O governador Carlos Moisés (ex-Psl) começa 2022 com um dilema importante para resolver se quiser ser mais do que um cometa na política catarinense. A escolha do partido em que vai disputar a reeleição este ano vai deixar claro o quanto o coronel aposentado do Corpo de Bombeiros rendeu-se ao pragmatismo político ou ainda prefere apostar na própria intuição e na confiança daqueles que estavam com ele na gênese dessa história, quando um grupo de desconhecidos tomou conta do Psl para montar uma legenda alicerçada na então aposta Jair Bolsonaro (ex-Psl, hoje Pl).
Na quarta-feira, Moisés vai se reunir com uma espécie de conselho político do governo estadual – com nomes da Casa Civil e da Administração, entre outros. A pauta é administrativa, mas obviamente o tema do novo partido entrará na conversa. O governador sinalizou o desejo de acertar a nova filiação ainda em janeiro e essa é uma das principais lacunas para que o quadro eleitoral catarinense comece a encaixar.
As opções são claras. O Mdb, através da bancada estadual, abriu o jogo e não esconde mais de ninguém que pretende estar no projeto de reeleição de Moisés. Isso já foi até assimilado por figuras que pretendem enfrentar o governador – ou, no mínimo, estar em outro projeto. O que se diz na bancada é que ainda não está fechada a equação para esse apoio.
Se Moisés quiser ser o candidato do próprio Mdb, são mais do que boas as chances de construção. No entanto, há um entrave claro e relevante: Moisés.
O governador tem dito e repetido a aliados próximos que não quer entrar em um partido tradicional, enraizado, com várias lideranças e as naturais disputas internas. O comandante quer comandar. Isso não acontece se ele optar pelo Mdb ou mesmo pelo Psdb, outra legenda de porte que andou lhe abrindo as portas. Moisés quer o apoio e a aliança, mas quer estar em uma legenda em que reconheça seu time, seus homens de confiança, aqueles que vieram com ele em 2018 e os que se acoplaram.
Tem como aliado nessa estratégia Lucas Esmeraldino – o ex-vereador tubaronense que pegou o Psl praticamente vazio em 2018, construiu as chapas de deputado estadual e federal, improvisou uma chapa de governador e vice e focou tudo na disputa de uma vaga no Senado que lhe escapou por 17 mil votos. Ele quer repetir a história com o pequeno Avante. Desta vez não com um candidato a presidente que se revelaria um bilhete premiado, mas teria no lugar um governador no exercício do cargo. Em vez de senador, almeja uma vaga na Câmara dos Deputados.
O problema é que com o Avante, fica muito difícil convencer Mdb e outros partidos a aderirem. Eis o dilema e o labirinto de Moisés.
O pragmatismo político manda abraçar o Mdb e seguir os conselhos dos aliados que há poucos meses tentaram apeá-lo do cargo. No 15 ou no 45, Moisés teria condições de construir uma aliança mais robusta, convencer grandes e médios partidos a seguirem no projeto iniciado quando o primeiro impeachment foi soterrado, no final de 2020. Uma parceria que começou com estranhamento, mas fez deslanchar o governo e gerou uma agenda positiva que possibilita a própria ideia de reeleição.
A intuição e a lealdade aos antigos companheiros e aos próprios princípios manda apostar na queda do segundo raio no mesmo lugar. A escolha por um partido como o Avante, sem tradição, sem história, sem peso, mas anabolizado pela presença de um governador que conseguiu se aproximar suprapartidariamente dos prefeitos catarinenses pela divisão dos recursos que abundam no caixa estadual como nunca antes.
O ex-governador Luiz Henrique da Silveira sempre diferenciava as eleições como “morro abaixo” e “morro acima” e fazia de tudo para não precisar subir os morros eleitorais. O dilema de Moisés evoca a metáfora do ícone emedebista. Qual dos caminhos sobe, qual dos caminhos desce? É o dilema de Moisés.
Vamos ver como o comandante sai desse labirinto.
Sobre a foto em destaque:
Moisés cochicha com a mulher Késia no evento de lançamento do Plano 1000. Em primeiro plano, desfocado, o secretário Eron Giordani, da Casa Civil, aplaude. Foto: Julio Cavalheiro, Secom.