Uma coisa que 2018 ensinou – e talvez tenha ensinado ao próprio eleitorado – é que é possível rejeitar o cardápio de candidaturas oferecidas pelos partidos e grupos políticos tradicionais e apostar em algo diferente. A reboque da onda que elegeu Jair Bolsonaro presidente da República, nomes desconhecidos e/ou completamente descolados do jogo como Carlos Moisés (Santa Catarina), Romeu Zema (Minas Gerais) e Wilson Witzel (Rio de Janeiro) ascenderam aos governos de seus Estados.
A dúvida que fica é se a experiência de 2018 pode se repetir este ano ou se o eleitor vai procurar alguma normalidade. Witzel foi chutado do poder no Rio de Janeiro em um processo de impeachment. Moisés escapou duas vezes e precisou compor com o que chamava de velha política para continuar governador e ver deslanchar o governo. Romeu Zema, do Novo, foi quem enfrentou menos percalços e aparece com certo favoritismo na disputa pela reeleição.
Pois é justamente o Novo que tem a maior condição de ser o produto fora do cardápio na eleição catarinense do ano que vem. Nesta semana, deve ser oficializada a pré-candidatura de Odair Tramontin ao governo pelo partido. Promotor do Ministério Público Estadual (Mp-SC), ele ficou em terceiro lugar disputa pela prefeitura de Blumenau em 2020, quando ficou a menos de dois pontos percentuais de tirar o ex-prefeito e ex-deputado federal João Paulo Kleinübing (Democratas) do segundo turno que seria vencido por Mário Hildebrandt (Podemos). Deixou para trás dois deputados estaduais – Ricardo Alba (Psl) e Ivan Naatz (Pl) – a ex-deputada estadual Ana Paula Lima (Pt) e o ex-reitor da Furb, João Natel (Pdt).
O bom desempenho na disputa de 2020 colocou Tramontin no radar do partido para as eleições deste ano – para governo, Senado ou deputado federal. Os próprios futuros adversários observaram isso, porque passaram a incluir o promotor nas pesquisas internas com cenários de candidaturas ao governo. Apresentado como “Tramontin do Novo”, ele sempre aparece na casa dos 2%.
Inicialmente, o partido buscava o perfil do empresário outsider – a fórmula que deu certo em Joinville com a vitória do prefeito Adriano Silva e com o próprio Zema em Minas Gerais. Havia quem entendesse que Tramontin, servidor público da elite do funcionalismo não seria o perfil certo para a primeira candidatura do Novo a governador em Santa Catarina. Outros fatores, no entanto, compensavam essa aparente contradição. Tramontin foi testado em campanha eleitoral majoritária; tem tudo para ser o único candidato a governador com base em Blumenau, centro da região com maior eleitorado no Estado; encarna, como promotor aposentado, o discurso anti-corrupção que atrai o eleitorado que rejeita a política tradicional.
Tramontin terminou de ser convencido a encarar a empreitada em um almoço no sábado. Estavam lá o presidente estadual do partido Vinicius Loss, o deputado federal Gilson Marques e alguns dos vereadores eleitos pelo Novo em 2020 – Neto Peters (Joinville), Tuca Santos ( Blumenau), Rodrigo Livramento (Jaraguá do Sul), Cryslan (São José) e Lucas Gotardo (Balneário Camboriú) -, além da dirigente Fabíola de Castro, do Novo de Florianópolis. O deputado estadual Bruno Souza está de férias no Egito e a vereadora Manu Vieira, de Florianópolis, tinha um compromisso particular.
Oficialmente – e a gente sabe que o Novo tem suas burocracias e minúcias – a decisão ainda não está tomada. Nesta segunda-feira será realizada uma reunião do diretório estadual sobre o tema e as candidaturas inscritas. É provável que amanhã seja realizado o anúncio de que Tramontin será candidato a governador e que o nome para o Senado é Rodrigo Rossoni, presidente da Acif (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis).
Assim, Tramontin surgirá como opção de candidatura fora da tradição política, conservadora nos costumes e liberal na economia e prometendo um governo diferente. Era o discurso de Moisés em 2018 – além, é claro, da carona do 17 de Bolsonaro. Se o raio cair duas vezes no mesmo lugar, o lugar provavelmente será esse.
Correção: O texto original apontava incorretamente que Odair Tramontin estava aposentado da função de promotor do Mp-SC. na realidade, ele continua na ativa. Licenciou-se para disputar as eleições de 2020 e depois retomou o cargo.
Sobre a foto em destaque:
Almoço no sábado reuniu Odair Tramontin, ao centro, com mandatários e dirigentes do Novo catarinense. Sentados: deputado federal Gilson Marques, Tramontin e o vereador Neto Peters (Joinville). Em pé: vereador Tuca Santos, Fabíola de Castro (dirigente do Novo de Florianópolis), Vinicius Loss (presidente estadual) e os vereadores Rodrigo Livramento (Jaraguá do Sul), vereador Cryslan (São José) e Lucas Gotardo (Balneário Camboriú). Foto: Divulgação.