Semana que vem, dia 10 de novembro, o tabuleiro político de 2022 ganha uma peça importante e cujo impacto dos movimentos ainda é difícil de prever. O ex-juiz Sérgio Moro, ícone da Operação Lava-Jato e responsável pelo período em que o ex-presidente Lula (Pt) ficou preso entre abril de 2018 e novembro de 2019, vai se filiar ao Podemos e terá o nome colocado pelo partido como pré-candidato à presidência da República. Ingressa, assim, no clube que mais cresce no Brasil – o de postulantes a ser a candidatura de terceira via no cenário hoje polarizado entre o ex-presidente que de quem ele foi algoz e o presidente Jair Bolsonaro (ex-Psl), de quem foi ministro e rompeu alegando cerceamento.
Nas pesquisas eleitorais realizadas até agora – e hoje saiu uma do Ipespe, ex-Ibope -, Moro não impressiona. Vai um pouco melhor que os tucanos João Dória e Eduardo Leite e que o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Democratas, futuro União Brasil), empatando com Ciro Gomes (Pdt) na faixa dos 10% de intenções de voto. O ex-juiz viveu momentos complicados desde o rompimento com Bolsonaro, a quem acusou de exigir mudanças no comando da Polícia Federal para interferir em investigações. Moro já era hostilizado pelos petistas e pela esquerda em geral por conta da prisão de Lula e da relação pouco institucional que manteve com o Ministério Público Federal naquele processo – revelada pelo vazamento de conversas no Telegram. A partir daí, passou a ser apontado como traidor pelos bolsonaristas. Nas redes, apanha dos dois lados.
A entrada de Moro no jogo traz de volta para o cenário o chamado partido da Lava-Jato, que aderiu a Bolsonaro em 2018, especialmente quando o ex-juiz aceitou ser ministro da Justiça, em novembro daquele ano. O sentimento lavajatista que permeou o sentimento de antipolítica que ajudou a criar as condições para eleger o atual presidente está difuso, meio envergonhado, talvez. Não estava na conta que eles fizeram que o Bolsonaro se jogaria nos braços do Centrão no Congresso e ajudaria a afrouxar legislações como a Lei da Improbidade Administrativa. É nesse cenário que Moro ressurge e oficializa o Podemos como o partido da Lava-Jato. O discurso do combate implacável à corrupção – mesmo que nem sempre dentro das regras – volta à cena com ele e pode ter algum apelo eleitoral que os demais postulantes a alternativa ainda não conseguiram mostrar.
Para o Podemos, é uma mudança de patamar. Ter uma presidenciável colocar o partido na mesa de articulações políticas para 2022. Presidente nacional da legenda, a deputada federal Renata Abreu (Podemos de São Paulo) já tentara atrair o apresentador Luciano Huck e o governador gaúcho Eduardo Leite, sem sucesso. Com Moro, o partido ganha uma cara – que é muito mais eloquente quando cala do que quando fala, mas há tempo para melhorar esse quesito. Nas semanas anteriores ao anúncio da filiação, o ex-juiz já começava a se mexer com mais desenvoltura entre os presidenciáveis – especialmente Mandetta e Dória.
Em Santa Catarina, a presença de Moro também muda o patamar do Podemos, mas em termos ainda pouco calculáveis. Aqui no Estado, Bolsonaro não sofreu a perda de popularidade na dimensão verificada pelas pesquisas em outras regiões do país. Mesmo assim, o ex-juiz pode ser uma alternativa de discurso à direita daqueles que não querem ou não vou conseguir estar vinculados à reeleição do presidente. Aquela tentativa frustrada do governador Carlos Moisés de entendimento direto com Renata Abreu, sem passar pelos caciques locais, tem um pé nessa avaliação.
Um dado curioso é que o pré-candidato a governador do Podemos, Fabrício Oliveira – prefeito de Balneário Camboriú – é bolsonarista de carteirinha. É algo a ser equacionado. No comando do partido, o presidente estadual Camilo Martins e o presidente de honra Paulo Bornhausen estão animados com a filiação e possível candidatura de Moro.
Sobre a foto de destaque:
Sérgio Moro sorri para a pré-candidato a presidente da República. Foto: Isaac Amorim, Ministério da Justiça e da Segurança Pública.