Poucos dias antes de 2021 terminar, escrevi aqui no Upiara Online que o senador Jorginho Mello (Partido Liberal) viveria um dilema ao longo deste ano nos movimentos para consolidar sua candidatura a governador do Estado. Um dos políticos mais longevos do Estado, com mandatos sucessivos de deputado estadual, deputado federal e senador, ele teria que equilibrar a política tradicional que sempre viveu para conquistar seus espaços e o bolsonarismo com quem se alinhou nos últimos anos. Não esperava que esse dilema se apresentasse tão rapidamente.

A semana passada terminou com reações internas no Partido Liberal (Pl) a esse dilema que Jorginho vive e vai viver cada vez mais. Ligados a um jeito mais tradicional de fazer política, o ex-prefeito criciumense Márcio Búrigo e o vice-prefeito tubaronense Caio Tokarski sinalizaram a saída do Pl em reação ao ingresso de nomes do chamado bolsonarismo como o deputado estadual Jessé Lopes e o deputado federal Daniel Freitas. Diante do ruído causado pelo ingresso de Jessé e possível saída de Búrigo, o Pl logo se apressou em emitir nota em que reforça a posição do ex-prefeito e diz que o deputado estadual não está filiado à legenda.

Búrigo escreveu uma longa nota em que se refere aos “liberais raiz”, dá o caso por superado e bota na conta da imprensa a iminente filiação de Jessé, chamando-a de fake news. Foi o que bastou para o próprio Jessé ir às redes sociais dizer que “chamar de fake news as tratativas de adulto que tive com o senador Jorginho, beira o ridículo e o desespero”. A palavra adulto em maiúsculas deve ter doído no sexagenário Márcio Búrigo, mas não é a primeira vez que ele e – especialmente – seu entorno correm atrás de jornalistas para anunciar a saída do ex-prefeito do Pl, sempre na tentativa de se cacifar diante do senador em disputas internas com os bolsonaristas. Aconteceu também em disputas internas com Júlia Zanatta.

Até o momento, Jorginho entrou em campo para adular o ex-prefeito e ficou o dito pelo não dito. Repete sempre que na política é necessário “ciscar para dentro” em vez de brigar. Está certo. Mas também é certo que talvez tenha que lidar com lideranças incompatíveis em seu projeto. O que acontece hoje na região de Criciúma com Búrigo e Jessé, logo vai para a região Oeste, com as faíscas que saem nas tentativas de compor as candidaturas da deputada federal Caroline de Toni (Psl) e da vice-governadora Daniela Reinehr (Pl) por uma vaga na Câmara dos Deputados. Candidata à reeleição, Caroline tem sido assediada pelo Republicanos, próximo de filiar o empresário Luciano Hang, das Lojas Havan, para uma candidatura solteira ao Senado.

A lógica política que Jorginho conhece e domina é a tradicional. É a construção de times eleitorais com vereadores, prefeitos e vices, deputados estaduais. Quem tem mais time, tem mais votos e ganha mais espaço e projeção para voos maiores. Este é o melhor momento político da vida do senador. Mas sua principal aliança é com lideranças que chegaram ao poder sem trilhar esses caminhos tradicionais – a turma da onda. Seus mandatos vieram e devem ser renovados por alinhamento de discurso com o presidente Jair Bolsonaro (Pl). Talvez a grande dúvida da eleição de 2022 em Santa Catarina é se essa cruza entre a política tradicional e os bolsonaristas vai gerar filhotes.


Sobre a foto em destaque:

Jorginho Mello no plenário do Senado. Foto: Edilson Rodrigues, Agência Senado.

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