Assim que as urnas do primeiro turno mostraram quem conseguiu sobreviver aos humores do eleitorado e renovar os mandatos na Assembleia Legislativa, além de apresentar os novos rostos do parlamento catarinense, começou uma nova disputa, desta vez pelo comando da Casa. E se o eleitor deu ao Partido Liberal (Pl) de Jair Bolsonaro e Jorginho Mello uma superbancada de 11 integrantes, a política reage para garantir algum equilíbrio na correlação de forças do Estado. A presidência da Alesc é o embate silencioso que acontece dentro dos limites do Palácio Barriga Verde.
Antes de mais nada, é importante ponderar os efeitos da renovação de 16 das 40 cadeiras do parlamento estadual – o equivalente a 40%. Essa renovação veio na esteira da movimentação de dez deputados estaduais da atual legislatura que concorreram a outros cargos e de três que preferiram não disputar as eleições. Concorrer à reeleição e não renovar o mandato, apenas três: Felipe Estevão (União), Laércio Schuster (União) e João Amin (Progressistas).
Quem mais se beneficiou das vagas aberta foi o Pl, que reelegeu seus sete parlamentares e incorporou mais quatro novatos à bancada. Para contextualizar o peso dessa bancada, basta lembrar que desde 2006 um partido não conseguia conquistar 11 cadeiras na Alesc – o último havia sido o Pmdb na reeleição de Luiz Henrique da Silveira ao governo, primeira eleição da tríplice aliança com Pfl e Psdb. A envergadura da bancada do Pl faz com que desponte como favorita para liderar a Casa, mas gera também os efeitos de uma lei que muitas vezes prejudicou as antigas superbancadas emedebistas: não existe direito natural na Alesc, tudo precisa de acordo.
Agora, é o Mdb que pode se beneficiar dessa regra não escrita. Enquanto a bancada do Pl discute internamente os possíveis nomes para comandar a Alesc – a recordista Ana Campagnolo, os experientes Maurício Eskudlark e Nilso Berlanda e o jorginhista fiel Marcius Machado -, ganha corpo no parlamento uma costura para colocar um nome da bancada emedebista, a segunda da Casa com seis integrantes, para equilibrar o poder do Estado. Na Alesc, é dado como certo que Jorginho Mello (Pl) vai vencer o segundo turno contra Décio Lima (Pt). Assim, o movimento não apenas tira o partido do possível futuro governador do comando do parlamento, como também blinda a agenda da Casa da interferência direta da ala mais ideológica do partido.
O nome que desponta como favorito é do deputado estadual reeleito Mauro de Nadal (Mdb), que presidiu a casa em 2021 – no ano seguinte, renunciou para cumprir acordo de divisão de mandato com o atual presidente Moacir Sopelsa (Mdb), que não concorreu à reeleição. Além dele, é citado o deputado estadual reeleito Marcos Vieira (Psdb), um dos mais experientes da Alesc. Pesa a favor de Nadal, no entanto, o tamanho da bancada – os tucanos têm apenas dois representantes.
O jogo da presidência da Alesc tem uma rotina clara desde os anos 2000, quando acabou o voto secreto na disputa: quando alguém consegue confirmar 21 apoios, acaba a disputa e começa a composição. Ninguém quer ficar fora da mesa diretora ou perder espaço em comissões por causa de uma disputa perdida. É essa construção que está em andamento. Neste momento, Mauro de Nadal tem tudo para voltar ao comando Casa.
Sobre a foto em destaque:
Os retratos dos ex-presidentes dando uma passeada pelo plenário em uma sessão de homenagem em 2013. Foto: Agência Al, Divulgação.