Se exatos quatro anos atrás alguém dissesse que o Podemos e o Republicanos teriam peso de protagonistas nas discussões sobre a eleição catarinense de 2022, seria taxado de louco. O primeiro era um partido em formação no Estado, derivado do antigo e irrelevante Ptn, e fazia parte do condomínio de partidos que apoiou a candidatura de Gelson Merisio (pelo Psd) ao governo com objetivo quase único de reeleger o então deputado estadual Natalino Lázare. O Republicanos ainda se chamava Prb e também fazia parte do mesmo condomínio merísico e tinha a meta de voltar a garantir uma cadeira na Assembleia Legislativa para um pastor da Igreja Universal – o que não acontecia desde os tempos em que Odete de Jesus integrava a igreja e era parlamentar nos anos 2000 – e eleger Hélio Costa deputado federal.
As urnas, em outubro daquele ano, não indicaram nada que alçasse Podemos e Republicanos ao primeiro time da política. Só o segundo conseguiu alcançar seus modestos objetivos. O Podemos começou a ganhar holofotes no ano seguinte, quando o grupo do ex-deputado federal Paulo Bornhausen entre em conflito com o Psb nacional com o objetivo de levar seus eleitos para a legenda. Entre mortos e feridos, carregou o deputado federal Rodrigo Coelho e os deputados estaduais Laércio Schuster e Nazareno Martins (este, ainda formalmente filiado ao Psb) e os prefeitos Mário Hildebrandt (Blumenau) e Fabrício Oliveira (Balneário Camboriú). Herdou porte da partido médio.
Muita coisa aconteceu nesses três anos e a implosão do extinto Psl como casa do bolsonarismo logo no primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro (agora no Pl) ajuda a explicar algumas coisas. Eleito na onda e no número, o governador Carlos Moisés também pularia do barco pesselista em 2020. Passou, então, a viver o dilema de escolher um partido grande que não conseguiria comandar ou apostar no instinto que lhe diz que o caminho é uma legenda menos carimbada de tradicionalismo político. É nesse campo que estão Republicanos e Podemos, especialmente depois que Moisés (aparentemente) foi convencido de que o caminhãozinho do Avante era pequeno demais para puxar um comboio eleitoral.
Nos próximos dias ouviremos falar muito (e eu vou falar bastante) de Republicanos e Podemos, candidatos a protagonistas da política catarinense. Em comum, ambos têm direções nacionais extremamente pragmáticas sobre o que desejam dos comandos locais: eleger deputados federais, quanto mais melhor, para robustecer os fundos eleitoral e partidário, consolidando as legendas entre as principais do Congresso Nacional. É a cobrança que recebem, é a missão que têm.
Com as coligações extintas para as eleições de deputado estadual e federal, hoje o Republicanos catarinense não conseguiria repetir o feito de 2018 quando conquistou as vagas na Alesc e na Câmara Federal. Assim, ouve qualquer proposta que lhe fortaleça as chapas, especialmente a de deputados federais, desfalcada de Hélio Costa (a caminho do Psd). Moisés ofereceu seu time de aliados fiéis – a maior parte integrantes do governo – para filiação e pode contar com a força de máquina do governo estadual para fortalecer candidaturas. Para a Câmara, o principal nome é Lucas Esmeraldino, secretário de Articulação Nacional e terceiro colocado na disputa pelo Senado em 2018, quando faltaram 17 mil votos para que a onda desse ao ex-vereador tubaronense a cadeira que ficou com Jorginho Mello (Pl).
Nesse leilão, outros pré-candidatos ao governo já fizeram seus lances – Jorginho, Gean Loureiro (União Brasil), Fabrício de Oliveira (Podemos). Mas, a ideia que encantou os universais foi filiar o empresário Luciano Hang, das Lojas Havan, para concorrer ao Senado. A presença do ícone do bolsonarismo entre os empresários teria o poder de atrair para a chapa nomes ligados a essa militância, com ou sem mandato, sem que o partido enfrentasse o desgaste de ter que escolher um candidato a governador para chamar de seu – aliás, mesmo desejo anunciado por Luciano Hang na entrevistada dada à Rádio Som Maior na quarta-feira de cinzas.
O empresário recebeu pedido do presidente Jair Bolsonaro para que ingresse no Partido Liberal, fortalecendo a vinculação entre o bolsonarismo e o partido. Hang disse que anuncia a filiação semana que vem, dia 10 – o mesmo número do Republicanos. Essa negociação hoje é feita fora de Santa Catarina, diretamente nas cúpulas nacionais. O Republicanos quer compensações por estar fora da chapa presidencial e uma delas é a filiação do empresário.
A decisão de Hang impacta diretamente na de Moisés. Embora tenha feito uma difícil construção para atrair o Podemos e reduzir a força da liderança de Paulo Bornhausen no partido, o governador ainda prioriza a filiação ao Republicanos. Deve ser porque o número 10 rima com seu nome. Assim, se Hang for para o Pl, o caminho fica livre para a pragmática negociação com os universais – e a conta é o peso dos candidatos a deputado federal. Se o empresário levar o 10, Moisés avança na tomada do Podemos – que deve gerar defecções de nomes como Bornhausen e o deputado estadual Laércio Schuster para o União Brasil.
São duas novelas que devem ser encerrar nos próximos 15 dias: o partido de Hang e o partido de Moisés. Estão, no momento, entrelaçadas. E alçando dois partidos antes improváveis para projetos majoritários competitivos. Algo inimaginável em um Estado que desde o retorno das eleições diretas em 1982 e até a disputa de 2018 só havia elegido governadores de três partidos – os tradicionalíssimos Pmdb, Pds e Pfl – e seus derivados.
Sobre a foto em destaque:
Moisés e seus milhões, de olho no Republicanos e no Podemos para disputar a reeleição. No primeiro, concorre com Luciano Hang. No segundo, precisa desalojar adversários. Foto: Júlio Cavalheiro, Secom.