O governador Carlos Moisés (Republicanos) mostrou que anda afiando o discurso de candidato à reeleição na entrevista exclusiva que concedeu na manhã desta sexta-feira à Rádio Som Maior – reproduzida no Plenário Podcast. É perceptível que somou às falas já conhecidas sobre repasses de recursos para obras nos municípios e ações outras de governo a respostas mais contundentes em temas polêmicos como a operação desastrada na compra dos respiradores fantasmas e o uso supostamente exagerado de aeronaves oficiais – vacinas para a campanha eleitoral que se avizinha. Ou seja, também na fala o personagem do Comandante Moisés, eleito em 2018, começa a ressurgir.
Para o contexto pré-eleitoral, no entanto, as falas mais importantes tem relação com a novela da disputa pelo apoio do maior partido do Estado, o Mdb, ao projeto da reeleição. O partido vive dias que contrariam a frase feita de que depois da tempestade vem a bonança. Neste momento, o partido vive uma tempestade interna surgida logo após a executiva e o diretório estadual do partido indicarem apoio à reeleição do governador. Uma tempestade gerada pela reação de Antídio Lunelli, pré-candidato a governador da legenda, ao ser rejeitado como nome para vice-governador na chapa. A última trovoada foi o pedido de intervenção nacional no partido solicitada por Antídio por causa da participação de deputados estaduais, prefeitos e do presidente em exercício do Mdb-SC na festa de lançamento da pré-candidatura de Moisés à reeleição, sábado passado.
Antídio dá sinais de que se prepara para guerra criando fatos e factoides que reforcem a vitalidade de sua candidatura. É difícil imaginar que o presidente nacional do Mdb, o deputado federal paulista Baleia Rossi, promova intervenção em um dos mais fortes e tradicionais diretórios estaduais do partido. Como Baleia Rossi vai justificar se intrometer nas questões emedebistas de um Estado em que o partido tem 98 prefeitos, nove deputados estaduais e três federais, quando o Mdb de São Paulo, Estado dele, tem 52 prefeitos, três deputados estaduais e dois federais? É um pedido natimorto, mas que gera reboliço e especulações de bastidor.
Moisés ignorou a tempestade e botou em pratos limpos o que oferece e o que espera do Mdb. Deixou claro que a proposta envolve as vagas de vice-governador e de senador, sem conjecturar possibilidade de ceder vaga a outra legenda ou candidaturas múltiplas de senador. Mesmo quando diz que ainda deseja ter o apoio do Psdb e do Progressistas (Pp), ressalta que os espaços que podem ser ocupados por essas legendas são as suplências de senador e, especialmente, posições no segundo mandato, se houver, a atendimento a projetos regionais de interesse partidário.
– A gente quer fazer uma composição vitoriosa, uma composição que seja importante para o resultado final. Espaço para outros partidos como o Psdb, o próprio Pp. A gente não descarta ninguém. Vejo que há espaço para todo mundo. Alguém pode dizer que é como água e óleo, não se misturam. Mas são partidos que hoje participam do governo, que governam comigo e me dão sustentação lá na Assembleia Legislativa. Não são só duas vagas na majoritária. São duas suplências do Senado, espaços de participação no governo e também projetos importantes que podem ser estabelecidos através do interesse público em cada região. Está para além da participação pessoal – disse Moisés.
Sobre o vice emedebista que deseja, Moisés também abriu o jogo. Embora ainda cite o presidente da Assembleia Legislativa, Moacir Sopelsa, e o deputado federal Carlos Chiodini, foi claro ao apontar as qualidades para a função do ex-prefeito joinvilense Udo Döhler. Vou deixar que o próprio Moisés diga:
– É uma liderança importante dentro do Mdb e ao mesmo tempo um empresário respeitado na região de Joinville, uma região importante, maior cidade em número de habitantes. O prefeito Udo é uma liderança respeitada e compõe conosco um belo nome para essa chapa.
A construção do nome do Udo Döhler para a vaga de vice já começou. Primeiro, com uma conversa franca entre o ex-prefeito e Antídio Lunelli – que chegou a convidá-lo para ser consultor da campanha no início do ano. Nessa conversa, Antídio disse que vai para a guerra e ouviu de Udo que não fará nada que rache o partido. Dali pra frente, passaram a seguir caminhos próprios. Udo tem conversado com Moisés frequentemente e na terça-feira será recebido pela bancada estadual do partido, onde deve ser referendado como o nome para compor com Moisés. A tempestade emedebista ainda terá muitas trovoadas até a convenção, marcada para dia 23 de julho.
Saindo da esfera partidária e voltando para o discurso de candidato à reeleição, a entrevista de Moisés também serviu para mostrar como ele pretende se posicionar em relação ao presidente Jair Bolsonaro (Pl), gerador da onda eleitoral que carregou o desconhecido comandante da reserva do Corpo de Bombeiros para uma acachapante vitória eleitoral em 2018. Desta vez, Moisés quer andar com as próprias pernas e pretende estadualizar ao máximo a campanha – sequer pretende declarar voto na eleição presidencial. Lembrou a entrevista que fiz com ele na primeira semana da campanha eleitoral de 2018, no Diário Catarinense, quando disse não ser “um mini-Bolsonaro” para ressaltar que continua não sendo.
– Quem governar o Brasil, nós vamos caminhar juntos. Assim como estamos caminhando. Eu me dou ao direito de não influenciar pessoas. Penso que o catarinense vai fazer sua escolha, o Brasil vai fazer sua escolha. E nós vamos disputar o governo do Estado. Não queremos ser carregados e nem carregar ninguém.
Sem Bolsonaro, com o Mdb, o comandante começa a apresentar sua nova versão eleitoral.
Ouça a entrevista:
Sobre a foto em destaque:
Governador Carlos Moisés começa a mostrar o discurso de campanha. Foto: Ricardo Wolffenbüttel, Secom.