É barulho ou é construção? A política catarinense ficou de olhos voltados para Chapecó nos últimos dias. O prefeito João Rodrigues (Psd), de Chapecó, lançou o desafio: se o prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro (Psdb) topasse ser renunciar para ser seu vice, ele encarava também deixar o cargo para concorrer a governador. Para completar a equação, o empresário Luciano Hang, das Lojas Havan, seria o candidato a senador pelo Progressistas. É o surgimento de uma tríplica aliança com tintas bolsonaristas ou o maior balão de ensaio pré-eleitoral de Santa Catarina? Clésio foi a Chapecó na sexta-feira e ambos gravaram vídeo para o jornalista Marcelo Lula dizendo que estava tudo certo entre eles, mas que faltava acertar detalhes. Ambos vão esperar a volta de Hang de viagem à Italia, nesta segunda-feira, para avançar – ou não – o projeto.

Diga ao povo que…

Quase ao mesmo tempo, o vereador Nícola Martins (Psdb) – líder do governo Clésio Salvaro na Câmara de Criciúma – lançou a campanha #ficasalvaro, como reportou Maga Stopassoli. Pode ser a semente da desistência. Ou, quem sabe, o tucano foi convidado para ajudar no barulho que veio do Oeste. Em todo caso, essa novela – minissérie, talvez – deve acabar até o fim da semana.

Atentos

De qualquer forma, o movimento deixou muita gente de olho. Lideranças bolsonaristas como o deputado estadual Sérgio Lima (Pl) fizeram postagens nas redes sociais relacionando João Rodrigues ao deputado estadual Júlio Garcia (Psd). Outros preferiram duvidar. Com o deputado estadual Ivan Naatz (Pl).

Eduardo Leite de olho em SC e vice-versa

O governador Carlos Moisés fez escola: no Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (Psdb) anunciou que também vai colocar meio bilhão de reais dos cofres estaduais para acelerar obras nas rodovias federais gaúchas. A turma de lá viu no gesto mais uma tentativa de ganhar visibilidade para a eleição presidencial. O gaúcho ainda não confirmou se renuncia ao cargo e se troca mesmo o Psdb para Psd de Gilberto Kassab. Aqui no Estado, quem torce pela filiação é o ex-governador Raimundo Colombo (Psd). Além de ambos terem perfis semelhantes, poderia fazer Gilberto Kassab ter um bom argumento para vetar a composição bolsonarista pregada por João Rodrigues.

A fala de Lula

Em mais uma entrevista da série Presidenciáveis, da Rádio Som Maior, eu e o Adelor Lessa ouvimos o ex-presidente Lula (Pt) na última terça-feira. No final da entrevista, perguntei qual era a avaliação dele sobre a perda de votação do Pt em Santa Catarina desde 2006 e a constatação de que Santa Catarina é um dos Estados mais bolsonaristas do Brasil. Lula foi direto ao dizer que o PT catarinense se perdeu em disputas internas e colocou o dedo em uma ferida antiga: o Pt catarinense errou ao não participar do governo Luiz Henrique da Silveira (Pmdb), após ajudar a elegê-lo em 2002. Essa frase deixou muito petista catarinense descontente…

Na trave

Colombo deve ficar no desejo. Eduardo Leite deve anunciar nesta segunda-feira a renúncia e a permanência no Psdb.

Aquele abraço

Antes de ser palco do aniversário de João Rodrigues, Chapecó sediou reunião do Codesul. Valeu o registro de três personagens políticos da semana: o ex-governador Eduardo Pinho Moreira, o atual governador Carlos Moisés e o postulante a sucessor João Rodrigues. Foto: Maurício Vieira, Secom.

Fora de casa

Na semana que passou, o prefeito Antídio Lunelli (Mdb) recebeu o vice Jair Franzen (Mdb) para tratar da renúncia do primeiro ao cargo para poder concorrer nas eleições deste ano. Até aí, tudo normal. O inusitado foi que o vice-prefeito precisou vir a Florianópolis para fazer a reunião. Pré-candidato ao governo sob muitas desconfianças de que consegue colocar o projeto em pé, Antídio não para em casa.

A pauloafonsização de Eduardo Pinho Moreira

Por falar em Mdb, o ex-governador Eduardo Pinho Moreira desistiu de concorrer a deputado estadual e botou parte da culpa justamente no projeto Antídio Lunelli e na condução dada ao partido pelo presidente estadual Celso Maldaner. A entrevista eloquente e cheia de adjetivos doloridos para os adversários mostra que Pinho Moreira passa por um processo que o ex-governador Paulo Afonso Vieira já conhece dentro do Mdb. É aquela fase em que a falta de expectativa de mandato transforma a liderança histórica em um comentaristas de luxo: ouvido, repercutido, mas sem força para influir nos destinos do partido.

Eu sou você, ontem

Embora estejam em campos opostos dentro do Mdb, é possível dizer que Pinho Moreira sabe o que Antídio está passando. Em 2010, ele viveu essa condição de ser o pré-candidato oficial do partido, referendado em uma prévia (nesse caso, a prévia até aconteceu, com vitória dele sobre Dário Berger), sob desconfiança dos políticos de que conseguiria ser mesmo o candidato e sendo alvejado pelo fogo amigo dos caciques emedebistas – Luiz Henrique da Silveira, na época, preferia a composição com Raimundo Colombo (ainda no Democratas).

Apontando essa similaridade, perguntar ao ex-governador se ele tinha algum conselho para Antídio. Eis a resposta:

Espírito público não é dizer “eu posso”, “eu quero”, a todo custo. Claro que a vontade pessoal conta muito, mas tem que pesar as consequências da tua decisão. Naquela época o Luiz Henrique não queria minha candidatura. Ele queria trazer o Raimundo Colombo, queria ser o senador mais votado da história. Aquelas coisas que vocês conhecem e que me levaram a um isolamento e eu tomei aquela decisão no penúltimo minuto, no entendimento com Raimundo Colombo. O que aconteceu naquela época? O Pmdb veio para o governo Raimundo Colombo para ter muito força. Houve uma negociação política e ele cumpriu todos os compromissos no primeiro mandato. No segundo a coisa foi um pouquinho pior. Mas eu representava um partido muito forte. O Antídio lá na frente talvez não tenha condições de fazer uma negociação política de alto nível. Ele vai ter que demonstrar espírito público. Espírito empresarial ele já demonstrou que tem. Um homem que saiu do nada e que ficou rico. Mas espírito público não é só isso. Lá na frente, espero que não demore muito, ele perceba essa condição e que não esteja mais isolado ainda, porque daí terá menor condição de negociação política.

Eduardo Pinho Moreira (Mdb), sugerindo, nas entrelinhas, que Antídio saia de fininho.

Túnel do tempo

Aliás, a vitória de Eduardo Pinho Moreira sobre Dário Berger nas prévias de 2010 completou 12 anos no sábado. A disputa estava linkada ao calendário eleitoral, já que Dário era prefeito de Florianópolis e precisaria renunciar até abril caso quisesse concorrer. Não precisou.

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