Na disputa pelo comando da Assembleia Legislativa que promete ser a mais eletrizante desde o fim do voto secreto, nos anos 2000, o parlamento vive uma semana de definições, blefes e cartas na mesa. Diante dos rumores de que o deputado estadual reeleito e ex-presidente da Casa, Júlio Garcia (Psd), poderia entrar no jogo da sucessão, o Partido Liberal, maior bancada, definiu na terça-feira com o governador eleito Jorginho Mello (Partido Liberal), o apoio à candidatura do deputado estadual reeleito Zé Milton Scheffer (Progressistas). A reação à reação liberal veio ainda ontem à tarde: Júlio Garcia e Mauro de Nadal (Mdb), também candidato a presidente, mostraram força com a definição de quatro blocos partidários que, juntos, somam 26 dos 40 votos da disputa pela presidência.

Assim, em questão de horas, Mauro de Nadal voltou a ser favorito para comandar o parlamento estadual entre 2023 e 2025 e deixou em situação muito desconfortável as bancadas do Partido Liberal (Pl) e do Progressistas (Pp). Na manhã de ontem, o líder do Pl, Ivan Naatz, comemorava nas redes sociais um arco de apoio à candidatura de Zé Milton e, por tabela, ao governo Jorginho, de 23 parlamentares – que poderia chegar a 27. Foi a senha para a contra-articulação de Júlio Garcia e Nadal. Foram acertadas as formação de blocos partidários entre o Mdb e o Psdb (oito deputados), entre o Psd, o União Brasil e o Ptb (sete deputados) e entre o Pt, o Pdt e o Psol (seis deputados). Eles se somam ao bloco já anunciado entre Podemos, Republicanos e Novo (cinco deputados) e deixam mais blocada a disputa. Mas, principalmente, colocam na mesa quem está com quem nesse momento.

A composição desses blocos foi feita levando em conta uma precisa aritmética regimental que garanta o menor espaço possível ao Pl e Pp nas comissões, especialmente as de maior peso, com as de Constituição e Justiça e de Finanças. Maior bancada, o Pl terá direito a duas das nove cadeiras dessas duas comissões – mas poderia ter três vagas dependendo da configuração dos blocos. Como foi desenhado, terá o mesmo peso dos blocos Mdb/Psdb e Psd/União/Ptb, com duas cadeiras cada. O Pp ficaria isolado, ocupando as vagas que são destinadas às minorias.

O movimento coloca as cartas na mesa. Se insistir na disputa, Pl e Pp estarão fora da mesa diretora e alijados das presidências das comissões. Nadal e, especialmente, Júlio Garcia, mostraram força. Na segunda-feira, antes da diplomação dos eleitos, esse grupo de deputados deve se reunir para bater o martelo sobre posições na mesa e nas comissões. O cenário é de vitória tranquila de Nadal. Em caso de alguma reação liberal que reemparelhe a disputa, Júlio Garcia pode voltar a ser opção. Por enquanto, ele está na posição que mais lhe agrada: distribuindo as cartas.

Todo esse cenário acabou sendo viabilizado pela própria postura de Jorginho Mello na transição. Ao mesmo tempo em que não procura os partidos, especialmente o Mdb, para tratar de participação no governo, age para influir na eleição interna do parlamento estadual. A conta não fecha. Os nomes anunciados pelo governador eleito até agora mostram que ele está disposto a fazer um secretariado com a sua cara e se valendo da condição de ter sido eleito sem alianças – contra todos estes que agora querem conversar com ele. A próxima leva de secretários anunciados deve ter esse mesmo perfil.

Em algum momento, Jorginho Mello terá que decidir se será o político experiente e matreiro, que entende o jogo político e a articulação parlamentar, ou se será o eleito disposto a se vingar de todos os políticos e partidos que desdenharam de sua candidatura antes das eleições. Não dá para ser as duas coisas.


Sobre a foto em destaque:

Zé Milton e Naatz contavam com 23 votos na manhã de quarta-feira. À tarde, Júlio Garcia e Nadal mudaram o jogo. Foto: Bruno Collaço, Agência Al.

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