Em pleno final de semana, o senador Jorginho Mello (Pl) mandou avisar que não tem vice definido. Pré-candidato a governador e aspirante a liderar a frente bolsonarista em Santa Catarina, o senador achou necessário conter os rumores de que já havia uma definição, prestes a ser anunciada, de que a deputada federal Angela Amin seria sua parceira de chapa, selando uma aliança com o Progressistas que reproduziria o núcleo duro da aliança entre liberais e progressistas – mas pode chamar de Centrão – que deve dar suporte à candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (Pl). Normalmente, rumores não atrapalham o final de semana de ninguém e a melhor medida é sempre ignorá-los. A reação de Jorginho mostra um incômodo que deve persegui-lo em 2022.
Até este final de semana, a possibilidade de que Angela Amin fosse vice de Jorginho sempre foi uma possibilidade costurada na trincheira do próprio Jorginho. Traria não apenas a adesão do Progressistas, um dos mais tradicionais e capilarizados partidos de Santa Catarina, como seria um aval do clã Amin – com a consequente retirada da pré-candidatura do senador Esperidião Amin ao governo. São dois entraves para o projeto do senador do Pl: a dificuldade de agregar partidos maiores a sua aliança e a presença de mais um nome a disputar a simpatia de Bolsonaro. Dessa forma, ter a deputada federal e ex-prefeita de Florianópolis na chapa era visto como uma boa equação.
Não a dos sonhos, porque a chapa preferida de Jorginho teria outro vice progressista: o prefeito de Tubarão, Joares Ponticelli. Acontece que Jorginho, Ponticelli e a torcida do Avaí sabem que qualquer composição com o Progressistas passaria pela família Amin. Assim, desde que Bolsonaro escolheu o Pl, Jorginho mandou sinais de gentileza ao clã, incluindo elogios públicos a Esperidião e Angela. Não passou disso até agora por pura falta de reciprocidade dos Amin. O rumor dos primeiros dias de 2022 era uma especulação que interessava mais a Jorginho do que aos Amin, por sinal. Além de Amin ser pré-candidato ao governo, o Progressistas hoje está mais próximo do governador Carlos Moisés (ex-Psl) do que o senador oposicionista. Amin também já declarou simpatia pelo governador, além de ter mantido conversas com outro pré-candidato a governador por quem também nutre declarada simpatia: o ex-governador Raimundo Colombo (Psd).
Nessa fila do apoio progressista, Jorginho está em quarto lugar – atrás do próprio Amin, Moisés e Colombo. Note-se que tanto Angela quanto Esperidião seguiram à risca a cartilha do que fazer com um rumor incômodo: ignoraram olimpicamente. O que faz, então, Jorginho correr às redes sociais para negar um rumor teoricamente é benéfico a seu projeto? Eis que surge o dilema que o senador vai ter que enfrentar ao longo de 2022: vai para o jogo como o político pragmático que é ou encarna o bolsonarismo anti-política que a militância mais inflamada do presidente Bolsonaro vai exigir que ele seja?
O rumor que Jorginho teria acertado com os Amin uma chapa para a eleição de outubro acendeu parte dessa militância bolsonarista que foi à redes do senador condenar a composição com a tradicional família de políticos. A demanda deve ser um bolsonarista orgânico e ligado às discussões ideológicas caras a essa militância. A barulho deve ter assustado Jorginho, a ponto de reagir, acalmando a tropa. Sem alianças tradicionais, tudo que o senador tem é a possibilidade de ser o candidato oficial de Bolsonaro e dos bolsonaristas em Santa Catarina. Não é pouco. A dúvida é se será suficiente em um segundo turno contra alianças mais estruturadas. De qualquer modo, foi ligado o alerta de que todo movimento que Jorginho fizer para compor com a tradição deve ter resistência interna e barulhenta.
Não que haja muita opção para Jorginho. Com Mdb, Psd e Psdb de portas fechadas, resta alguma fresta com o Progressistas, remota. Bolsonaro é seu esteio. É por isso que o senador até agora não foi às redes se manifestar sobre um fato concreto: o veto do presidente ao Relp – Programa de Reescalonamento do Pagamento de Débitos no Âmbito do Simples Nacional. Apresentada por Jorginho, a proposta previa a renegociação das dívidas de empresas do Simples Nacional e Microempreendedores Individuais (MEIs) e era sempre citada como uma das pautas do senador em favor de nichos econômicos de base ampla. Dias antes, Jorginho havia dito que convencera Bolsonaro a sancionar o projeto. Ficou pendurado no pincel.
Sobre a imagem em destaque:
Jorginho Mello no Twitter diz que não tem vice. Foto: Reprodução.