual, a promessa é ceder meia dúzia de lideranças que garantam a votação mínima para a legenda conquistar vaga na Alesc, sem peso para atrapalhar a reeleição de Motta.
A proposta agradou ao Republicanos, não só pela oferta em si, mas pela forma como foi conduzida pelo senador do Pl. Até então, Moisés disputava o partido com o também pré-candidato Gean Loureiro (Democratas, futuro União Brasil), prefeito de Florianópolis. Tinha vantagem sobre o prefeito, porque a formação das chapas do União Brasil já é uma tarefa difícil e que dificulta a cessão de nomes competitivos para o aliado. Com Jorginho, a disputa pelo partido fica mais equilibrada e mais cara para Moisés.
Se perder a opção Republicanos, o governador vê reduzidas suas opções no projeto “partido menor apoiado pelos maiores”. Teria o frágil Psc, também na mira de Gean, e o Cidadania, partido que está em negociação para filiação da deputada estadual Paulinha (ex-Pdt). Se já é difícil para Moisés ter que explicar a relação afastada com Bolsonaro, imagina se filiado ao antigo Partido Popular Socialista (Pps), derivado do Partido Comunista Brasileiro (Pcb) original – que é o atual Cidadania.
Assim, é bem possível que Moisés tenha que deixar de lado esse plano e mergulhar de vez na tradição política do Estado. Optando, enquanto ainda tem margem para isso, por filiação ao Mdb ou ao Pp. Um ou outro, é claro. Ele tem simpatizantes dentro de ambos os partidos, mas precisa demonstrar efetivo interesse em virar 15 ou 11. Algo que até agora não esboçou. Talvez ano que vem seja tarde demais.
Sobre a foto em destaque:
No evento da Fiesc, Moisés voltou a dizer que pretende se filiar a um partido não tradicional. Opção pelo Republicanos ficou mais complicada. Foto: Peterson Paul, Secom.