O que têm em comum o Estrada Boa, detalhado com estardalhaço na quinta-feira pelo governador Jorginho Mello (PL), e o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado com toda pompa pelo presidente Lula (PT) no dia seguinte? Ambos soam como grandes promessas de que agora, finalmente, vai. Mas, em si, não trazem grandes novidades em seus anúncios. Talvez as cifras envolvidas. Jorginho Mello (PL) com R$ 2,1 bilhões para tocar obras em 1,5 mil quilômetros de estradas estaduais – R$ 1,5 bilhão com origem em financiamento do BNDES. Lula com R$ 1,4 trilhão em investimentos em diversas áreas até 2026.
Quando a gente destrincha as obras apontadas por Jorginho Mello e o ouve o que diz Ricardo Grando (PL), secretário-adjunto da Infraestrutura e coordenador do programa Estrada Boa, fica claro que se trata, no fundo, de uma grande retomada das obras paralisadas ao final do governo Carlos Moisés (Republicanos). Há uma mudança clara de estratégia. No governo Moisés, vitaminado pelos recursos extras que abundaram à época, a ideia era fazer as obras com recursos do caixa estadual – havia até um grande orgulho nisso. O que se percebeu, também, foi que o governo teve dificuldade de vencer obstáculos burocráticos e as obras demoraram mais do que o previsto para começar. Algo que foi sentido no projeto de reeleição de Moisés.
O governo Jorginho retoma a antiga lógica – como se viu nos governos de Esperidião Amin (Progressistas), Luiz Henrique da Silveira (PMDB) e Raimundo Colombo (PSD) – de que obra se toca com dinheiro de financiamento. Foi isso que Jorginho prometeu e começa a tirar do discurso: conseguir um grande empréstimo para tocar todas as obras ao mesmo tempo. Bateu – sem fotografias, por favor – nas portas do governo Lula e conseguiu junto ao BNDES os recursos que viabilizam a empreitada. O diferencial, e torçamos para que dê certo, é a ideia apresentada por Grando de realizar contratos maiores com as empreiteiras, incluindo manutenção das rodovias – uma dificuldade histórica do Estado.
Mas novidade na lista de obras, não apareceu muito.
O Novo PAC também seguiu essa linha. Como o investimento público praticamente parou nos últimos anos, o que se percebe é mais uma grande reorganização do que novas obras. Dos R$ 1,7 trilhão que o programa promete para além de 2026, o quinhão de Santa Catarina seria em torno de R$ 48 bilhões. O valor compreende, entre outros investimentos, a retomada do programa Minha Casa Minha Vida, a adequação de rodovias federais no Estado, uma nova sede para o Instituto de Cardiologia e investimentos pulverizados em educação e saneamento básico. Convidado pelo governo federal, Jorginho Mello mandou o titular da Secretaria de Infraestrutura, Jerry Comper (MDB), como representante de Santa Catarina. Mais uma foto evitada.
Quando se olha para o detalhamento das obras no site da Casa Civil, não há prazos e nem cifras. Logo de cara, é possível perceber o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida como um pulverizador da presença do governo Lula pelos municípios. Estão previstas unidades do programa em 116 cidades catarinenses, um investimento previsto de R$ 4,3 bilhões. Ainda na casa dos bilhões, R$ 2,5 bi serão injetados para “garantir a diversidade da matriz energética, a soberania brasileira, a segurança e eficiência energética”. Ainda, mais R$ 2 bilhões para expandir o acesso à internet para escolas públicas, expandir a cobertura do 5G e levar o 4G para regiões remotas.
Quando se fala nas grandes obras de infraestrutura, no entanto, a lista de obras remete mais a Velho PAC do que a Novo PAC. Estão lá, onipresentes, as obras de duplicação nos quatro lotes da BR-470 já em andamento entre Navegantes e Indaial, assim como a duplicação da BR-280 entre São Francisco do Sul e Jaraguá do Sul, também em andamento. São citadas também obras pontuais de adequação nas BRs 163 e 282, a conclusão do eterno quilômetro faltante na BR-285, os investimentos de concessionárias nas BRs 101 e 116, entre outros. A expectativa é positiva pelo fato de que já se vê um bom ritmo nas obras em andamento, especialmente na BR-470.
Um alento na lista: estudos de concessão das BRs 153, 280, 282 e 470. Nesses estudos, estão previstas as rodovias estaduais SC-108, SC-110, SC-418 e SC-412. O governador Jorginho Mello tem dito desde a campanha eleitoral que não vai pedagiar as SCs. O Ministério dos Transportes de Renan Filho (MDB), assim como queria o Ministério da Infraestrutura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) no governo Jair Bolsonaro (PL), defende a inclusão de rodovias estaduais em blocos de concessão junto com as federais.
Esse é um ponto que vai precisar de diálogo entre Lula e Jorginho. Mesmo que sem fotografia.
Sobre a imagem em destaque:
Lula discursa no lançamento do Novo PAC, sexta-feira, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foto: Ricardo Stuckert, PR.