Passei as duas últimas semanas dizendo mais ou menos a mesma coisa para quem me perguntava se a convenção do Mdb definiria apoio à reeleição de Carlos Moisés (Republicanos) ou candidatura própria com Antídio Lunelli.
– Se nove deputados estaduais e 82 prefeitos perderem uma eleição entre 500 colegas de partido, será um vexame histórico. E um sinal de que talvez não seriam mesmo úteis em uma eleição aberta com mais de 5 milhões de catarinenses.
A lógica é um refúgio quando as informações estão desencontradas. Após mais de um ano percorrendo o Estado como pré-candidato ao governo, Antídio Lunelli ganhou força junto às bases partidárias e, especialmente, àqueles que não tem mandatos – e, por isso, são menos suscetíveis à força da máquina do governo estadual, canalizada dentro do Mdb pelas mãos dos deputados estaduais e prefeitos. As indicações iniciais eram de vitória, como também eram na prévia marcada para 15 de março e que não aconteceu por desistência dos adversários Valdir Cobalchini e Dário Berger (hoje no Psb).
O jogo começou a virar internamente com a escolha do ex-prefeito joinvilense Udo Döhler para ser o vice de Moisés em caso de composição. Não porque ele representasse hoje uma força interna do partido ou pela imagem do empresário austero na política que marcou sua passagem pela prefeitura de Joinville, de onde saiu com baixa popularidade. Mas Udo Döhler deu uma cara para os governistas na disputa e a transformou em um tira-teima do Norte do Estado. Antídio Lunelli reagiu mal à perda do aliado, que chegou a convidar para ser conselheiro da campanha e agora acusa de traição.
Nos dois dias que antecediam a convenção, a lógica começou a se afirmar sobre o imponderável. A bancada estadual entrou em campo, o governismo rugiu. E poucas legendas tem ouvidos tão apurados para ouvir e respeitar o governismo como o Mdb. Nesse trabalho de pressão junto às bases, dois deputados estaduais se destacaram: Jerry Comper e Luiz Fernando Vampiro. O primeiro talvez seja o mais fiel a Moisés dentro do Mdb. Sempre perfilou na banda governista da bancada, mesmo quando a maioria queria derrubar o governo. Votou a favor dos impeachments contrariado, sempre trabalhando internamente para que a bancada mudasse de lado – havia um acordo para que os nove votos fossem iguais. Vampiro era um dos contrários. Após o primeiro impeachment ser derrotado, acabou aceitando compor como secretário de Educação e hoje é entusiasta do governo de que participou.
Na convenção do partido, na manhã e tarde de sábado, todos evitavam cravar placares, mas concordavam que tendia a ser uma disputa acirrada. Um parlamentar lamentava que o time governista tivesse demorado a entrar em campo. Antídio mostrava preocupação, criticava ameaças, demissões e o onipresente pix – o apelido jocoso dado a transferência de recursos do governo para os municípios de forma simplificada aprovada pela Assembleia Legislativa em 2021. Levou esse tom para o discurso na tribuna para uma plateia inflamada e uniformizada em torno de sua campanha.
O barulho foi ficando menor conforme os votos iam sendo apurados. Foram depositados na urna 476 votos de 437 convencionais – um recorde de comparecimento nas convenções emedebistas citado pelo presidente estadual em exercício Edinho Bez ao abrir a apuração. Com menos de 100 votos contabilizados já era possível vislumbrar a vitória da aliança com Moisés, comemorada timidamente e muito vaiada no final da apuração.
No fim das contas, Antídio tinha mais apoiadores com camisetas do que com crachás de delegado, que é o que realmente conta. Isso não apaga o mérito de ter conquistado quase 40% dos votos contra a máquina governista, a maioria absoluta dos prefeitos e toda a bancada estadual do partido. Tinha a seu lado, claramente, o deputado federal Carlos Chiodini e diversos pré-candidatos a deputado estadual e federal hoje sem mandato – além da posição dúbia de Celso Maldaner, que venceu Rogério Peninha na disputa pela vaga de senador por uma margem mais estreita do que a vitória de Udo sobre Antídio.
Não existe nada na política de Santa Catarina igual a uma convenção do Mdb. É uma espécie de encontro de família, com muitas afinidades, mas muitas contas a acertar. E elas são acertadas na frente de todos, voto a voto. Nenhum outro partido se expõe assim. As expectativas iniciais davam conta de uma vitória apertada para Antídio ou Moisés na disputa pelo governo e que Maldaner teria facilidade contra Peninha. Deu-se o contrário. A base falou. Agora, a dúvida que fica é se os emedebistas vão seguir a tradição de quebrar os pratos em público antes da eleição e marchar juntos depois – mesmo que alguns marchem de boca calada.
Sobre a foto em destaque:
Na convenção do Mdb, todo mundo de olho na apuração voto a voto. Foto: Divulgação.